Paraolimpíadas

Argentino apanhava do pai e passou fome. Agora é medalhista paraolímpico

Pilar Olivares/Reuters
Argentino Hernan Barreto, medalha de bronze nos 200m rasos, classe T35 imagem: Pilar Olivares/Reuters

Bruno Braz

Do UOL, no Rio de Janeiro

A violência doméstica se fez presente na vida de Hernán Barreto, velocista paraolímpico argentino que ganhou medalhas de bronze nos 100m e 200m da classe T35 (paralisados cerebrais) na Rio 2016.

Na infância pobre em Zárate, na província de Buenos Aires, ele viu seu pai se afundar no álcool na mesma proporção que aumentava a agressividade. Por diversas vezes, Hernán foi agredido fisicamente, em algumas ocasiões até com ferimentos.

Com sequelas de uma paralisia cerebral, o atleta também foi humilhado psicologicamente pelo progenitor em virtude das limitações impostas pela doença.

“Minha infância foi dura. Eu tinha um pai que me batia, que me maltratou física e psicologicamente”, disse ao UOL Esporte.

A dura realidade dentro de casa não era menos difícil que as condições financeiras em que se encontrava. Em algumas ocasiões, Barreto só tinha pão e leite para se alimentar durante todo o dia. Em outras, sequer um alimento.

Os obstáculos, porém, não fizeram Hernán desistir. O jovem se agarrou ao atletismo e nele viu sua vida se transformar.

“Fui me dedicando à carreira até começar no esporte de alto rendimento. Fui bronze em Londres e agora ganhei duas medalhas aqui no Rio. Para mim, a medalha que tenho serve de exemplo para as crianças. Quero que elas vejam que, com esforço e capacidade, pode-se chegar lá. Para os outros nós temos uma dificuldade, mas nós não vemos desta forma. Nós treinamos da mesma forma que os convencionais e merecemos os mesmos valores que eles”, declarou.

Embora não tenha mais convívio com o pai, sustenta hoje a mãe, os seis irmãos, a esposa Tamara e a filha Naila, fruto das três medalhas de bronze nas Paraolimpíadas (duas no Rio e uma em Londres), um bronze em Mundial e três ouros parapan-americanos.

“Por minha filha eu faço tudo. É o que eu tenho de mais importante na minha casa. Por ordem está minha filha, minha esposa e depois a medalha que eu ganhei (risos)”.

Inspirou brasileiro que foi prata

Nos 200 metros em que ganhou o bronze, Fábio Bordignon foi prata. Após a prova, o brasileiro fez questão de dizer que o argentino o inspirou.

“Eu sou fã desse cara. Assistia os vídeos dele e, com certeza, ele me inspirou, além de ser muito gente boa”, disse.

Hernán se mostrou grato pela consideração de Fábio:

“Ele (Fábio) comentou. Para mim é um orgulho ser exemplo para o Fábio. Na verdade ele é uma excelente pessoa e um excelente desportista. É algo muito significante. Fico muito feliz por ele”.

O argentino, aliás, fez questão de frisar que não há esse clima de rivalidade entre os países na Paraolimpíada.

“Preciso frisar uma coisa: no esporte paraolímpico não existe rivalidades, isso não importa. Entramos na pista sabendo que somos desportistas, que precisamos dar exemplo. Eu sei que tem uma provocação por parte da torcida. Na Argentina aconteceria a mesma coisa (risos), mas nos portamos maravilhosamente bem e esse é o espírito paraolímpico”, disse o atleta, que é torcedor do Boca Juniors e corre com uma pulseira do clube.

Bruno Braz / UOL Esporte
Hernán Barreto corre com uma pulseira do Boca Juniors, seu clube na Argentina imagem: Bruno Braz / UOL Esporte


 

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