Paraolimpíadas

Maior medalhista do país virou atleta após assistir às Paraolimpíadas na TV

LEON NEAL/AFP
Daniel Dias comemora a conquista da medalha de ouro em Londres-2012 imagem: LEON NEAL/AFP

Daniel Brito

Do UOL, no Rio de Janeiro

Daniel Dias entra na água da Arena Olímpica de esportes aquáticos nesta quinta-feira, 8, para disputar a primeira das nove provas que terá pela frente nos Jogos Paraolímpicos do Rio-2016. Tem como meta subir pelo menos seis vezes ao pódio, de preferência, no ponto mais alto. Se cumprir com seu objetivo, vai aumentar para 16 sua coleção de ouros.

Nesta  quinta-feira, 8, ele nada os 200m livre. A final será às 20h09.

Uma trajetória iniciada em Atenas-2004, na sala de casa, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Ele ainda não era atleta, levava uma vida de estudante. Nascera com má formação congênita em três membros (dois braços e a perna direita). Entre uma zapeada e outra no controle remoto, sua atenção se fixou nas provas de natação exibidas pela primeira vez ao vivo na TV brasileira pelo Sportv.

Ao ver o potiguar Clodoaldo Silva ganhar seis medalhas para o Brasil nas piscinas gregas, descobriu que existia esporte de alto rendimento para pessoas com deficiência. Foi aí que decidiu entrar para tomar umas aulas de natação. Até então, mal sabia nadar e sofria com preconceito dos colegas de escola.

“Passei por preconceito no colégio, meus colegas aprenderam e eu também aprendi nesse momento, que eu era o diferente, eles queriam me tocar pra ver se era de verdade. Cheguei chorando em casa, agradeço aos meus pais, que tiveram muita sabedoria. Naquele momento eu aprendi que o preconceito existe, existia naquela época, e vai existir, mas que eu poderia mostrar para os meus colegas que não é porque eu sou desse jeito que não podia realizar o que eles faziam", contou Daniel.

Daniel desenvolveu-se com uma velocidade incrível. Começou disputando as competições regionais e rapidamente aderiu aos nacionais. Quatro anos depois de ver pela primeira vez na TV uma edição dos Jogos Paraolímpicos, lá estava ele compondo a delegação brasileira que disputaria Pequim-2008.

Aos 20 anos, embarcou cheio de medos e insegurança, dada a grandiosidade do evento. Voltou consagrado: com quatro ouros, três pratas e um bronze. Ganhou o respeito dos amigos, da mídia e angariou patrocinadores. Em 2012, foi para Londres com a responsabilidade de disputar oito provas. Nas individuais, foi imbatível: seis ouros em seis tentativas. Ficou fora do pódio apenas nos revezamentos.

Com 10 ouros paraolímpicos pendurados na estante de casa, virou referência. Ganhou duas vezes o prêmio Laureus, o Oscar do esporte. Deixou de ser aquele garoto que se inspirou no que viu na TV para influenciar uma geração de nadadores paraolímpicos. Na delegação nacional que está no Rio-2016, há um grupo de jovens que se formaram e cresceram vendo Daniel brilhar nas piscinas pelo mundo.

Hoje, aos 28 anos, é apontado como um dos principais responsáveis a conduzir o Brasil a atingir a meta de figurar entre os cinco melhores no quadro de medalhas, contando o total de ouros.

E pensar que tudo começou zapeando a TV na sala de casa…

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