Financiador olímpico no Brasil, exército é chave dos EUA nas Paraolimpíadas
Nos Jogos Olímpicos, a participação das Forças Armadas do Brasil na delegação brasileira foi grande. Das 19 medalhas conquistadas pelo país na Rio-2016, 13 vieram de atletas apoiados pelos militares. Nos Jogos Paraolímpicos, que começam na quarta-feira no Rio de Janeiro, outro país mostra sinais de um projeto parecido.
Os EUA, principal potência do esporte olímpico e top 10 quando se fala em Paraolimpíadas, usa as Forças Armadas para evoluir: como na Colômbia, os norte-americanos querem usar o esporte paraolímpico para agilizar a adaptação de militares feridos em combates. Como efeito colateral, essas medidas aumentam o número de talentos chegando aos times paraolímpicos a cada ano.
Levantador no vôlei sentado foi ferido por mina no Iraque
Em Londres-2012, eram 20 atletas militares na delegação norte-americana. No Rio de Janeiro, o número saltou para 30 – de 289 atletas no total. O destaque é o time de vôlei sentado, com cinco dos 12 membros formados por ex-soldados. Um deles é James Stuck: ele perdeu a perna direita após seu veículo militar passar sobre uma mina no Iraque.
Ele ficou em coma e acordou dias depois em um hospital na Alemanha. Assim que entendeu o que tinha acontecido, usou o esporte para se recuperar. Cinco semanas após o acidente, estava esquiando. Dez meses depois, completou uma corrida de 10 milhas nos EUA. Começou a jogar vôlei em um dos eventos do Comitê Olímpico dos EUA para os esportes paraolímpicos. Hoje, além de ser levantador da seleção sentada, ele é oposto em um time amador para atletas sem deficiência – usando uma prótese.
“Cada vez mais veteranos estão voltando ao país e começando a entrar nesse mundo dos esportes adaptados. São duas guerras recentes e o número de atletas está crescendo. Está cada vez mais difícil se classificar para as Paraolimpíadas”, diz.
Coronel paraquedista foi ao Iraque, mas se feriu em casa
Sua história não é a única. Coronel do exército, Patricia Collins era paraquedista e participou de campanhas nos Balcãs, no Iraque e no Afeganistão. Sua lesão, porém, não veio em combate: em 2006, ao voltar do Iraque, ela saiu para andar de bicicleta com amigos quando foi atropelada. Teve de amputar a perna esquerda.
Mesmo assim, continuou na ativa no exército. Sua campanha no Afeganistão, por exemplo, foi feita usando as próteses – Patricia se aposentou em 2015, depois de trabalhar no Pentágono, com 100 saltos, dois deles após o acidente.
Antes de perder a perna esquerda, ela já era atleta e disputava provas amadoras de triatlo. Depois do acidente, se tornou uma das melhores do mundo. Foi campeã mundial em 2012, vice em 2013 e é recordista de paratriatlo do Ironman 70.3 (com distâncias maiores do que as olímpicas).
Médica do exército foi chamada de affair do príncipe Harry
A ligação entre os dois é um hospital britânico em que ela tinha sido internada dois anos antes – ela sofreu uma embolia pulmonar durante a viagem para disputar a primeira edição dos Jogos. Quando ganhou sua primeira medalha, Elizabeth a entregou ao príncipe para que ele levasse ao hospital, como mostra de gratidão aos médicos e enfermeiros que salvaram sua vida.
Elizabeth sofreu a lesão que a levou às Paraolimpíadas quando estava servindo no Iraque. Em um acidente, seu quadril foi afetado permanentemente. Hoje, ela perdeu a sensação na perna esquerda, mas manteve os movimentos. Ela se tornou atleta de ponta quando um olheiro dos programas paraolímpicos do exército a viu durante uma sessão de fisioterapia, nadando.
Ex-fuzileira remou da Europa até o Caribe e já morou na rua
Mais impressionante é a história da ex-fuzileira naval Angela Madsen. Ela entrou para a Marinha aos 19 anos, mas sofreu uma lesão na coluna meses depois e ficou paraplégica. Deprimida e sem emprego, chegou a morar nas ruas da Califórnia – seus poucos pertences eram guardados em um armário na Disneylândia. Nessa época, o serviço de assistência aos veteranos insistiu para que Angela pensasse em praticar esportes. Ela aceitou e participou de um evento militar para cadeirantes.
Foi o primeiro passo da recuperação. Ela aprendeu a jogar basquete em cadeira de rodas e a remar. Em 2005, antes mesmo de entrar no radar do Usoc (Comitê Olímpico dos EUA) para as Paraolimpíadas, ela remou, ao lado de um atleta amputado, da Europa até o Caribe, sem parar – “São turnos de duas horas remando e duas horas de descanso, enfrentando tempestades e ondas gigantes, comendo alimentos desidratados e bebendo água dessalinizada” por dois meses e meio (depois, ela ainda fez a mesma coisa da Austrália até a costa da África).
Em 2008, participou da Paraolimpíada de Pequim, ainda no remo. Depois, ela migrou para o atletismo. Hoje, ela é uma das melhores do mundo em sua categoria na prova de arremesso de peso. Foi bronze em Londres-2012 e chega como uma das favoritas para os Jogos do Rio.
Veteranos do exército contam com incentivos federais para competir
Histórias como essas não costumavam chegar aos Jogos Paraolímpicos, mas isso começou a mudar. A Rio-2016 é a primeira Paraolimpíada em que o time dos EUA conta com dois programas de incentivo ao esporte para veteranos. O primeiro são as bolsas para os atletas, similar ao que existe no Brasil para atletas que aceitam se tornar militares. Elas existem desde 2008 e garantem rendimentos mensais adicionais entre R$ 1.900,00 a quase R$ 4.000,00 para quem demonstrar talento no esporte.
O segundo envolve os locais em que esses novos atletas serão integrados: percebendo que existia interesse, mas nem tantos locais para que os veteranos conhecessem os esportes adaptados, foi criado em 2013 um programa de financiamento para clubes e ligas esportivas que incluíssem militares e ex-militares.
Com isso, esses veteranos têm mais chances de se incluir na roda do esporte paraolímpico norte-americano, que também conta com mais incentivos desde os Jogos de Londres. Nos últimos quatro anos, um programa de identificação de talentos foi criado, com um clube referência em cada estado e eventos mensais de divulgação e captação de atletas. Tudo com verbas federais.