Olimpíadas 2016

Rio-2016 pede desculpas por falhas e ganha compreensão por Jogos possíveis

GREG BAKER/AFP
Assentos vazios nas arenas, como na festa de encerramento, foram um dos pontos negativos da Olimpíada imagem: GREG BAKER/AFP

Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

Não dá para dizer que a organização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro teve a excelência de edições como a de Londres, Pequim ou Sydney. O Comitê do Rio-2016 cansou de pedir desculpas por itens que vão desde instalações da Vila a serviços a espectadores. Mas o COI, a mídia internacional, atletas e torcedores compreenderam os problemas do país e entenderam que foi realizada uma Olimpíada possível dentro da realidade nacional.

Talvez o maior símbolo do humor tenha sido o próprio Comitê Olímpico Internacional. No Congresso antes dos Jogos, houve série de críticas dos dirigentes pelos erros na organização. Ao final, os dirigentes reconheceram as dificuldades, e deram a um aval a uma Olimpíada diferente das do primeiro mundo. “É possível organizar Jogos em países que não são no topo do PIB. Os Jogos mostraram grande solidariedade dos dirigentes e atletas”, disse o presidente do COI, Thomas Bach. Um discurso similar ao do prefeito do Rio, Eduardo Paes, que pediu que a Olimpíada do Rio não fosse comparada com as de cidades ricas.

A primeira impressão do Rio já causou uma enxurrada de críticas. Ao chegarem à cidade, os atletas se confrontaram com uma Vila Olímpica inacabada, com problemas de infraestrutura. “Foi nossa maior crise”, reconheceu o diretor de comunicação do Rio, Mario Andrada. Demorou mais de uma semana para consertar todos os danos no local. E ali o jeitinho dos Jogos ficava claros: os organizadores corriam para resolver algo que fora mal planejado, sem revisão do estado das instalações. Ao mesmo tempo, pediam desculpas.

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A estreia das competições olímpicas foi marcada pelas filas longas da torcida por conta do improvisado sistema de acesso ao Parque Olímpico. O atraso em contratações de uma empresa para cuidar da segurança deixou pessoas até duas horas em filas. Ao entrarem, elas se confrontavam com a falta de comida nas arenas.

Essas duas questões foram amenizadas com nova gambiarra. A segurança foi afrouxada e o cardápio de comida reduzido. E assim foi até o final com amendoim e batata em certos lugares. De novo, estava lá o pedido de desculpas dos organizadores dos Jogos.

Outro ponto problemático foi o excesso de assentos vazios em estádios e arenas. O Engenhão só esteve cheio - não lotado - para a final dos 100 metros. Houve públicos bem fracos em outras instalações, algumas delas vazias. Mais uma vez, o Comitê Rio-2016 admitia que essa não era o plano inicial já que mais de 80% dos ingressos foram vendidos. Essa questão nunca foi resolvida.

A realidade do Rio de Janeiro, uma cidade que enfrenta sérios problemas de segurança, invadiu os Jogos quando um ônibus de jornalistas foi atacado por pedras, além de duas balas perdidas caídas no Complexo de Deodoro e um policial que trabalhava nos Jogos morto. O Comitê renovou pedido de desculpas. E o episódio emblemático de violência, que seria o suposto assalto ao nadador Ryan Lochte e colgas, revelou-se uma invenção. Desta vez, quem teve que pedir desculpas foi o atleta.

Em relação às sedes de competições, a maioria funcionou bem, no mesmo padrão de Olimpíadas anteriores. A exceção foi a piscina do Maria Lenk que ficou verde quase os Jogos inteiros por um problema de tratamento. O Rio-2016 pediu perdão até por trocar toda a água. Mas nem Michel Phelps, nem Usain Bolt podem reclamar das piscinas e raias em que competiram para aumentarem sua coleção de ouros.

A Baía de Guanabara e a Lagoa Rodrigo de Freitas não foram despoluídas, mas a sua sujeira não comprometeu as competições e Vela e remo. Pelo contrário, houve elogios de estrangeiros ao cenário. Um outro ponto positivo foi o transporte na cidade. De novo, nada da variedade que se tem em Londres-2012, mas o novo BRT e metrôs foram capazes de levar espectadores com segurança e eficiência aos Jogos. Ficam ainda de legado real para a cidade, assim como reformas estruturais com o novo Porto.

Por fim, faltou dinheiro dentro do orçamento do Comitê Rio-2016. Ao contrário da promessa inicial, terá de haver dinheiro público - cerca de R$ 250 milhões - para realizar os Jogos Paraolímpicos. Desta vez, os organizadores não pedem desculpas: pediram mesmo mais dinheiro que será dado por meio de estatais.

Entre desculpas e acertos, o Rio-2016 não realizou os Jogos de excelência prometidos em sua candidatura, naquela ideia de Brasil grande, potência. Mas mostrou, sim, que com jeitinho é possível realizar Olimpíada em um país em desenvolvimento. 

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