Baladas e celebridades

Olimpíada da pegação? Para frequentadores da Lapa, não é bem assim

Alexander Vestri/UOL

Alexander Vestri

Do UOL, no Rio de Janeiro

"Bem-vindo ao caldeirão do Inferno", diz o taxista diante dos Arcos da Lapa, no centro do Rio de Janeiro. O apelido, segundo o motorista, é recente. O bairro, famoso por ter uma alta concentração tanto de turistas quanto de cariocas, viu a circulação de pessoas aumentar ainda mais durante o período olímpico. Mesmo a chuva não foi capaz de esvaziar a festa pelas ruas – o que não aconteceria em outras épocas do ano.

É depois das 20h de sábado que o bairro começa a ficar cheio de gente. Logo, ônibus, táxis e carros estão disputando o asfalto com os pedestres que circulam entre os bares e casarões transformados em baladas. A avenida Mem de Sá, porta de entrada para a região, concentra a maior parte dos visitantes.

Pelo caráter cosmopolita do evento que a cidade recebe aliado à fama boêmia do bairro , era de se esperar que a Lapa se tornasse um local de intercâmbio cultural - e de paquera. No entanto, a avaliação geral do público que frequenta a Lapa aponta que as pessoas estão mais interessadas na diversão do que na "pegação".

"As pessoas estão vindo aqui mais para se divertir com os amigos, conhecer gente nova, mas não com a intenção de rolar alguma coisa", diz Dayane Ramos, de Petrópolis. “Abordagem sempre tem, mas nada anormal”, completa a prima dela, Marcella Andrade, do Rio de Janeiro.

Elas contam que em uma das visitas à Lapa conheceram um grupo de poloneses na fila do banheiro de um posto de gasolina, mas o relacionamento parou na conversa e na amizade. “Parecia que já nos conhecíamos há muito tempo. Ficamos a noite inteira com eles, mas só como amigos. Acho que é mais difícil rolar alguma coisa porque, no caso deles, eram mais reservados, educados. Não são descarados como os brasileiros”, diz Dayane.

Entre brasileiros e gringos, elas ponderam que a preferência por conhecer estrangeiros se deve, sobretudo, ao comportamento. “Em geral, eles são mais gentis, nada invasivos. Os brasileiros costumam ser mais brutos. Claro que tem suas exceções”, explica Marcella.

Gringos "falsificados"

O bar Antonieta é um dos bares que mais atrai os jovens. Aguardando para entrar no local, as amigas Letícia Maia e Mariana Assad se mostraram desconfiadas com a abordagem da reportagem. “É que aqui as pessoas inventam muita história, a gente não sabe se você é jornalista mesmo”, dizem.

Elas explicam que, além dos estrangeiros, há aqueles que fingem ser de outros países. “O que está acontecendo mais é que os próprios brasileiros tentam se passar por gringo, falando em inglês, fazendo sotaque, inventando mil histórias”, contam as jovens, que garantem não terem dado atenção, até agora, a nenhuma aproximação, de brasileiros ou estrangeiros. "Estamos aqui só para dançar".

Elas concordam, porém, que a situação não passa perto de outros eventos, como o Carnaval. “Acho que a Olimpíada tem atraído muito mais famílias e amigos. O Carnaval aqui é muito pior, com muita gente alcoolizada, que vem mesmo para zoar. Por isso nem gosto de vir aqui nessa época. A harmonia agora está boa, por isso até viemos dois dias seguidos”, conta Mariana.

Já a presença de estrangeiros não é algo que lhes chama tanta atenção. “A gente vê homens muito bonitos, que normalmente a gente não vê por aqui. Mas a mulher carioca prefere os brasileiros mesmo, porque os gringos são mais devagar, ficam conversando, esperam uma atitude nossa, porque a visão que eles têm é que a mulher brasileira é mais atirada. Aqui eles vêm muito por causa do turismo sexual. Até por isso evito me relacionar muito com gente de fora do país”, diz Letícia.

Além de brasileiros “falsificando” a nacionalidade, há também estrangeiros que mentem sobre o país de origem. “Tem dia que sou argentino, tem dia que sou alemão, depende. A menina chega querendo saber se sou gringo e pergunto de onde ela acha que eu sou. O que ela falar, eu concordo. A maioria pensa que sou alemão. Geralmente as mulheres ficam mais apaixonadas se falo que sou Europeu”, diz o argentino Pablo De Felipe.

Ele corrobora a impressão que as meninas têm sobre os turistas. “A diferença da mulher brasileira é que, quando ela gosta, ela fala logo. Na Argentina, por exemplo, mesmo se a mulher gosta de você, elas enrolam muito”, diz.

Uma alemã queria saber mais sobre a aproximação direta dos brasileiros. “Aqui é mesmo normal as pessoas pedirem beijo do nada?”, pergunta Ruth Wobbecke, que também estranhou outro costume. “Alguns homens me puxaram pelo braço. Isso nunca aconteceria na Alemanha, lá usamos mais o olhar para mostrar interesse, mas não me senti ofendida. Em geral os brasileiros são muito amigáveis e educados. Sinto uma amizade sincera deles”, afirmou.

Topo