Olimpíadas 2016

Frenesi em verde e amarelo: a última noite olímpica da Lapa

Daniel Lisboa/UOL Esporte
Multidão toma as ruas na ultima "noite olímpica" na Lapa imagem: Daniel Lisboa/UOL Esporte

Daniel Lisboa

Do UOL, no Rio de Janeiro

A garota aparentando não mais do que 15 anos desce até o chão na calçada em frente ao inferninho esfumaçado. Garotos se esforçam para acompanhá-la bem de perto com os devidos movimentos pélvicos. Ao lado, um casal apaixonado, o rapaz com a bandeira do Brasil saindo do bolso da calça, troca carícias ousadas. Alguém quase é atropelado mais uma vez. Um grupo de garotas dança Spice Girls no meio da rua. Outro rapaz, extasiado com o que parece uma noite promissora, filma a si próprio no meio da multidão e diz para a câmera: "e a noite está só começando..."

A última noite olímpica na Lapa, no Rio de Janeiro, não foi assim tão diferente do habitual. Acontece que, na Lapa, habitual significa todas as tribos juntas tomando ruas e calçadas, dançando na frente e dentro de baladas, dividindo espaço com travestis, ambulantes, policiais, prostitutas, perdidos, bêbados, gringos, traficantes, turistas duros, turistas endinheirados e, provavelmente, qualquer outro tipo urbano imaginável.

Essa massa pulsante se concentra em poucos quarteirões ao redor da avenida Mem de Sá. De diferente, ela ganhou, na noite deste sábado para domingo, as cores da camisa verde e amarela e a empolgação de quem aproveitou o embalo da conquista do Brasil no futebol para se jogar nas entranhas da noite lapeana. Camisetas da seleção brasileira e gente enrolada na bandeira do Brasil eram vistos por todos os cantos.

"A gente gosta muito da Lapa por causa da diversidade e porque é barato, dá para ficar na rua. Hoje, vamos dizer que o Brasil ainda deu um empurrãozinho", diz o carioca Caio Henrique.

"Hoje sei que todo mundo tá daquele jeito, depois daquela medalha de ouro bonita que a gente ganhou", diz o cantor de uma das boates da Mem de Sá. Do lado de fora, um grupo não se importa com a chuva que cai na madrugada carioca e "fila" a música que toca lá dentro.

Já quem não quer se molhar corre para se abrigar em um posto de gasolina, que logo está tão cheio que faria Ryan Lochte e sua turma passarem despercebidos. Lá, um grupo mais exaltado puxa cânticos de provocação à Argentina, que logo viram cânticos da torcida do Flamengo, que logo são vaiados por gente que não queria clubismo.

"A Lapa está bem acima das minhas expectativas", diz o baiano Yago Porto, outro que emendou às comemorações da vitória da seleção com a Lapa. "Este monte de gente na rua, gringos dançando, é muito louco", completa.

Sem se importar com o trânsito pouco amistoso, ou talvez ignorando que o Brasil não é medalha de ouro em direção segura, canadenses atravessam a rua correndo com a bandeira do país e gritando seu nome. Como resposta, um grupo de chilenos do outro lado da rua entoa o tradicional "chi-chi-chi-le-le-le".

A noite segue olímpica pela última vez na Lapa. Semana que vem não haverá atletas nem torcedores nas ruas. Mas, em uma das esquinas da Mem de Sá, já longe da confusão, quem passar talvez continue a escutar "pó de vinte? Tem aqui".

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