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Revolucionário do atletismo critica vaias brasileiras a francês: "chocado"

Adidas/divulgação
Americano Dick Fosbury revolucionou o salto em altura nos anos 60 com movimento de costas imagem: Adidas/divulgação

Bruno Freitas

Do UOL, no Rio de Janeiro

A discrição de Dick Fosbury quase não deixa transparecer, mas este senhor de 69 anos que circula pelas provas de atletismo no Rio de Janeiro com sua credencial é um ícone da história do atletismo. O sorridente ex-atleta foi o responsável pela criação do movimento de costas na disputa do salto em altura, em iniciativa disruptiva que permitiu que o homem alcançasse outro patamar nesta modalidade. O antigo campeão olímpico tem curtido como torcedor os Jogos de 2016, mas admite o incômodo com o polêmico comportamento do público local na final do salto com vara.

Na prova que coroou o brasileiro Thiago Braz, na última segunda-feira, a torcida presente no Engenhão perturbou o francês Renaud Lavillenie, seu principal adversário, através de vaias persistentes – algo que não faz parte da cultura de respeito do atletismo. Dick Fosbury afirma que tentou compreender o comportamento do público anfitrião dos Jogos, mas diz entender que a atitude não combina com o espírito olímpico.
 
"O que nós aprendemos é sobre a cultura dos Jogos, sobre a cultura do Brasil. Acho que jogadores de futebol costumam experimentar isso aqui, mas no atletismo nunca vimos algo assim. Eu fiquei chocado de ver vaias durante a cerimônia de medalhas – são os três melhores atletas do mundo!", afirmou Fosbury em entrevista ao UOL Esporte.
 
"Alguns amigos brasileiros me explicaram. O que entendo, é a natureza humana. Mas, na cerimônia de encerramento, acho que é o momento em que todos devem ser celebrados, e não mais vaiados", acrescentou o ex-atleta do salto em altura. 
 
O homem pode pular até 2,50 metros?
 
Um atleta então mediano dos Estados Unidos mudou a história do atletismo com uma revolução de movimento. Frustrado com seus resultados, Dick Fosbury decidiu tentar uma nova técnica no salto em altura. Até a década de 60, os competidores pulavam de frente. No entanto, o jovem saltador decidiu buscar por uma nova técnica para sobreviver entre seus adversários. 
 
Fosbury recuperou o salto de costas, que remetia aos primórdios do esporte, e aos poucos foi moldando o movimento para necessidades daquele momento. No fim, acabou padronizando a sua modalidade para a posteridade: corrida em trajetória curva, impulso em um movimento giratório e passagem pelo sarrafo com a barriga virada para cima.
 
"Eu não sabia, mas eu tenho uma tendência a ser uma pessoa criativa. Sou um resolvedor de problemas, formado em Engenharia. Adoro desenhar e procurar novas soluções. Essa decisão veio quando eu era jovem, tinha só 21 anos, e mudou minha vida para sempre. É bom ser reconhecido como um criador", relembrou o americano.
 
"Eu estava me dando mal naquele ano, tentando aprender a técnica clássica. Fui mal em diversas competições, um completo fracasso, perdendo todas. Então eu mudei para a técnica que aprendi primeiro, que era velha e ineficiente, mas eu fui competitivo. Eu passei a mudar a posição do meu corpo. Numa competição, permaneci um pouco de costas, movendo meu quadril acima do sarrafo. Me tornei mais eficiente, 15 ou 20 centímetros a mais. Funcionou, me manteve no jogo", emendou.
 
Fosbury impressionou o atletismo com sua técnica e conquistou o ouro na Olimpíada de 1968, na Cidade do México – sendo o único a saltar de costas (com 2,28 metros). Nos Jogos de Munique, quatro anos depois, 28 dos 40 competidores passaram a adotar a técnica.
 
Adiante, a prova que consagrou Fosbury teve o cubano Javier Sotomayor como o maior de todos os tempos. Multicampeão, o saltador estabeleceu o recorde mundial em 2,45 metros, em 1993, marca que perdura até hoje. Mas, apesar da longevidade dessa performance, o campeão olímpico de 1968 afirma acreditar que o homem ainda não chegou ao seu limite.  
 
"Em 1978, eu falei em uma entrevista que acreditava que veria ainda na minha vida alguém saltar 2,50 metros. Baseado na minha experiência, imagino que esse pode ser o limite. Sotomayor chegou perto, e acho que vão quebrar o recorde dele. E eu ainda estou vivo para ver isso", manifestou, com uma gargalhada no fim.

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