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Após 36 anos, ex-boxeador supera frustração e realiza sonho na Rio-2016

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Earl Jones, o boxeador que é voluntário da Rio-2016 imagem: UOL

Eduardo Ohata

Do UOL, no Rio de Janeiro

O boxeador Earl Jones, então com 20 anos, ataca incessantemente seu rival nas quartas-de-final da seletiva olímpica canadense de boxe. Ele faz como seu pai lhe ensinou, tenta não deixar a decisão “nas mãos dos jurados”. Porém o adversário sobrevive ao castigo, e ao fim da luta, seu adversário tem o braço erguido.

Valia passagem para Moscou-1980. Não importa que o Canadá tenha anunciado, posteriormente, sua adesão ao boicote àquela edição da Olimpíada. Ou seja, de um jeito ou outro, Jones não iria aos Jogos. O resultado desagradou o jovem boxeador o suficiente para fazê-lo trocar o ringue amador pelo profissional.

Com um cartel de 2 vitórias e 2 derrotas na categoria dos meio-médios (limite de 66,7 kg), Jones foi um dia surpreendido com a proposta de trabalhar em um centro para jovens em Ottawa, onde vive. Apesar de vir de uma família com uma forte tradição nos ringues -seu pai e irmãos também lutaram-, a lógica, desta vez, acabou superando a paixão.

“Logo de cara amei aquele emprego, trabalhar com jovens, proporcionar uma oportunidade para eles não apenas praticar esporte, mas aprender uma profissão. Mas o meu amor pelo boxe se manteve vivo, até pensei em retornar para o ringue para realizar o sonho de ser campeão mundial”, explica Jones.

Porém, após refletir sobre os sacrifícios envolvidos e o prazer proporcionado por seu emprego, a ideia foi abortada.

Mas havia um vazio, ligado ao esporte, que incomodava Jones: ainda queria vivenciar uma experiência olímpica. Foi assim que decidiu que iria à Olimpíada de Londres-2012 como voluntário. Como tinha amigos no país, a questão de hospedagem estaria resolvida.

Porém sofreu um ataque cardíaco em 2010, o que fez com que os médicos tirassem de sua cabeça qualquer ideia de esforço no curto e médio prazo. “Meus amigos me perguntaram, ‘por que não na Olimpíada do Rio?’, e comecei a pensar sobre isso, e finalmente decidi, ‘é, por que não?'”, conta Jones.

"Quando fui informado que havia sido aprovado para participar dos Jogos como voluntário, que iriam me alimentar, e que ainda por cima iria trabalhar no boxe [enxugando o ringue], quase não acreditei". 

Na Rio-2016, Jones, agora com 57 anos, teve uma chance de retornar ao ringue de uma outra forma. “Me vejo nos lutadores do Cazaquistão, eles são duros, focados”, diz, com intensidade no olhar.

A Olimpíada resgatou mais de seu passado

“Nessa rotina de idas e vindas de ônibus [de onde está hospedado ao Riocentro, local das lutas de boxe], tenho 1h30 para pensar. E outro dia pensei em abrir uma academia de boxe para jovens carentes, o que uniria minhas duas paixões, trabalho comunitário e o boxe". 

“Se isso acontecer, vou estar repetindo meu pai, que abria as portas do nosso ginásio de boxe para jovens carentes”, diz, visivelmente emocionado, com os olhos começando a ficar marejados. “Vou olhar para cima, e sei que meu pai, lá de cima, vai me dar um sinal de aprovação...”

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