Vela

Escolher entre esquerda ou direita definiu a vitória para Martine e Kahena

REUTERS/Benoit Tessier
Martine Grael e Kahena Kunze cruzaram linha de chegada na primeira posição imagem: REUTERS/Benoit Tessier

Bruno Doro e Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

Pare e lembre o que você fez quando acordou. Você pensou com que pé deixou a cama? Ou para que lado olhou primeiro ao atravessar a rua? Você pode ter escolhido entre o elevador da esquerda ou da direita para subir para o escritório? Pessoas comuns tomam decisões como essa sem pensar muito. Esquerda ou direita, tanto faz. Em nossas vidas, o resultado costuma ser igual.

Nas Olimpíadas não é assim. Nesta sexta-feira (19), o Brasil está comemorando uma medalha de ouro porque a decisão entre ir para um lado ou para o outro fez a diferença entre a vitória e derrota. Quem tomou a decisão foram as velejadoras Martine Grael e Kahena Kunze, as campeãs olímpicas da classe 49erFX graças a uma virada para esquerda.

Na vela, as provas são uma corrida entre boias. Vence quem contornar todas e cruzar a linha em primeiro lugar. O problema é que barcos andam empurrados pelo vento. Quando é hora de ir contra a direção do vento, a saída é fazer zigue-zagues. Na prova que valeu o ouro, todas as concorrentes andaram para a direita do percurso. As brasileiras, foram para a esquerda.

“Foi a decisão mais difícil que eu já tive de tomar”, admite Martine. A dificuldade foi justamente pela divisão dos barcos. As rivais a sua frente estavam todas à direita, velejando rápido. A escolha pelo lado oposto poderia valer a vitória. Mas também poderia levar à derrota, se os ventos que as duas brasileiras apostavam não aparecessem.

“A gente resolveu ir sozinha para um lado e abandonou as duas primeiras do outro. Foi a única chance que tinha de passar. Senão ia montar atrás delas [as neozelandesas Alex Maloney e Molly Meech, que ficaram com as mãos na medalha de ouro da primeira até a última boia] e deixar que elas nos dominassem”, explica Kahena.

Ajudou o fato de a dupla conhecer a Baia de Guanabara na palma da mão. A primeira memória de Kahena no local foi aos nove anos. A de Martine é ainda mais antiga. “A primeira vez que eu me lembro de ter velejado na baia foi aos quatro anos. Minha mãe colocava os dois filhos no barco. Era a única maneira que ela tinha de velejar”, conta.

Quem assistia de longe, porém, se assustou. “A medalha estava garantida, porque as espanholas não foram bem. Mas quando eu vi elas optarem pela esquerda, disse para o Torben, que estava no bote de apoio: Elas foram para a vitória. Elas não gostam de perder de jeito nenhum. Foram para o ouro”, orgulha-se o espanhol Javier Torres, técnico da dupla.

Foi mais ou menos o que outro campeão olímpico brasileiro fez no atletismo. Thiago Braz já tinha garantido a medalha de prata no salto com vara quando passou dos 5,93m. Depois disso, o francês Renaud Lavillenie subiu a marca para 5,98m. Thiago nunca tinha voado tão alto. Mesmo assim, recusou o salto e subiu ainda mais. Para 6,03m. Lavillenie não conseguiu. Thiago, sim. Uma ousadia que valeu o ouro, assim como a esquerda, e não direita, escolhida por Martine e Kahena.

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