DR foi chave para ouro. Mas Martine e Kahena não sabem se seguem como dupla
Após uma medalha de ouro, muita gente ignora diferenças e jura que a parceria que deu certo nunca vai terminar. Não para Martine Grael e Kahena Kunze. As duas acabam de conquistar a medalha de ouro da classe 49erFX nas Olimpíadas do Rio de Janeiro.
O título olímpico veio para coroar um dos ciclos olímpicos mais vitoriosos que a vela no mundo, e não só no Brasil, já teve. Ela ganharam Mundial, Olimpíada e foram eleitas as melhores do mundo. Mesmo assim, nenhuma das duas sabe se quer continuar a velejar com a parceira.
“Isso é outra pergunta... Deixa eu dormir antes”, disse Kahena ao ser perguntada sobre o futuro da dupla. “A gente vai conversar sobre isso esses dias. Ainda não falamos”, completa Martine.
O motivo para a incógnita é o desgaste da relação. As duas eram amigas de infância. Se conheceram como rivais em campeonatos de base. Quando Martine convidou Kahena para reeditar uma dupla que já tinha sido campeã mundial em 2009, quando ambas tinham 18 anos, nenhuma sabia como iria mudar o jeito de olhar para a amiga ao lado.
“É muita amizade e um pouco de compreensão. A gente teve uma mudança grande no nosso relacionamento. Principalmente uma profissionalização. Antes a gente velejava como amigonas do peito. Hoje somos amigas e parceiras”, diz Martine. “Nos últimos quatro anos, o que eu mais aprendi foi comunicação e relacionamento. Quando você convive muito tempo com a pessoa, qualquer palavrinha que você fale pode atingir. Você tem de saber se expressar”, completa Kahena.
Foi justamente isso que elas fizeram no Rio de Janeiro: o objetivo era que todas as discussões fossem feitas no barco. Nada sairia da água. As "Discussões de Relacionameto", ou só DRs, eram frequentes. Até com outras duplas. A reportagem do UOL Esporte flagrou uma delas. As brasileiras, após um dia cansativo de regatas, chegaram nas atletas de Cingapura Griselda Khng e Sara Tan e avisaram, com caras de bravas: “Cumprimos a pena na água. Não tem mais nada”.
Até o técnico da dupla, o espanhol Javier Torres, acostumado com a dificuldade de contornar as diferentes personalidades das duas mulheres, ficou espantado com a sintonia mostrada no Rio. “Elas têm muito talento. Só tínhamos de criar uma linha de trabalho. Não tem segredo. Elas estavam bem focadas no último mês. Foi o campeonato mais fácil que tivemos em termos de relacionamento”, analisa. “A verdade é que foi incrível”.