Olimpíadas 2016

Em saideira, Bolt chega a 8 ouros e deixa pergunta: qual é o seu tamanho?

Lars Baron/Getty Images
Usain Bolt beija a linha de chegada dos 200 m; foi a última prova individual do astro jamaicano imagem: Lars Baron/Getty Images

Gustavo Franceschini e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio de Janeiro

Depois de ganhar o ouro, Usain Bolt se aproximou da linha de chegada dos 200 metros no Jogos do Rio-2016, se abaixou e deu um beijo na raia do Engenhão. Era um cumprimento, uma saideira pela sua última prova individual olímpica na qual conquistou seu oitavo ouro - dois por equipe. Uma despedida sem decepções, limpa, de quem ganhou tudo o que podia.

Cansado, com as pernas doendo, o jamaicano contou que seu trabalho acabava ali. Agora, esperava dos jornalistas, especialistas, dos colegas que dissessem qual o tamanho do seu feito, qual o nível de grandiosidade atingira no altar do esporte. Seus dois tricampeonatos olímpicos, nos 100 metros e nos 200 metros, lhe dão o posto certo de maior de todos os tempos no atletismo. Sua disputa é com lendas de outros esportes.

“Eu queria esperar a Olimpíada pra ver se eles vão me colocar nesse patamar. Agora só estou trabalhando pra tentar entrar no patamar desses caras (Pelé e Muhammed Ali). Eu vou ler o que vocês vão escrever amanhã”, descreveu. E Bolt se permite até uma pequena contradição: aceita a comparação com Pelé e Ali, mas prefere evitar fazer o mesmo com o nadador Michael Phelps. “Nós fazemos eventos totalmente diferentes. Tem de deixar isso. Ele já provou que é um dos melhores, dominou por muito tempo, se aposentou e voltou. Eu respeito ele. Nunca poderia escolher, somos os melhores em áreas diferentes.”

Lembrando sua trajetória, Bolt contou que nunca esperava os resultados que obteve quando disputou sua primeira Olimpíada. Em Atenas-2004, falhou na eliminatória e ficou em quinto, afetado por uma contusão e pelos seus ainda 17 anos. Naquela época, seu sonho era simplesmente ganhar uma medalha olímpica dos 200 metros, seu evento preferido.

“Na primeira vez em Atenas, eu só vim para tentar os 200 metros. Tudo que eu queria fazer era ser campeão olímpicos dos 200 metros uma vez. Então, ser oito vezes campeão olímpico é uma grande negócio, e chocante”, lembrou.

Por isso, foi tão apropriado que a despedida de provas individuais tenha ocorrido nos 200 metros. Desde que começou, ele vem buscando a perfeição nesta distância. Ela foi atingida, para Bolt, há sete anos com seu recorde de 19s19. Seu corpo não estava preparado para repetir no Rio-2016.

Mas isso importa pouco agora. O jamaicano se sente aliviado por ter cumprido sua meta do duplo tricampeonato. Afinal, em Londres-2012, já declarava ter receio de não aguentar a competição com corredores mais jovens quando tivesse quatro anos a mais. Mas conseguiu com sobras: Bolt completará 30 anos neste sábado.

Há quem acredite que essa carreira exuberante foi fácil para Bolt tal o seu talento superior aos demais. Manter-se no topo, no entanto, só lhe foi possível com sacrifícios de dieta, de tratamentos diários, de treinos duros. E sem ajuda ilegais.

“Eu provei para o mundo que você pode fazer limpo (sem doping) com trabalho duro e determinação. Eu fiz o esporte excitante para as pessoas quererem assistir. Fiz o esporte ir para outro nível”, analisou. Não é exagero quando Bolt diz que ajudou a salvar o atletismo nos tempos tenebrosos de doping disseminado vividos atualmente. Não é exagero dizer que ele transformou o esporte. Nesta sexta-feira, no revezamento, o mundo terá direito a mais nove segundos e alguma coisa de Bolt na raia olímpica. Depois, será só a lembrança.

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