Basquete

Sérvia x Croácia tem dor de remorso por briga de amigos que acabou mal

AFP PHOTO / Mark RALSTON
Aleksandar Petrovic, técnico da seleção croata de basquete imagem: AFP PHOTO / Mark RALSTON

Fabio Aleixo e José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

Você já discutiu com seu melhor amigo por conta de rivalidade do futebol, provocações e teve a relação estremecida por isso? Em época de Jogos Olímpicos vemos muitas situações em que a competitividade e patriotismo falam mais alto por conta da emoção e fazem o atleta ou torcedor, certas vezes, ter no grande amigo um adversário. E um duelo nas quartas de final do basquete, nesta quarta-feira, traz à tona o quanto uma reação mais intempestiva pode custar caro. E envolve dois personagens do lado de fora das quadras e questões políticas.

Sérvia e Croácia, que se enfrentam às 22h15 na Arena Carioca 1, são duas repúblicas que fizeram parte da antiga Iugoslávia, sendo as principais em poderio financeiro e população de todos os países que sugiram no desmembramento – Macedônia, Montenegro, Eslovênia, Bósnia e Herzegovina e Kosovo são os outros.

O presidente do comitê olímpico da Sérvia é Vlade Divac, ex-Los Angeles Lakers e medalha de prata em Atlanta-1996 e bicampeão mundial pela Iugoslávia. O técnico da seleção croata é Aleksander Petrovic, bronze com a Iugoslávia em Los Angeles-1984 antes da separação das repúblicas. Ambos jogaram juntos por muitos anos.

O encontro tem um tom nostálgico para o primeiro, que carrega até hoje um remorso irreparável por ter brigado com o irmão de Aleksander, Drazen Petrovic, seu melhor amigo nos tempos de jogador. A dupla defendeu junta a seleção da Iugoslávia antes da separação das repúblicas e foi campeã junta no Mundial de 1990, na Argentina. E foi ali que começou uma briga sem volta e que até hoje só pôde ser amenizada pelo perdão da família de Petrovic, entre os quais seu irmão, hoje no banco da seleção croata.

Christian Petersen/Getty
Vlade Divac, presidente do Comitê Olímpico da Sérvia imagem: Christian Petersen/Getty

O duelo final Iugoslávia x União Soviética, em 90, ocorreu em tempos finais de Guerra Fria, quando as nações queriam se separar de países formados por diferentes povos, como era o caso da Iugoslávia. Eis que após o triunfo iugoslavo, na comemoração do título, um torcedor levantou a bandeira da Croácia, querendo mostrar o orgulho de suas raízes. Divac não gostou, tomou a bandeira e foi tomar satisfações, dizendo que ali não era momento para divergências políticas.

Petrovic não aprovou a ação do amigo e quase irmão, e a festa iugoslava virou um debate patriótico. Ambos pararam de se falar, e a nação croata passou a detestar Divac pelo ato de repreensão ao torcedor. Os atletas com ascendência da Croácia organizaram um boicote e então pararam de falar com o companheiro. Petrovic ficou dividido entre a amizade e o valor à sua nação. Optou pela segunda e se juntou ao comboio croata que "gelou" o sérvio.

Eles ficaram mais de três anos sem ter relações, até que Petrovic morreu em um acidente de carro em 1993, sem nunca mais ter resolvido a questão com o ex-melhor amigo. Divac, então, passou a carregar uma forte amargura pela morte do companheiro, já que não conseguiria mais relatar a relação. A maneira que encontrou para amenizar sua dor foi fazer uma viagem para a Croácia e explicar para a família do amigo tudo o que sentia e pedir perdão para eles, como uma forma de se sentir melhor. O fato rendeu um filme chamado Once Brothers, de produção da ESPN.

Tim DeFrisco/Getty
Drazen Petrovic, jogador de basquete que já morreu imagem: Tim DeFrisco/Getty


A parte final do filme tem uma cena emocionante em que Divac chega até a mãe de Petrovic e o irmão do ex-jogador, o agora técnico da seleção da Croácia. Juntos visitam o túmulo de Drazen, e Divac deixa ali de recordação uma foto junto do amigo de ambos comemorando o triunfo da Iugoslávia, como uma imagem da amizade que tiveram.

O duelo entre Croácia e Sérvia nesta quarta será o primeiro em Jogos Olímpicos e pode servir de revanche para os croatas, que em 2010 foram eliminados pelos sérvios por 73 a 72 nas oitavas de final do Campeonato Mundial.

"Sérvia x Croácia é um clássico dos últimos 25 anos e eu penso que está na hora de fazermos algo grande, dar 100% em quadra. E acredito que podemos vencer", afirmou o ala-pivô croata Dario Saric.

O vencedor desse clássico dos Bálcãs encara na semifinal da Rio-2016 quem passar de Austrália e Lituânia. As outras duas quartas de final são Espanha x França e Estados Unidos x Argentina.

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