Taekwondo

Irmão de terrorista do Estado Islâmico está no Rio como sparring da Bélgica

FP PHOTO / BELGA / EMMANUEL DUNAND
Mourad Laachraoui é atleta sparring do taekwondo da Bélgica imagem: FP PHOTO / BELGA / EMMANUEL DUNAND

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

A presença de Mourad Laachraoui na Vila dos Atletas não representa nenhum perigo ou ameaça para a segurança. Mas o comitê olímpico de seu país tem evitado qualquer tipo de exposição e blinda ao máximo o atleta que desperta atenção não por sua relevância esportiva nos Jogos do Rio, mas sim pelo parentesco com um terrorista do estado islâmico.

Mourad, 21 anos, é atleta de taekwondo belga e conquistou medalha de ouro no campeonato europeu no ano passado. Faz parte da equipe de seu país, mas não está inscrito como atleta, e sim como sparring da seleção. Ele é irmão de Najim Laachraoui, três anos mais velho e que morreu em março deste como homem bomba num ataque suicida no aeroporto de Bruxelas, na Bélgica.

Os treinos oficiais da seleção belga de taekwondo, no local oficial onde será disputada a competição, são fechados e não contam com a presença de Mourad. Questionados, os atletas e estafe técnico dizem que ele só fica na Vila e que não falam sobre o assunto. Os técnicos já avisaram que ele não dará nenhuma entrevista, e a própria comissão não aceitará perguntas sobre o lutador nos eventos. O assunto é tabu entre os belgas. 

Nascidos no Marrocos, os irmãos foram levados pelo pai, ainda novos, para o país europeu. Moraram no bairro de Schaerbeek. Praticar as artes marciais foi uma forma de incentivo dos pais em uma Europa com intolerância a imigrantes. A dupla, então, começou a fazer aulas de taekwondo.

Mas Najim fugiu do país e foi para a Síria há cerca de três anos depois de ser recrutado por integrantes do Estado Islâmico. O próprio pai procurou a polícia para dizer que o filho tinha tomado tal caminho, e as autoridades passaram a buscá-lo. O ano de 2013 seria o último contato entre Mourad e Najim.

O monitoramento das forças de segurança da Europa falhou, e Najim conseguiu adentrar no continente e foi um dos que planejaram os explosivos dos ataques na França, em novembro do ano passado, no estádio Saint-Denis, no teatro Bataclan e em bares e restaurantes. Foram 130 pessoas mortas. Depois, participou ativamente do ataque ao aeroporto de Bruxelas em ato suicida que matou 32 pessoas além dele e outros dois terroristas.

Não é certo afirmar se isso ocorreu por abalo emocional, mas desde esse fato o desempenho de Mourad caiu demais, a ponto de não ser escalado como representante para representar seu país na categoria até 54 kg, mesmo tendo sido campeão europeu em 2015. 

Mourad se manifestou em entrevista na Bélgica, antes dos Jogos Olímpicos, para falar sobre o caso pela única vez. Enfatizou que tem que levar uma vida normal sem ser relacionado ao que fez o irmão, embora entenda que seja difícil tirar essa marca da família. “Ele é meu irmão, e somos pessoas diferentes. Não aprovo nada do que ele fez e também fiquei surpreso que fosse capaz de fazer isso um dia.

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