Vôlei

Faltou diálogo e transparência quando Bernardinho me cortou, diz Murilo

Adriano Wilkson/UOL
Os irmãos Gustavo Endres e Murilo, ex-jogadores da seleção de vôlei, em evento de patrocinador imagem: Adriano Wilkson/UOL

Adriano Wilkson e Leandro Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro

Murilo Endres, antigo capitão da seleção brasileira de vôlei e um dos jogadores mais respeitados de sua geração, foi cortado do time a 15 dias do início das Olímpiadas.

Em entrevista ao UOL Esporte ao lado de seu irmão Gustavo, Murilo descreveu seu corte às vésperas do torneio como o momento mais frustrante e triste de sua carreira. Uma pequena lesão na panturrilha foi o que o tirou dos Jogos do Rio. Nesta segunda-feira, quando o time do técnico Bernardinho estiver disputando com a França uma vaga nas quartas de final, Murilo, recuperado da lesão, estará jogando pelo Sesi-SP.

Apesar de não querer entrar em polêmica com seu antigo técnico, o ponteiro de 35 anos, prata em Pequim-2008 e Londres-2012, disse que faltou diálogo e transparência no processo que o tirou da seleção. E que, caso Bernardinho tivesse confiado em sua recuperação, ele poderia estar ajudando o time no Rio. “Eu teria feito um esforço sobre-humano para estar bem para estreia”, disse ele.

UOL Esporte – Esse corte foi o momento mais frustrante de sua carreira?
Murilo – Foi. Já tive momentos difíceis. Derrotas, cirurgia no ombro, mas esse... Foi muita surpresa pra mim. Eu tinha me preparado pro início da temporada e me programando pra Olimpíada ser o fim de um ciclo na seleção. O corte foi completamente diferente do que eu tinha planejado.

Como recebeu a notícia de que estava fora?
Quando acabou a final da Liga Mundial na Polônia, a gente estava jantando e depois de um tempo o Bernardo me chamou. Conversamos por dez minutos, ele teve uma reunião com todo mundo e depois fez o corte.

Daria pra estar jogando hoje?
Não dá pra saber, cara. Hoje é fácil falar estando de fora. Eu estou treinado no Sesi, estou jogando, mas seleção é outro ritmo. Não quero falar que sim, porque é muito fácil agora falar que sim, mas também não quero dizer que não porque eu faria um esforço sobre-humano pra estar bem para a estreia. Acho que agora não vem ao caso falar disso.

Ficou alguma mágoa com o Bernardinho ou com a comissão técnica?
[Pensa] Não, não sei. Eu criei muitas expectativas pra esse ano. E tinha uma lesão, por mais que ela fosse pequena, tinha a lesão na panturrilha. Tinha que ser respeitado um prazo de repouso e às vésperas de uma Olimpíada eles não quiseram arriscar eu chegar sem ter treinado esses 15 dias. Foi uma opção deles. Não tenho mágoa. Só um pouco, assim... a falta de diálogo que a gente teve, o fato de não ter conseguido fazer uma ressonância lá na Polônia, de não saber a data do corte. Eu sempre achei que o corte seria próximo à entrada na vila [olímpica]... São coisas que eu fiquei pensando nos últimos dias, mas isso não vai mudar nada.

O grande problema foi a falta de diálogo?
Eu gostaria que tivessem sido mais transparentes comigo, mas enfim.

Gustavo, central da seleção campeã em Atenas-2004 e irmão de Murilo - Já me intrometendo, acho que poderia ter esperado mais dez dias, deixar o Murilo lá em tratamento. O Bernardo sempre teve isso de levar um ou dois jogadores a mais e depois, se for o caso, cortar. Talvez aí ele tenha errado. Ele podia ter investido mais porque tinha tempo. Mesmo que não desse certo, que tivesse que cortar, a presença do Murilo no dia a dia ia dar uma força para essa garotada.

Você concorda com seu irmão? Bernardinho poderia ter investido mais em você?
Murilo - Tudo que eu falar hoje vai só prejudicar. Não vai ajudar nada. Se eu um dia, acabou a Olimpíada, e me der vontade de fazer um desabafo, dizer o que eu passei, como me senti, eu vou fazer. Mas agora não é o momento. Não vai resolver nada, não adianta, passou, não fui. Infelizmente estamos vivendo essa situação agora [duas derrotas seguidas], mas temos que confiar que a gente vai classificar, e que o time vai crescer na hora certa. Qualquer coisa que eu falar acho que vai atrapalhar.

Jaqueline fala sobre Murilo

A passagem de Murilo pelo Rio de Janeiro não deverá ter a presença do ponteiro no Maracanãzinho. Ao menos foi o que garantiu a ponteira Jaqueline, mulher de Murilo, que explicou a situação.

"Murilo está aqui no Rio de Janeiro, mas não quis vir, porque isso deu uma balançada nele. Ele ficou muito triste. Nunca vi Murilo chorar dando entrevistas. Na minha vida, estou 17 anos com ele, nunca vi ele chorar. Não, vi quando foi campeão mundial e melhor do mundo e agora. Então, quando isso acontece, mexe muito com ele. Mas ele está torcendo muito pelos meninos, está muito triste por esses dois jogos que perderam. Sempre conversa comigo, mandando dar recado para os meninos. É difícil para ele", falou a jogadora.

Jaqueline ainda afirmou que conversa constantemente com o seu marido, que está aproveitando o corte na seleção para ficar com o filho Artur. "Falo com ele o tempo inteiro. Inexplicável ele estar longe daqui, mas pelo menos o Artur está com ele. É o momento dos dois, momento de estarem juntos. Lógico, Murilo queria estar aqui. Mas está com o nosso filho, nesse momento, torcendo por mim e vendo eu entrar e ajudar a equipe a ganhar", completou sobre o Dia dos Pais longe de Murilo.

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Depois de perder para Estados Unidos e Itália, a seleção brasileira joga um confronto de vida ou morte com a França nesta segunda, às 22h35 (de Brasília). Os irmãos Endres disseram que vão torcer como se estivessem no time e se mostraram confiantes na classificação.

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