! Por que o vôlei de praia em Copacabana é a cara da Olimpíada carioca - 15/08/2016 - UOL Olimpíadas

Olimpíadas 2016

Por que o vôlei de praia em Copacabana é a cara da Olimpíada carioca

Felipe Pereira e Taís Vilela*

Do UOL, no Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro mudou a história do vôlei de praia e, consequentemente, do próprio Brasil dentro dos Jogos. A modalidade engatinhava no profissionalismo em 1987, quando a hoje cidade olímpica recebeu em Ipanema o primeiro Mundial. Junto com Copacabana, a praia sede do torneio pioneiro havia sido, alguns anos antes, palco da explosão da modalidade. Desde então, o vôlei jogado com óculos escuros passou por uma revolução, muito por causa daquela combinação de saques dos então astros das quadras com a areia cultuada pelos cariocas.

Daquele Rio dos anos 1980 até a arena olímpica de 2016, vários passos foram dados. Um dos mais importantes ocorreu em 1993, quando a relação do Rio com o esporte foi reforçada na cerimônia que incluiu o vôlei de praia no programa olímpico - o evento ocorreu em “Copacabana, que foi essencial para o processo de expansão do vôlei de praia para o mundo”. Quem afirma é o ex-jogador Franco, dirigente da equipe olímpica do vôlei de praia do Brasil. Ao lado de Roberto Lopes, ele formou a primeira dupla brasileira campeã mundial.

A contribuição dessa relação para o Brasil apareceu logo em 1996, quando a modalidade fez sua estreia olímpica nos Jogos de Atlanta. Desde então, o vôlei de praia rendeu ao país 10 medalhas - 2 de ouro, 6 de prata e 2 bronze. O primeiro ouro veio carregado de ineditismo. Primeiro porque Jacqueline Silva e Sandra Pires se tornaram as primeiras brasileiras vencedoras de um ouro olímpico; segundo porque foi uma final nacional, com Mônica Rodrigues e Adriana Samuel ficando com a prata. Em comum, todas compartilharam das areias cariocas.   

Jackie, como a campeã é chamada, vê no cotidiano do Rio exemplos da força da ligação dos cariocas com a modalidade. Segundo ela, tem gente que joga há décadas na mesma rede, na mesma praia. “É uma tradição carioca. Se olhar a praia, vai achar que é um paliteiro de tantas estacas de voleibol. É determinante. As pessoas frequentam aquela rede”, conta.


Encontro com os EUA
 

O contexto da relação espiritual do Rio com esse esporte coincide com o projeto de profissionalização do vôlei de praia nos Estados Unidos, onde ele foi criado nos anos 20, no sul da Califórnia. No início dos anos 1980, o Posto 6, em Copacabana, já recebia vários torneios amadores. Faltava, no entanto, uma estratégia ao estilo Made in USA para o vôlei de praia dar um salto maior.

Esses dois mundos se uniram em 1987, e a virada veio em escala global. Naquele ano, os grandes nomes dos Estados Unidos, além de jogadores de outros oito países, se juntaram a atletas nacionais em Ipanema para o primeiro Mundial. Começava o boom.

Os americanos dominaram as primeiras edições. Randy Stoklos ganhou o Mundial cinco vezes entre 1987 e 1992. Ele e o companheiro Sinji Smith eram chamados de “Reis do Rio”. “Nesse período, o esporte explodiu de um jeito que foi parar nos Jogos Olímpicos”, lembra Stoklos.

Aqueles domingos de sol ficaram marcados na memória da cidade. Os primeiros torneios foram em Ipanema, mas a faixa de areia mais larga de Copacabana permitiu uma arena de 12 mil lugares, número ainda inferior à quantidade de torcedores interessados em ver os jogos.

Stoklos, Franco e Jaqueline lembram que logo às 6h, quando acordavam para o café da manhã, assistiam à animação de uma fila que dava a volta na arena. Durante os jogos D’Artagnan, torcedor símbolo, comandava a charanga.

Os campeonatos eram transmitidos para os Estados Unidos e o narrador da ESPN tentava explicar aos telespectadores o significado de “lê lê lê leôôô”. Contava que era um canto vindo das arquibancadas do futebol e traduzia a letra como “hey hey hey heyôôô”. Sobre as marchinhas de Carnaval e biquínis asa delta, nada dizia - ao contrário da curiosidade polêmica admitida pelas transmissões da NBC na Rio-2016.

Jogadores da geração de prata como Montanaro, Bernard e Renan foram recrutados para essas primeiras edições, mas não tiveram sucesso frente aos norte-americanos. O título veio somente em 1993, com Franco e Roberto Lopes.

Uma justiça divina

Para Stoklos, esse período criou uma aura em torno de Copacabana. Nascia uma mística entre os praticantes - todos queriam jogar nas areias onde tantas disputas históricas haviam acontecido.

A praia virou algo como a quadra central de Wimbledon para o tênis, as ruas de Mônaco para a Fórmula 1 e, falando de praia, como North Shore, no Havaí, para o surfe. Copacabana receber uma Olimpíada é uma espécie de justiça divina.

Dono de medalhas de ouro, prata e bronze, Ricardo diz que tudo se deve ao que ocorreu em Copacabana no fim dos anos 80. “Não teria um lugar mais especial que Copacabana. Por aqui começou toda nossa história no vôlei de praia, os principais torneios. O início de toda essa geração que tá jogando foi vendo grandes campeonatos, grandes atletas”, afirmou.

Não precisa ser atleta ou ex-atleta para estar feliz. Wilson Silveira vai completar 50 anos de Posto 6 em dezembro e sente orgulho da arena olímpica montada em Copacabana. Ele sabe que o esporte não foi feito apenas com campeões e grandes partidas. Também teve ajuda do torcedor.

*Colaborou Gustavo Franceschini

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