Olimpíadas 2016

Bronze de Scheidt é improvável. Mas você duvida de quem ganhou 14 mundiais?

Guto Moreto/O Globo/NOPP
Robert Scheidt, velejador brasileiro da classe Laser, na Marina da Glória imagem: Guto Moreto/O Globo/NOPP

Bruno Doro

Do UOL, no Rio de Janeiro

Robert Scheidt tem 43 anos, dois filhos e uma das carreiras mais vitoriosas do esporte em todo o planeta. Não havia necessidade, então, dedicar os últimos quatro anos a um desafio fisicamente desgastante ou passar meses viajando atrás de competições pelo mundo. Só que Scheidt é um vencedor nato e topou o desafio.

Ele chega, nesta segunda-feira (15), à regata da medalha olímpica (marcada para 13h) com chances de conquistar o bronze. Seria sua sexta medalha em Jogos Olímpicos, um recorde para o esporte olímpico brasileiro e para a vela mundial – hoje, ele divide o posto de  maior medalhista da modalidade com o também brasileiro Torben Grael e com o inglês Bem Ainslie.

“Olhando para trás, eu tinha 20 anos na minha primeira Olimpíada. Muito mudou na minha vida. Eu sou pai de duas crianças e muito mais coisas para me preocupar na vida do que o esporte. Mesmo assim, é um privilégio estar aqui e ter condições de lutar por uma medalha. O maior objetivo de qualquer atleta é poder competir”, filosofa.

Combinação para o bronze

O pódio é improvável, é verdade. Em quinto lugar, ele precisa colocar quatro barcos entre ele o terceiro colocado atualmente, o neozelandês Sam Meech. Além disso, ainda precisa terminar na frente do francês Jean Baptiste Bernaz. Tudo isso em uma regata curta e com apenas dez barcos.

“Eu olho para o lado positivo. No ano passado, no evento teste, eu cheguei nesse momento sem chance nenhuma de medalha. Hoje, estou lutando por uma. O segredo é ser agressivo e partir para cima”, avisa.

Ele pode achar difícil, mas se tem alguém no esporte nacional que pode fazer isso é ele. Afinal, são 176 títulos em quase 35 anos, incluindo 14 Mundiais em duas classes diferentes e duas medalhas de ouro olímpicas. E a simples presença do atleta por aqui já é uma reviravolta marcante.

Quando o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos, Scheidt estava em outra classe, a Star, um barco para dois velejadores, muito diferente do Laser atual. Esse é um barco individual, extremamente técnico, mas que exige demais do físico dos atletas. A maioria de seus rivais está na faixa dos 20 anos.

Quarentão. E com barco ruim

Um dos poucos da geração de Scheidt na Laser que segue competindo é o português Gustavo Lima. Ou melhor: seguia. Campeão mundial em 2003, ele foi o 22º na Rio-2016 e avisou que não deve seguir na vela olímpica. “É desgastante. E financeiramente, sem apoio é complicado”, diz. “É bom lembrar de Robert Scheidt. O que eu o vi fazer nessa semana, com ventos fortes, é inatingível para qualquer atleta de outra modalidade aqui nessa Olimpíada. Ele está a disputar uma medalha aos 43 anos após ter ficado longe da classe Laser por oito anos. E está a provar que, em termos físicos, ainda é capaz”, analisa.

E não é só isso: segundo o português, Scheidt está fazendo isso com um equipamento inferior. Na classe Laser, os barcos são da organização e sorteados antes das competições. Os barcos são iguais, mas nem mesmo o processo de fabricação mais moderno evita que diferenças sutis apareçam. E, nesse nível, um mastro um pouquinho mais flexível ou um barco gramas mais pesado faz a diferença. “Infelizmente, a classe Laser tem uma característica que é de receber o material da organização. Infelizmente, eu e ele recebemos um material que não é o top. A Laser é uma classe que exige muito do aspecto físico e o Robert pagou um bocadinho essa fatura. Espero que ele fique com a medalha”.

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