Polo Aquático

Referência, técnico critica naturalizações na montagem da seleção

Laszlo Balogh/Reuters
Felipe Perrone em ação durante Brasil x Japão no polo aquático: País apostou em naturalizações para formar time da Rio-2016 imagem: Laszlo Balogh/Reuters

Da EFE

Especialista em desenvolver o polo aquático em países onde o esporte ainda não decolou, o brasileiro Ricardo Azevedo, técnico da seleção feminina da China nos Jogos do Rio de Janeiro e radicado nos Estados Unidos, afirmou que aceitaria um convite para retornar ao país, mas fez críticas sobre como o megaevento está sendo usado para fomentar a modalidade por aqui.

"Sou um profissional. Vou aonde quiserem pagar meu salário, mas, ao mesmo tempo, aonde pensam em fazer crescer o esporte. Fiz o polo aquático crescer nos Estados Unidos, metade do time italiano jogou comigo quando eu estive lá por cinco anos. E você pode ver que a China joga contra qualquer um atualmente. Para mim, se o Brasil tiver aspiração de crescer no futuro, considerarei (um convite). Seria uma grande honra", disse em entrevista à Agência Efe.

Ricardo, que jogou pela seleção brasileira entre 1973 e 1981 antes de se mudar para os Estados Unidos e virar técnico referência mundial, não conseguiu evitar as críticas sobre como a montagem da equipe para os Jogos do Rio pode ter sido equivocada visando o futuro do polo aquático do país.

"É difícil criticar qualquer um, mas, para mim, você tem que usar a Olimpíada no seu país para fazer crescer um programa. Do programa virá um grande time, como fez a Espanha, como fez a Grécia. Se você faz a Olimpíada para criar um time, você terá, sim, um timaço. Mas, no futuro, o que você aprendeu?", questionou o treinador.

Para os Jogos do Rio de Janeiro, o Brasil apostou em naturalizar e repatriar alguns grandes nomes da modalidade para tornar a equipe competitiva para o torneio olímpico. Da Croácia, vieram o técnico Ratko Rudic, que conquistou o ouro em Londres 2012, e o centro Josip Vrlic, um dos melhores do mundo. Também se uniu ao time o sérvio Slobodan Soro, que tem duas medalhas olímpicas no currículo.

Outros, que tinham ligações com o Brasil, mas atuavam por outros países, foram trazidos de volta. O principal jogador que passou pelo processo foi o atacante e capitão da equipe, Felipe Perrone, que já foi eleito melhor do mundo e nasceu no Rio de Janeiro, mas atuou durante muito tempo pela seleção da Espanha.

No entanto, para Ricardo Azevedo, o processo deveria ter sido diferente. Em vez de investir no topo e ter um bom desempenho nos Jogos Olímpicos disputados em casa, o Brasil precisa desenvolver e buscar novos talentos para montar grandes equipes no futuro. Na avaliação do técnico brasileiro, o resultado no Rio 2016 tem "algum valor" em atrair jovens atletas, mas não é um fator principal.

"O principal é fazer escolinhas, treinar os técnicos, fazer conhecimento do polo aquático, fazer crescer os jogadores de 12, 13, 15 e 16 anos. Para mim, essa é a parte importante quando você vai desenvolver o esporte. Fazer pessoas que já tem 30 anos evoluírem, quando acaba a Olimpíada, elas vão se aposentar. O que ela trouxe ao país? Certamente trouxe a honra de ganhar uma medalha, de jogar uma Olimpíada, mas, no longo prazo, para mim, não fez tanto", avaliou.

"Você vê a equipe da Grécia, foi feita em 2004. Me lembro de todos esses garotinhos quando eram pequenos. As equipes da Espanha foram feitas todas em 92. Eles evoluíram aquela criançada. Se o que o Brasil está fazendo vai fazer o mesmo, aí, para mim, vale a pena", completou o treinador sobre a estratégia brasileira.

Se Ricardo não descarta um retorno ao Brasil, seu filho, Tony Azevedo, que conquistou a medalha de prata no polo aquático em Pequim 2008 pelos Estados Unidos, já acertou sua volta ao país. Mas não ainda pela seleção brasileira. O jogador vai defender o Sesi-SP a partir de setembro, mas o técnico acha que Tony, de 34 anos, não terá mais um ciclo olímpico. Ambos, porém, compartilham um sonho.

"Ele tem 34 anos, não sei se irá voltar para sua sexta Olimpíada. Ele adora o Brasil. Um dos grandes sonhos dele, e meu também, é fazer o esporte crescer aqui. Não crescer um time no Brasil, mas fazer crescer o esporte. Quando acabarem os Jogos do Rio, esse time, basicamente, 90% dele, para de jogar ou volta para seus países. A gente tem que fazer crescer o esporte, não o time", destacou.

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