Golfe

Lenda do golfe chama atletas que temem zika de mimados: "Vão se arrepender"

Andrew Boyers/Reuters
'Ter no seu currículo ?atleta olímpico? é uma coisa enorme', diz Gary Player (foto) imagem: Andrew Boyers/Reuters

Adriano Wilkson

Do UOL, no Rio de Janeiro

Você pode não saber, mas Gary Player, um senhor pequeno e octogenário de pele muito clara (ultimamente bem tostada pelo sol carioca), é um dos maiores jogadores da história do golfe.

“Você é uma maldita lenda, Gary!”, gritou um garoto norte-americano vestido com uma espécie de pijama branco, azul e vermelho enquanto esperava por um autógrafo do ídolo neste sábado, durante o torneio olímpico de golfe, no Rio. “Você é o meu herói, Gary”, brincou um amigo dele.

Sul-africano, conhecido no mundo do golfe como o Cavaleiro Negro, Gary estava realmente vestido todo de preto desde as 6h da manhã. Após percorrer os 18 buracos do campo e liderar os atletas de seu país que buscam uma medalha no Rio, ele se aproximou dos jornalistas para elogiar o Brasil e criticar os jogadores de ponta que se recusaram a participar do retorno do esporte ao programa olímpico após 112 anos.

O medo de se contagiar com o vírus da zika foi o motivo alegado por dez golfistas, entre eles quatro do top 10 mundial, para não vir ao Rio.

“Eles vão se arrepender muito um dia”, disse Gary Player, que já ganhou 165 torneios em seis continentes e é considerado por muitos um dos três maiores golfistas da história. “Porque ter no seu currículo ‘atleta olímpico’ é uma coisa enorme.”

Enquanto opina, o Cavaleiro Negro distribui autógrafos e sorrisos a crianças, a maioria asiáticas, que se reúnem para tietá-lo.

“Falando de zika, eu não vi nenhum mosquito aqui. Mas na Ásia e na África você tem malária, que é 10.000 vezes mais perigosa, e esses jogadores que não vieram jogam nesses países. Para mim não tem sentido, 100% nonsense.”

Um repórter então pergunta à lenda-viva do golfe se ele sabe o que de fato teria levado atletas como o norte-irlandês Rory McIlroy, dono de quatro títulos de Majors e natural favorito a um pódio olímpico, a abdicar de vir ao Rio.

“É porque eles são mimados”, respondeu o sul-africano. “Eles deveriam vir pelo golfe, o golfe os transformou em homens ricos. Se não fosse pelo golfe eles seriam pobres.”

Mas será que alegar medo do zika não teria sido apenas uma desculpa que esses atletas usaram para não participar da Olimpíada e priorizar torneios mais atrativos financeiramente? Nesse caso, a decisão não seria justificável?

“É errado”, disse Gary Player. “[O verdadeiro motivo] pode ser dinheiro, agenda, mas minha agenda é mais cheia do que a deles e eu tenho 81 anos!. Eu fui da Inglaterra à África do Sul para um jantar das Olimpíadas e depois para um vilarejo negro em um ônibus, e eu paguei minha própria passagem!”

Ele não cansa de distribuir autógrafos e posar para fotos. Diz que o Brasil é um paraíso e aponta o horizonte após o campo de golfe, construído dentro de uma reserva ambiental. Depois pergunta: “Não é?”

“Veja essas crianças. Doze, treze, quinze anos! Não é maravilhoso que elas conheçam um velho de 81?”, pergunta ele, sempre sorrindo. “O golfe é maravilhoso.”

O torneio masculino de golfe da Olimpíada termina no domingo.

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