Direto da Jamaica: Vilarejo de Bolt tem vida pacata e ode ao herói
Usain Bolt está pronto para fazer história no Rio de Janeiro e tentar o tricampeonato olímpicos dos 100 m, 200 m e revezamento 4x100 m. E bem longe dali, na Jamaica, mais precisamente na cidade de Sherwood Content, amigos de infância, ex-professores e parentes estarão na frente da TV torcendo pelo herói nacional.
Sherwood Content é um município para lá de pacato, cujo quase tudo gira em torno de Bolt, que estreia nos Jogos neste sábado com as eliminatórias dos 100 m.
O UOL esteve lá pouco antes do início da Olimpíada. E por onde quer que passasse, os moradores falavam com orgulho do filho prodígio. Na entrada do povoado um pequeno monumento com a imagem de Bolt já mostra que você chegou à terra do "Homem Mais Rápido do Mundo".
Mas chegar lá exige tomar a estrada e viajar cerca de três horas de carro da capital Kingston. Grande parte da viagem é feita por uma rodovia de excelente qualidade inaugurada há pouco tempo e mantida por uma empresa chinesa. Mas os 30 minutos finais são por uma estrada sinuosa de mão única na qual carros dividem espaço com caminhões. Ao lado corre um rio no qual alguns turistas se divertem fazendo rafting.
Ao verem que você é estrangeiro e está com uma câmera todos em Sherwood Content sabem que você quer falar de Bolt. Quase todos são solícitos e atenciosos. Outros não se intimidam em pedir dinheiro em troca de entrevista. Mas com um pouco de papo tudo se resolve sem desembolsar nenhum trocado.
Em uma singela vendinha de esquina decorada com imagens de Bolt em diversos momentos de sua carreira o atendente Milton Nettleford se orgulha de ter estudado com o velocista em sua infância e exalta o seu talento no críquete. Para quem não sabe, o esporte era o preferido de Bolt.
"Ele era um dos melhores rebatedores e arremessadores, no futebol não era tão bom, mas no críquete poderia ser um dos melhores do time. Ele tinha muito talento, porque sempre correu bem", conta.
Um pouco mais ao lado em uma espécie de lotérica local Artnell James faz ode ao herói. Gente comum que viu Bolt crescer e ganhar o mundo. "Eu amo Usain Bolt", diz.
Tia mantém lojinha de lembranças
Lilly, a tia de Bolt, vive na cidade e aproveita para ganhar algum dinheiro dos visitantes que passam pela região, conhecida pelo ecoturismo. Ao lado de sua casa, mantém uma lojinha com camisetas e souvenires do homem mais famoso da Jamaica.
Não é adepta a entrevistas, mas abre exceção ao UOL e fala do Bolt como pessoa e não como o atleta que atrai multidões.
"Usain é natural. Ele é uma pessoa com amor. Ele foi criado deste jeito, um cara simples, ele ama todo mundo. Se você o parar ele terá tempo de dizer oi para você", se orgulha.
A poucos metros dali, os pais de Bolt vivem em uma casa de alto padrão. No dia da visita da reportagem, eles não estavam. Mas carros de luxo tomavam conta da garagem e um amigo da infância tomava conta do local.
Em escola primária, TV vai ser colocada para ver a Rio-2016
Na escola onde Bolt começou seus estudos ainda criança, sua professora na infância guarda um livro com recortes de toda a trajetória do corredor. Livro este que pretende aumentar após a Olimpíada do Rio. E a cada vez que o jamaicano pisar na pista no Rio, uma televisão estará ligada para acompanhar as provas. A maioria das pessoas do povoado se reunirá ali para ver o filho pródigo escrever história mais uma vez.
"Estamos todos esperando o momento da Olimpíada", conta Sharon Sivewright.
Visitas à Sherwood Content sempre acontecem no fim do ano
Usain Bolt treina e vive em Kingston e por causa dos campeonatos e inúmeros compromissos não é sempre que encontra tempo para voltar a Sherwood Content. Mas faz questão de ir ao local no dia 26 de dezembro. Na Jamaica, colonizada por ingleses, a data é conhecida como Boxing Day, no qual é feita a troca de presentes.
E Bolt sempre dá para crianças coisas básicas para o dia a dia como brinquedos, mochilas e calçados.
"É uma hora em que todos querem estar perto, tocá-lo. Fazer fotos", conta Sharon.
Escola onde começou no atletismo lembra colégio militar
Usain Bolt começou a praticar o atletismo quando estava na High School (equivalente ao Ensino Médio do Brasil). O colégio chamado William Knibb tem regras rigorosas. Nele o uniforme é obrigatório e portões controlam a passagem de estudantes de um lugar ao outro. Entrevistas foram proibidas pela diretoria da escola apesar de terem aberto portas para visitas.
E lá ainda está o campo onde deu as primeiras passadas para se tornar o velocista que é hoje. O local não tem pista de atletismo. É um gramadão, onde também há prática de críquete. Mas isso deve mudar dentro de alguns meses. O espaço passa por uma reforma para dar melhores condições de práticas esportivas aos estudantes.
A direção não revela se há ajuda de Bolt no projeto, mas exibe de forma orgulhosa um ônibus que foi dado pelo velocista.