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Brasileiros 'premiam' golfe com silêncio, mas pedem selfie até no banheiro

Bruno Freitas/UOL
Golfista Adilson da Silva para para tirar selfie com torcedor no meio do jogo na Olimpíada imagem: Bruno Freitas/UOL

Bruno Freitas

Do UOL, no Rio de Janeiro

Coube aos brasileiros viverem a experiência da histórica volta do golfe à Olimpíada, após a modalidade ficar 112 anos fora do programa oficial. Na última quinta-feira, mesmo com pouca familiaridade com a cultura desse esporte, a torcida anfitriã se esforçou para cumprir a etiqueta típica dos golf clubs. Foram raros os momentos de exceção. O público se adequou ao código de silêncio na maior parte do tempo, mas saiu da linha ao perseguir o golfista da casa Adilson da Silva até o banheiro em uma pausa forçada no meio do jogo.

Com mais uniformes de times do futebol do que camisas polo - o uniforme padrão dos fãs dos tacos -, os brasileiros que foram ao Campo Olímpico na Barra da Tijuca mostraram disposição para percorrer toda a instalação olímpica. Ao contrário de outras modalidades, o golfe permite um contato quase corpo a corpo com os atletas. É possível acompanhar uma tacada a poucos metros do ídolo. No entanto, o pré-requisito básico para a experiência é um mínimo de preparo físico para aguentar a maratona a pé - movimentação por 18 buracos ao longo do campo, em algumas horas seguidas de disputa. 

O gaúcho Adilson da Silva cativou o público iniciante com algumas boas tacadas e, sobretudo, pela simpatia em retribuir a atenção. Mas, numa pausa improvisada, logo após concluir o 10º buraco, o jogador foi cercado por torcedores. Na saída do banheiro, o atleta da casa precisou ter paciência para tirar algumas selfies antes de voltar para a disputa que o aguardava. Uma mera quebra de protocolo, sem prejuízos ao ritmo de competição. 
 
A torcida brasileira começou tímida, captando aos poucos a linguagem de sinais dos oficiais de campo, para saber quando se manifestar e em que momento permanecer em silêncio. Mas, aos poucos, o público da casa foi se soltando com gritos isolados de "Vai, Da Silva", "Vamos virar", "Vamô, brother" ou "Vai, Santa Cruz" - este último em uma manifestação clubística de um espectador pernambucano.
 
A maioria dos presentes demonstrava alguma dificuldade em entender o sistema de pontuação ou então a ordem de ação dos golfistas. No entanto, tinha brasileiro expert no esporte na Barra da Tijuca. Um deles fez questão de oferecer demonstrações de conhecimento aos compatriotas, elogiando os estrangeiros com gritos de "nice shot" ("boa tacada", em inglês) ou pedindo para o resto dos torcedores pararem de caminhar até que o golfista da vez desse sua tacada.  
 
"Não estou entendendo tudo o que acontece, mas é bem divertido. O bom da Olimpíada é poder conhecer novos esportes", disse Kátia Ferreira, turista de São Paulo, que acompanhou a sessão de quinta ao lado de uma amiga.
 

Bronca de sul-coreano e canadenses

 
O espírito olímpico estava no ar entre a torcida brasileira, humilde na tarefa de digerir a cultura do golfe. Mas em alguns instantes a espontaneidade nacional veio à tona, gerando breves reações de contrariedade de estrangeiros. Em um desses momentos, brasileiros que conversavam enquanto que o sul-coreano Byeong Hun An preparava uma tacada foram repreendidos por seu caddie (carregador de tacos e auxiliar do golfista).
 
Mais adiante, um grupo de torcedores desatentos acabou se posicionando bem na trajetória do golpe que o canadense Graham DeLaet estava prestes a executar. Avisados, os espectadores se moveram rapidamente para uma área segura. Pouco depois, um brasileiro que atendeu o celular levou uma bronca um pouco mais ríspida de um fã do jogador do Canadá. 
 
No geral, os brasileiros proporcionaram um ambiente divertido para os competidores, animando Adilson da Silva em cada tacada e aplaudindo respeitosamente as progressões de An e DeLaet, o segundo melhor do dia.
 

Brasileiro do Zimbábue

 
Adilson da Silva entrou para a história ao executar a primeira tacada do golfe em uma Olimpíada desde 1904, quando o evento foi realizado em Saint Louis, nos Estados Unidos.Pouco conhecido dos brasileiros, o gaúcho de 44 anos caiu nas graças do público que compareceu ao campo da Barra da Tijuca, principalmente em razão de sua simpatia com as demonstrações de incentivo. Único representante nacional na competição masculina, Da Silva conquistou a classificação aos Jogos por mérito, sem depender da vaga garantida ao país sede.
 
Natural de Santa Cruz do Sul, Adilson começou no esporte como carregador de tacos. O brasileiro foi levado para o Zimbábue por um fazendeiro há mais de 20 anos. Então, no continente africano, iniciou sua carreira profissional, ao mesmo tempo em que trabalhava como garçom para se sustentar. Estudava inglês à noite, decorando um dicionário que havia levado do Brasil. Hoje o golfista vive em Durban, na África do Sul, e disputa os torneios do circuito sul-africano e do circuito asiático.
 
Na quinta-feira, Adilson teve o 34º melhor desempenho. O resultado mais destacado da estreia do golfe nos Jogos do Rio de Janeiro ficou com o australiano Marcus Fraser, em dia marcado por dificuldades impostas pelo vento. 
 
A disputa masculina no Rio prossegue até domingo. A partir de quarta-feira (17), será a vez das mulheres estrearem. Nesta disputa específica, a representante do Brasil será Miriam Nagl, 35, natural de Curitiba. Filha de alemães, a jogadora foi criada na Europa e começou a praticar o esporte na adolescência. Atualmente, compete no Ladies European Tour, principal circuito de golfe da Europa.

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