Hóquei na Grama

Público se diverte com surras do Brasil no hóquei e delira com "Safadão"

UOL
Patrick Van de Heijden, o "Safadão", tira foto com fã após o jogo imagem: UOL

José Ricardo Leite

Do UOL, no Rio de Janeiro

O torcedor brasileiro que gosta apenas de ganhar não deve nem passar perto de um lugar: o Centro de Hóquei de Deodoro, onde a seleção masculina, ainda em fase de desenvolvimento no esporte, tem perdido de goleada todas suas partidas na Olimpíada do Rio. Mas quem costuma aparecer por lá parece nem ligar para isso e faz a festa.

Mesmo como país-sede, a seleção brasileira foi ameaçada de não participar dos Jogos e teve exigida uma qualificação técnica, obtida numa missão épica no Canadá (leia mais abaixo). E no debute em Olimpíada, já teve que encarar potências como Bélgica, Reino Unido, Espanha e Nova Zelândia.

Até agora, em quatro partidas, teve apenas um gol a favor e outros 37 contra, um impressionante saldo negativo de – 36, disparado o maior do torneio. Mas as goleadas fazem a torcida ter um comportamento mais “relax”, e não por isso menos barulhento.

Na última quarta-feira (10) à noite, era dia de frio e chuva no Rio de Janeiro. Mesmo assim, a arena de hóquei secundária, com capacidade para cinco mil pessoas, tinha mais da metade de sua capacidade ocupada, e com muito barulho.

Tamborins, palmas e gritos foram ouvidos durante todos os 40 minutos, e cada gol que saía a animação não baixava. “Eu acredito”, gritavam, em tom irônico, quando o time perdia de 5 a 0 para a Nova Zelândia ainda no segundo quarto. “Pelo menos um, pelo menos um” suplicavam em coro pedido para ao menos um golzinho pra se celebrar. No momento em que a partida estava 7 a 0, se juntaram para gritar “Uh, vai virar, uh, vai virar”.

Ainda bem que quem está ali não está nem aí se vai ganhar ou não. “A gente vem pra torcer pelo Brasil e fazer a nossa festa. Quem sabe não sai um golzinho pra fazer uma farra maior? Sabemos que é um esporte sem tradição e que ocorrem derrotas até vexatórias. Mas vale vir aqui pra brincar e se divertir”, falou Sebastião Santos, professor, que estava com a mulher e a filha. O tão pedido golzinho não veio, e o placar ficou em 9 a 0.

Safadão holandês do Brasil

O holandês naturalizado brasileiro Patrick Van de Heijden foi quem caiu nas graças dos torcedores, tudo por causa de seu cabelo com um rabo para cima, que lembra o do cantor Wesley Safadão. Foi a deixa para ganhar um apelido e virar o queridinho das arquibancadas, que não para de lhe chamar.

“Vai Safadão e Uh Safadão” são os coros mais gritados. Até o locutor entrou na onda, e no intervalo do jogo gritou o nome do cantor (ou jogador) e colocou um hit de sucesso do verdadeiro Safadão.

O holandês tem se divertido bastante. Após a derrota por 9 a 0 para a Nova Zelândia, foi chamado por vários torcedores para fazer fotos. Olhava meio incrédulo pelos gritos do apelido e meio sem entender por que queriam tietá-lo. Disse que ouviu Wesley Safadão pela primeira vez essa semana e não viu muita semelhança.

“Claro que isso me motiva mais, acho curioso isso de gritarem meu nome e é algo que uso pra dar um gás a mais. Às vezes preciso fico até ficar um pouco mais calmo e não correr tanto por causa dos incentivos. Mas, no fundo, claro que é algo muito mais positivo”, explicou ao UOL Esporte.

“Ouvi ontem pela primeira vez, mas antes nunca tinha ouvido falar dele. Gostei, é um som legal, mas eu prefiro outro tipo de música. Mas não temos muito a ver não, é apenas o cabelo que lembra.

Evolução após primeiro Pan

Apesar das já esperadas derrotas na primeira Olimpíada, os resultados mostram uma evolução da seleção nacional de hóquei sobre grama, que apareceu pela primeira vez em competição internacional de grande porte nos Jogos Pan-Americanos de 2007, por ser país-sede. Naquele torneio, levou um show de goleadas em seus cinco jogos, com direito a um histórico 19 a 0 para os argentinos. Os brasileiros fecharam a competição com 57 gols levados e apenas um feito. 

Apesar de ser sede dos Jogos de 2016, o Brasil não teve vaga certa no esporte e dependeu de uma sexta colocação nos Jogos Pan-Americanos de 2015, imposta pela federação internacional do esporte, para ter o direito de participar. O time feminino havia sido excluído pelo mesmo critério, falta de resultados no nível internacional. Caso o time masculino ficasse de fora, seria o único esporte em que o Brasil não teria nenhum representante em casa nos Jogos.

A equipe fez bonito e conseguiu chegar às semifinais, sendo eliminada pelos Estados Unidos apenas na disputa de pênaltis. Depois, perdeu a medalha de bronze para o Chile.

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