Hipismo

Por que um alemão está representando a Palestina na Rio-2016?

John McDougall/AFP
Christian Zimmermann participa do adestramento pela Palestina imagem: John McDougall/AFP

Daniel Brito

Do UOL, no Rio de Janeiro

Christian Zimmermann, 54, é alemão de Colônia mas apresentou-se com a bandeira da Palestina neste Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. É o primeiro cavaleiro palestino na história dos Jogos Olímpicos. Toda a delegação foi ao centro de Hipismo de Deodoro para vê-lo na prova de adestramento, na tarde de quarta-feira, 10.

É uma participação tão inédita quanto intrigante. Se analisarmos a história do século 20, quando a Alemanha ficou estigmatizada pelo holocausto, no qual milhões de judeus foram exterminados pelo então regime nazista, relações entre Alemanha e Israel tendem a ser tratadas com muita cautela. Da mesma maneira, qualquer relação entre alemães e palestinos é vista sob escrutínio, uma vez que palestinos e israelenses travam uma batalha sangrenta por território.

Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967, após o fim da Guerra dos Seis Dias. A Palestina é formada por dois territórios: a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Gaza foi “devolvida” aos palestinos há pouco mais de 10 anos, embora Israel ainda controle todos os acessos, e a Cisjordânia mantém-se ocupada por Israel, que não reconhece a Palestina.

A ideia de competir pela Palestina partiu em 2011, segundo Zimmermann. “Eu treinava com uma russa cujo pai era da Palestina. E nós conversamos muito sobre história da Alemanha e da Rússia, e também sobre o contexto da Palestina. Em algum momento, ali por 2011, ele me convidou para montar pela Palestina. Se eu montasse pela Alemanha seria só mais um entre tantos. Eu disse: ‘Por que não?’, e aceitei o convite. Mas aceitei pelos palestinos, e quero deixar claro, não fiz isso contra Israel. O que eu estou fazendo é para mostrar às pessoas o que se passa no outro lado [na Palestina]. Mostrar o que os palestinos têm passado, eles sofrem bastante. Na realidade, os dois lados sofrem bastante”, afirmou ao UOL Esporte.

É incomum ver alemães abraçando a bandeira palestina, que não é reconhecido pela ONU (Organizações das Nações Unidas), mas desde Atlanta-1996 compete como nação nos Jogos Olímpicos, reconhecido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).

Zimmermann é empresário, comanda uma empresa da família no ramo de comunicação e promoção de eventos. Conta que esteve uma única vez na Palestina, mas espera regressar lá após os Jogos Olímpicos do Rio-2016. Para chegar à Cisjordânia, ele teve que passar por Israel, e se disse chocado pelos imensos muros erguidos por Israel para separar as duas nações e controlar os acessos.

“Sou alemão, sei o que é ter um muro separando um país, uma cidade. Em Israel, vi mais muros e mais altos do que vi na Alemanha há um tempo atrás. Foi uma experiência muito emocional e agressiva. Como as pessoas podem pensar em construir um futuro para este mundo? No que eles estão pensando? Porque eu não vejo divisão entre as pessoas. Aqueles muros, o que eles estão dividindo ali? Ódio? Feridas? Qual sentimento? Eles precisam superar isso. Eu não posso dizer que falo pelos palestinos, porque não nasci la, não cresci lá, não vivo lá. Eu vi de fora, sou humilde para dizer isso, e eu não entendo”, declarou.

Zimmerman acredita que sua participação como alemão-palestino nos Jogos Olímpicos é um pequeno gesto para “construir uma ponte” entre os dois povos.

Em termos esportivos, o cavaleiro deixou a arena insatisfeito. Alegou nervosismo dele e do cavalo na prova de adestramento. Terminou o primeiro dia apenas na 28ª de 30 participantes. 

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