Empresa da Irlanda cedeu bilhetes da Rio-2016 a operadora de máfia cambista
A empresa irlandesa Pro10, revendedora autorizada de ingressos da Olimpíada de 2016, foi uma das fontes de ingressos da THG Sports, multinacional apontada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro como operadora de uma quadrilha para venda ilegal de bilhetes da Rio-2016. Segundo a polícia, os ingressos obtidos pela THG seriam vendidos por valores muito acima dos originais, o que confira crime de cambismo.
Dias antes do início da Olimpíada de 2016, a Pro10 enviou uma carta ao Comitê Organizador da Rio-2016 solicitando que os tíquetes da Pro10 fossem entregues a Kevin James Mallon, já no Rio de Janeiro. Mallon é um dos diretores da THG. Na sexta-feira (6), dia da cerimônia de abertura da Rio-2016, ele foi preso em flagrante num hotel da Barra da Tijuca.
No quarto em que Mallon estava hospedado, foram apreendidas 813 entradas para alguns dos eventos mais concorridos da Olimpíada --final do futebol masculino, cerimônia de encerramento etc. Boa parte delas nominalmente reservadas ao Comitê Olímpico da Irlanda. A Pro10 foi a empresa contratada pelo próprio comitê para revender os bilhetes destinados à entidade.
O UOL Esporte teve acesso à carta da Pro10 enviada ao Comitê Rio-2016. Na correspondência, a companhia identifica Kevin Mallon e menciona o número de seus documentos pessoais. Não informa, contudo, que ele é diretor da THG, cujas atividades no Brasil já vinham sendo monitoradas pelo Comitê Organizador.
Desde 2014, a THG oferecia pacotes de hospitalidade para eventos olímpicos, incluindo ingressos para o evento. A companhia manteve uma sede no Rio de Janeiro até o ano passado. Tinha também um time de vendedores focados na comercialização dos pacotes. A empresa, contudo, não tinha autorização para vender esses produtos.
Segundo a própria Polícia Civil, o Comitê Rio-2016 passou informações sobre a atuação da THG incluídas na investigação sobre a empresa. Com base nessas e em outros dados apurados por policiais, foi deflagrada uma operação para detenção de Mallon no Rio. O executivo já teve sua prisão preventiva decretada e está no presídio de Bangu.
A polícia informou também que acompanha as ações da THG no Brasil desde 2014. Naquele ano, o diretor-geral da companhia, James Sinton, chegou a ser conduzido a uma delegacia no Rio sob suspeita de integrar a máfia do ingresso da Copa do Mundo. Sinton foi liberado em seguida e deixou o Brasil.
O advogado da THG e de Kevin Mallon, Franklin Gomes, negou que a empresa ou seu diretor tenham cometido crimes no Brasil. Gomes disse que a empresa vendia pacotes com transporte, hospedagem e serviços para interessados a assistir eventos dos Jogos Olímpicos do Rio. Esse pacote, entretanto, não incluía ingressos.
Gomes disse que a prisão de Mallon é injusta. Ele afirmou já estar recorrendo em busca da liberdade de seu cliente.
A Pro10, empresa parceira do Comitê Olímpico da Irlanda para venda de ingressos da Rio-2016, foi procurada pelo UOL Esporte para explicar porque cedeu seus ingressos à THG. Não respondeu.
O Comitê Rio-2016 e o COI (Comitê Olímpico Internacional) informaram na terça que acompanham e apoiam o trabalho da polícia do Rio. Os órgãos disseram que não falarão sobre culpados e possíveis punições enquanto a investigação não for concluída.