Vela

Português sofre com garotões da vela e diz que veio ao Rio pela vista

Clive Mason/Getty Images
João Rodrigues, velejador português, compete na classe RS:X, no Rio de Janeiro imagem: Clive Mason/Getty Images

Gustavo Franceschini

Do UOL, no Rio de Janeiro

João Rodrigues está na sua sétima Olimpíada. Aos 44 anos, sofre com a concorrências dos rivais garotões que tem na classe RS:X e fala abertamente sobre como não espera grandes resultados no Rio de Janeiro. Na verdade, estar na Cidade Maravilhosa é um projeto mais pessoal que profissional. Encantado pelo Brasil e pela cidade-sede dos Jogos, o português adiou sua aposentadoria há quatro anos só para poder competir em um cenário tão bonito quanto o da Baía da Guanabara.

“Eu ia terminar em Londres. Com 40 anos, achava que já era tempo. Mesmo em Londres eu já não velejava grandes coisas, mas depois que soubemos que os Jogos seriam no Rio de Janeiro eu disse: ‘Ah, não é possível’”, diz o português sincero, aos risos com a lembrança. “Eu realmente queria muito acabar aqui, tem sido extraordinário. Velejar aqui... Não há melhor cenário que este no mundo. Hoje eu estava com um mexicano, nós vimos o cenário e... uau! Isso aqui é um lugar absolutamente maravilhoso para se velejar”, completou ele.

Reprodução/Facebook
João Rodrigues com amigos na Pedra da Gávea imagem: Reprodução/Facebook

A franqueza é uma marca de João, que competiu pela primeira vez em Barcelona, em 1992, e neste ano teve a honra de carregar a bandeira de seu país na cerimônia de abertura. Seu melhor resultado foi um sexto lugar em Atenas, em 2004. Hoje, ele comemora pequenas vitórias como a da última terça, quando chegou a velejar entre os primeiros em uma regata atípica, sem quase nenhum vento.

“Eu estava no lugar certo, virei na hora certa e depois consegui aguentar a regata toda. Eu já não tenho capacidade para acompanhar esses meninos, mas também decidi que ia dar tudo que tinha pra dar, até a morte”, disse ele após o feito que lhe rendeu a 11ª colocação. A diferença para a maior parte da flotilha, formada por jovens na casa dos 20 anos, no fim das contas, faz diferença.

“Alguns deles ainda não eram nem nascidos quando eu fui pela primeira vez para os Jogos Olímpicos, não deixa de ser uma coisa curiosa. Em alguns dias eu realmente tenho dificuldade de acompanhar os primeiros, isso é evidente. Eles conseguem ter mais força, virar mais depressa. Eu faço tudo como eles, mas eles fazem mais depressa”, conta Rodrigues.

Por saber tão bem de tudo isso, o adeus aos Jogos no Rio de Janeiro tem sido uma experiência diferente, a começar pela cerimônia de abertura. “Foi extraordinário. Em Barcelona, eu lembro que na abertura passaram uma bandeira enorme em cima de nós. Tinha um irlandês do meu lado que chorava compulsivamente. Não era um choro de tristeza, era uma coisa muito profunda. E eu chorei aqui. Eu e mais uns amigos meus. E foi nesse momento que eu percebi: ‘Ok, 24 anos depois, agora eu sei o que significa vir aos Jogos. Foi um momento tão bonito, tão bonito, que se tivesse acabado para mim ali já estaria ótimo”, diz ele, emocionado só de lembrar das cenas.

Parte de tudo isso, diz ele, se deve ao carinho dos brasileiros, que acenaram e demonstraram apoio à delegação portuguesa em todos os momentos, incluindo a ovação quando o time foi anunciado no desfile. “Isso diz muito da nossa relação, que é mais ou menos como uma relação de pai e filho. Você sente que o filho já foi embora, claramente ultrapassou o pai, mas continuam amigos, sabe? Respeitam um ao outro”, conclui João. 

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