Boxe

Para brasileiro, rota à Rio-2016 passou até por treino em ringue com vômito

AFP/Jack Guez
Robenilson de Jesus representará o Brasil no boxe da Rio-2016 imagem: AFP/Jack Guez

Eduardo Ohata

Do UOL, no Rio de Janeiro

Robenilson de Jesus, 28, troca golpes durante uma sessão de treino com luvas com um colega da seleção brasileira de boxe. Repentinamente, o baiano faz careta e o treinador, que observava a ação sobre o ringue com os atletas, se aproxima.

Ele nem se espanta quando Robenilson para de desferir golpes, o colega se afasta, e o baiano vomita sobre o ringue. Rapidamente o treinador, que segurava rodo e balde, limpa a lona. O treino recomeça como se nada tivesse acontecido.   

Durante dias, que se transformaram em semanas, a rotina foi a mesma. É que por conta da bactéria Helicobacter Pylori, Robenilson sofreu durante meses de forte gastrite, dores no estômago, perda de peso e náusea, que o impediram de participar do evento-teste da Rio-2016 no fim do ano passado.

“Ficava ao lado dele, aparava o vômito com o balde, ou já tinha o rodo e o pano para limpar quando escorria sobre o ringue”, lembra Mateus Alves, um dos treinadores da seleção brasileira.

“Sou um dos que há mais tempo está na seleção, sei que sou uma referência para os mais novos”, explicou Robenilson, sobre seguir treinando mesmo enquanto estava doente. “Meu estômago não segurava nada, se tomasse água, café, almoçasse, vomitava. Fiquei dois meses sem poder treinar, tive que tomar injeções na barriga para coagular o sangue.”

Adrees Latif/Reuters
imagem: Adrees Latif/Reuters

Robenilson, que esteve em Londres-2012, até as quartas-de-final, estreou nesta quarta na Olimpíada Rio-2016, contra o argelino Fahem Hammachi, venceu por pontos e garantiu uma vaga nas oitavas de final.

Além da infecção causada pela bactéria, Robenilson superou, antes da Rio-2016, um vasto histórico de doenças ou contusões.

No ano em que foi campeão dos Jogos Mundiais Militares, em 2011, no Brasil, havia fraturado as duas mãos poucos meses antes. A esquerda, em Porto Rico; a direita, em Cuba.

“Acabavam as lutas e eu já colocava minhas mãos no balde de gelo [para diminuir a dor]”, explica Robenilson. “Mas valeu a pena para ouvir o hino brasileiro dentro de casa. Foi uma emoção, há muito tempo não lutava no Brasil, a galera gritando meu nome...”

No ano seguinte, Robenilson diagnosticou-se um coágulo sanguíneo em um uma veia do braço. Por conta disso, acabou perdendo competições, porque foi proibido de fazer viagens aéreas por causa da pressurização. “Fiquei com medo de não conseguir fazer mais alguns movimentos porque o braço endureceu. Pensei que ia ficar lento, perder alguma coisa.”

Em 2014, fraturou novamente uma das mãos e, no ano passado, padeceu por conta do Helicobacter Pylori.

“Mas cheguei no fim de dezembro zerado. Após quatro endoscopias, finalmente viram que estava ‘limpo’. Isso me faz chegar à Olimpíada do Rio muito confiante. É a primeira vez que chegou a uma competição importante sem problema.”

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