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Carta branca a Neymar gera crise na seleção; jogadores questionam Micale

Lucas Figueiredo/MoWa Press
Neymar conversa com o treinador Rogério Micale e o auxiliar Odair Hellmann imagem: Lucas Figueiredo/MoWa Press

Dassler Marques e Vinicius Castro*

Do UOL, em Salvador

A dificuldade do comando da CBF e da comissão técnica em enquadrar Neymar no grupo da seleção brasileira tornou ainda pior o clima interno após os empates sem gols contra a África do Sul, na quinta-feira passada, e diante do Iraque, no domingo. A situação do Brasil no torneio é delicada, e exige uma reviravolta imediata. 

À reportagem, membros da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos se queixaram da postura de Neymar como líder da equipe, principalmente pelo que pode se chamar de carta branca concedida a ele. Os questionamentos no vestiário são pela falta de pulso dos comandantes em relação ao comportamento do capitão e ao fato de que, no Barcelona, sua postura normalmente é outra.

O próprio grupo de atletas, motivado pelos resultados ruins e pelo clima difícil, tem representantes que já não mostram a mesma confiança no trabalho do treinador Rogério Micale. Bastante ativo à beira do gramado na estreia, ele se resguardou no banco de reservas ao longo de boa parte do jogo com o Iraque.

Algumas declarações dele, ainda no início da preparação, também não repercutiram bem entre os atletas. Entre elas, a de que gostaria de ser dependente de Neymar e de que, se ele estivesse feliz, todos estariam. O status de 'presidente' da seleção, como foi chamado pelos jogadores mais jovens, acabou reforçado com a cessão da braçadeira. Enquanto alguns esperavam que o posto fosse de Fernando Prass, que acabaria cortado, o grupo tomou conhecimento de que Neymar seria o capitão ainda nos primeiros dias de trabalho. Inicialmente, a escolha foi bem aceita. 

Pessoas próximas a alguns dos jogadores também indicam insatisfação do grupo com a organização tática da equipe. As reclamações são de que a seleção brasileira joga de forma exposta aos adversários e que essa ideia de jogo sobrecarrega alguns atletas, em especial Thiago Maia, que distribuiu faltas contra o Iraque e acabou suspenso, além do próprio Renato Augusto.

A utilização de quatro atacantes ao mesmo tempo também é vista por parte do grupo como uma tática suicida e que deixa os defensores vulneráveis. O zagueiro Rodrigo Caio, em entrevistas, já havia feito ponderação sobre isso. Ainda há críticas até à utilização de Zeca, que joga pela esquerda no Santos, como lateral direito. Há a possibilidade de que, contra a Dinamarca, essa posição passe a ser do colorado William. 

Entre os mais criticados da equipe, Renato Augusto deu sinais de insatisfação com o papel que foi atribuído a ele no time. Publicamente, após Brasil 0 x 0 Iraque, ele admitiu que mudou de posicionamento quase por conta própria, após papo com o treinador, e que em alguns momentos do jogo preferiu se resguardar para dar mais respaldo ao sistema defensivo.  

"Não tenho como mudar isso (chega pouco à frente), porque é a forma como a equipe joga. Entendo da parte tática e por isso seguro mais. Quando o Rafinha entrou (aos 10min do segundo tempo), a gente tinha um jogador a mais no meio, e falei para o Micale que eu iria para a função de centroavante, para dar mais profundidade ao time", explicou Renato Augusto no último domingo. Ele teve a bola do jogo nos acréscimos, mas perdeu sem goleiro.  

Nesta terça-feira, a seleção volta a falar após uma segunda em silêncio. Mais uma vez, Renato Augusto assumiu a condição de líder da equipe e concederá entrevista coletiva ao lado de Rogério Micale. 

* Colaborou: Bernardo Gentile, em Brasília

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