Judô

Rafaela Silva tenta enterrar memória olímpica de depressão e racismo

Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ
Rafaela Silva: "Meu sonho é uma medalha olímpica e vou fazer o possível e impossível para isso" imagem: Marcio Rodrigues/MPIX/CBJ

Bruno Doro

Do UOL, no Rio de Janeiro

As Olimpíadas de Londres-2012 foram um marco para a carioca Rafaela Silva. Mas não por ser sua estreia olímpica. Quando ela perdeu para a húngara Hedvig Karakas, eliminada por tentar um golpe ilegal, a repercussão no Twitter foi péssima.

Ela leu todas as "trollagens" a seu respeito na internet e respondeu. O episódio de racismo ganhou repercussão e Rafaela, considerada uma das mais talentosas atletas que o judô brasileiro revelou nos últimos anos, achou que não tinha mais valor. Avisou seu técnico, Geraldo Bernardes, que não queria mais lutar. "Fizemos uma operação para recuperá-la. Não podíamos perder um talento assim", lembra o veterano de três Jogos Olímpicos, que levou Flávio Canto ao bronze em Atenas-2004.

O resultado dessa operação ficará à mostra na segunda-feira, a partir de 10h, na Arena Carioca 2, a casa do judô no Parque Olímpico dos Jogos do Rio de Janeiro. Competindo em casa, a poucos quilômetros da Cidade de Deus e onde foi campeã mundial em 2013, Rafaela é uma das favoritas a uma medalha olímpica na categoria até 57 kg.

"Disputar uma Olimpíada é importante para um atleta de alto nível. Todos sonham com uma medalha. E lutar em casa, com todos os seus amigos que sabem o que eu sofro, entendem a dor que eu sinto, estão do meu lado na minha tristeza e na minha alegria e sabem o que passo todos dias, é especial", fala a judoca.

Chegar a esse nível, porém, não foi fácil. Sua história de vida, nascida na Cidade de Deus e recrutada para o judô pelo Instituto Reação, de Flávio Canto, a tornavam uma peça delicada. Uma psicóloga trabalhou com ela semanalmente para convencê-la de sua importância. Ela acreditou. E a menina que brincava no treino e costumava dizer que competia melhor quando treinava menos se tornou um exemplo.

"Eu gosto muito de brincar durante o treino. Às vezes, fazia algo rápido e já saía para dar risada em outro lado. Às vezes, faltava concentração. Agora, com esse trabalho psicológico, eu estou conseguindo focar um pouco mais no que precisa ser feito, me acalmando", diz a judoca. "Parei com isso de que não podia treinar tanto. Nesse ano, mesmo, eu ganhei muita coisa e nunca treinei tanto".

Até por isso ela está pronta para dividir a experiência olímpica não com o público maldoso da internet, como fazia em 2012. No Rio, é pessoal: ela fez questão de comprar ingresso para os seis atletas que serviram de "sparrings" em seus treinos, Além disso, sua família e amigos estarão nas arquibancadas. "Vai ter muita gente que me conhece na arquibancada".

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