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Preparação de esgrimista argentina tem pão de queijo e caipirinha

Fernanda Schimidt

Do UOL, no Rio de Janeiro

Nem só de treinos e confinamento na Vila vivem os atletas durante as Olimpíadas. Apesar da concentração total e do foco nos resultados da competição, a esgrimista argentina María Belén Pérez Maurice, 31, principal nome da modalidade no país, conseguiu reservar um tempo para curtir um pouco o Rio de Janeiro.

“Adoro pão de queijo!”, disse ela, que chegou à cidade no fim de julho e aproveitou para se esbaldar nas promoções do salgado em vendas ao lado do BRT, com cinco pãezinhos a R$2. Mesmo com todo o esquema armado no trânsito carioca, com faixas exclusivas para as delegações fugirem de engarrafamentos, María Belén tem passeado de transporte público. “Ganhamos um cartão para usar na cidade. Então, temos andado de ônibus e BRT. Ou táxi”, contou em entrevista ao UOL Esporte.
 
A experiência olimpíca não é novidade para ela. Em 2012, foi a primeira argentina a competir na esgrima em uma Olimpíada. “Mas não tinha isso em Londres”, disse, apontando para a praia da Barra da Tijuca. “Nem caipirinha!” A bebida tipicamente brasileira é sua escolhida para os os momentos de relaxamento ao lado do treinador Lucas Saucedo, com quem namora há 14 anos. E qual é sua caipirinha favorita? “A de abacaxi. O Lucas é tradicional, prefere limão”, falou.
 
Outra diferença em relação à edição anterior dos Jogos são as poucas opções de entretenimento para os atletas na vila. “Londres era mais divertida. Tinha boate, salão de jogos, simulação”, contou. O jeito é aproveitar a cidade ao ar livre e nos shoppings, como o Barra, que fica próximo à vila. Lá, a atleta aproveitou para comprar biquínis na Rosa Chá e calças esportivas na Track&Field.
 
O balanço da comparação Rio-Londres, no entanto, é positivo. “É um privilégio estar aqui. Muitos poucos conseguem chegar aqui, tem de usufruir”. Saucedo é mais duro na crítica á postura “reclamona” de algumas delegações. “Os europeus reclamam de tudo, disso, daquilo. É tudo mentira”, falou. “Comigo foi tudo ótimo. É normal como todas as vilas”, acrescentou María Belén.
 
Seu atleta favorito atualmente é o jogador de basquete Manu Ginóbili, que atua na NBA pelo San Antonio Spurs e defende a seleção argentina. “Ele é um atleta completo. Campeão olímpico, joga na NBA, mas sempre que pode está na seleção. É sempre muito simpático, humilde”, disse.
 
Se cruzar com o ídolo na vila dos atletas, María Belén não sacará o celular da bolsa para pedir uma selfie com o conterrâneo. “Sinto vergonha. Não quero incomodá-los. Estão tranquilos aqui se preparando como todos os outros atletas” justificou. O treinador e namorado, Lucas Saucedo, lembrou de uma situação curiosa: “O Nadal estava almoçando e teve de tirar 20 fotos em poucos minutos”.
 
As refeições, no entanto, são o momento favorito do casal para socializar com os colegas de Olimpíadas. “Comi com a meninas do vôlei, foi muito divertido!”, disse a esgrimista. “É importante sobretudo para nós, de esporte individual, e ficamos muito tempo sozinhos”, completou Saucedo.
 
Passado de modelo
 
No início da carreira, com e pequena estrutura dada à esgrima na Argentina, María Belén tinha de arrumar bicos para ajudar a pagar as contas. Com um 1,80m de altura e rosto de traços delicados, a atleta se dividia entre os treinos e uma agência de modelos, fazendo trabalhos para publicidade. “Deixei de trabalhar assim que pude. Sempre quis ser atleta, não modelo”, disse. O know-how da profissão lhe rendeu desenvoltura para o ensaio de fotos exclusivo feito para o UOL na orla carioca.
 
Já nos últimos anos, a agenda da esgrimista teve de ser conciliada com os estudos universitários. Este, alías, é o motivo que não permitirá que aproveite mais o Rio ao fim da competição. “No dia 10, tenho de voltar para Buenos Aires para as provas”, contou ela, que se forma em dezembro em engenharia de alimentos. A escolha do curso foi feita com base em sua paixão pela comida. “Acho muito interessante como os alimentos são desenvolvidos e fabricados. É importante que o que a gente coma sirva para alimentar o músculo”, comentou. Para cumprir todos os compromissas como atleta, ela tem de contar com a ajuda da universidade. “Se estou na cidade, tenho de ir às aulas. Quando não estou, justificam a minha ausência”, falou.
 
Com a participação em Londres, Maria Belén sentiu uma grande diferença de interesse e investimento na modalidade. “Hoje dão mais importância. Você vê muitos argentinos nos jogos”, disse. O ponto alto de sua carreira, até o momento, foi o ano de 2014. Ela se tornou a primeira esgrimista argentina a ganhar medalha de ouro no Pan-Americano, ao vencer a medalista olímpica Mariel Zagunis. Também levou o bronze no Grand Prix de Nova York entre mais de 200 competidores.
 
Na manhã desta quinta-feira (4), a argentina descobriu sua primeira rival olímpica. O jogo de abertura na segunda-feira será contra a francesa Cécilia Berder no sabre individual. “Será um combate muito difícil, é a vice-campeã mundial”, comentou. Apesar da habilidade da oponente, María Belén contou que sua principal rival está em sua própria cabeça: “para poder superar certas situações. Não temos a mesma estrutura que os países europeus. Precisamos nos convencer de que ainda assim podemos ganhar”. E é aí que entra o papel crucial de seu técnico. “É o que ele fala, como ele fala, as exigências que faz”, finalizou.

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