Vanderlei Cordeiro, que soube se levantar, supera estrelas para ser notícia
No dia 30 de agosto, um dia após a Olimpíada de Atenas, em 2004, um brasileiro era destaque de vários jornais no mundo todo. Dia 6 de agosto de 2016, no Rio de Janeiro, a história se repete. Vanderlei Cordeiro não tem uma medalha de ouro para estampar nas fotos. Ele tem uma medalha de bronze, uma medalha de Barão de Coubertin e um registro histórico: acendeu a pira olímpica nos Jogos do Rio de Janeiro.
Vanderlei já tinha corrido mais de 1h50 de prova no dia 29 de agosto quando um padre irlandês furou o bloqueio para atrapalhá-lo. Um cidadão grego o ajudou. A prova seguiu. O brasileiro, líder, a 20 minutos do ouro, ficou com o bronze. Mas virou uma marca do espirito olímpico. Todos caem, mas poucos se levantaram como o maratonista de Cruzeiro do Oeste, no Paraná.
Na lista prévia de destaques para o momento da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, realizada nesta sexta-feira (5), estavam a jogadora Marta (cinco vezes eleita a melhor do mundo), Hortência (campeã mundial de basquete), Torben Grael (cinco vezes medalhistas e duas medalhas de ouro) e também Gustavo Kuerten, o ex-número 1 do mundo. Pelé fora convidado, mas não pode ir.
O grande título de Vanderlei? Representar quase exemplarmente o rótulo do brasileiro que não desiste. O padre tirou quase um minuto de prova do maratonista, tirou-lhe também a concentração e mudou todo um planejamento. Não foi pouca coisa. Perder uma medalha de ouro da forma como foi na terra onde a maratona foi criada era de tirar qualquer um do sério.
Na prova, ele balançava a cabeçava como se dissesse "como isso aconteceu?". Depois, fez aviãozinho e apareceu para comemorar muito o bronze no pódio do estádio Olímpico de Atenas. E ainda mais com a medalha Pierre de Coubertin, que o COI (Comitê Olímpico Internacional) lhe ofereceu por este chamado espírito olímpico.
Antes de saber quem seria o escolhido para acender a pira, o Comitê Rio-2016 chegou a dizer que Pelé era cotado. Afirmou que, se estivesse vivo, Ayrton Senna seria favorito. Guga, como o UOL noticiou e errou, teria grande destaque. Mas a escolha de Vanderlei foi tão importante que até furou uma promessa do Comitê: uma pessoa que já tivesse corrido com a tocha não poderia acender a pira.
O ex-maratonista correu em Brasília, no primeiro dia de revezamento no Brasil, no dia 3 de maio. Foi o responsável por sair com a chama de dentro da catedral da capital. Neste dia 5 de agosto, foi o último a pegar na tocha e acendeu a pira olímpica no Maracanã.