Olimpíadas 2016

Novas regras do boxe olímpico abrem brecha para "jogo sujo" nos ringues

Warren Little/Getty Images
Elshod Rasulov, do Uzbequistão, com um corte sobre o olho no Mundial de 2015 imagem: Warren Little/Getty Images

Bruno Doro e Eduardo Ohata

Do UOL, no Rio de Janeiro

Quem assistir às lutas de boxe dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro pode esperar um espetáculo bem diferente daquele que se viu em Londres-2012. Com as novas regras, que fazem sua estreia olímpica neste sábado, o combate deixa de ser travado e defensivo para se tornar um esporte mais sangrento e sujeito a "jogo sujo" de alguns competidores. As palavras não são da reportagem do UOL Esporte. Mas dos próprios boxeadores.

“A gente sabe que o boxe não é um esporte limpo. Vai ter gente dando cabeçada para fazer o outro sangrar”, avisa o norte-americano Nico Hernandez, da categoria até 49kg. “É um esporte de gladiadores. No fim das contas, você sobe ao ringue para arrancar a cabeça de quem está do outro lado”, resume Gary Russel, dos EUA, dos 64kg.

A maior mudança de regras é visível: desde 1984, os boxeadores olímpicos lutavam com capacetes. A proteção foi abolida em 2013. O objetivo é aumentar o reconhecimento das estrelas mostrando, pela primeira vez, seus rostos durante o combate. O problema é que, sem os capacetes, o fair-play pode desaparecer. Uma cabeçada dada estrategicamente pode abrir um corte no rival. E um sangramento grande leva ao correspondente ao nocaute técnico no boxe olímpico.

“Além disso, se você vence uma luta, mas sofre um corte, não tem tempo de recuperação. Se tem de levar um ponto, por exemplo, perde automaticamente sua próxima luta”, fala o brasileiro Robson Conceição, dos 60kg. “No início não gostei [da retirada do capacete] porque atrapalhava. No Mundial-2013, na semifinal contra o italiano, abriu meu supercílio e cheguei à final com um corte. Agora já estou adaptado e não sofro mais cortes. Evito bater cabeças”, completa o lutador.

Mas não é só isso: o sistema de pontuação também mudou. Até Londres-2012, o vencedor era quem acertasse mais vezes o rival. O número de toques era marcado por juízes ao redor do ringue. Hoje, são cinco juízes pontuando cada assalto, em um sistema parecido com o profissional, com notas até 10 para cada lutador. A diferença é que valem, a cada round, a pontuação de três dos cinco juízes e é obrigatório ter um vencedor.

Durante o combate, o efeito deve ser nítido. Se antes os atletas eram muito mais defensivos, preferindo golpes limpos e esquivas, agora é necessário mostrar combatividade e força, para convencer quem pontua que merece a vitória.

Todas essas mudanças aproximam o boxe olímpico do profissional. Outra alteração nesse caminho foi a criação de uma liga profissional para amadores pela Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador). Nela, atletas eram liberados para ter contratos profissionais, mantendo seu status de amador. Além disso, pela primeira vez profissionais foram permitidos nos Jogos. Ex-campeão mundial da Federação Internacional de Boxe, o tailandês Amnat Ruenroeng tenta o título até 60kg. Já o camaronês Hassan N’Dam N’Jikam, dos 81kg, foi campeão pela OMB (Organização Mundial de Boxe).

Topo