Surfe na Olimpíada: como o esporte ganhou força para entrar em Tóquio-2020
Tornar o surfe um esporte olímpico pode até ser uma novidade para alguns, mas a verdade é que essa inclusão da modalidade na Olimpíada de Tóquio-2020, oficializada na última quarta-feira, já era trabalhada nos bastidores do evento havia muito tempo.
Ao contrário do que a maioria pode imaginar, a batalha pela inclusão no programa olímpico não partiu da Liga Mundial de Surfe (WSL), maior entidade do surfe profissional. A verdadeira porta-bandeira da modalidade foi a Associação Internacional de Surfe (ISA), que ainda organiza algumas competições, mas que é totalmente coadjuvante da WSL hoje no cenário mundial.
Briga "pessoal"
A maior iniciativa partiu do presidente da ISA, Fernando Aguerre, que abraçou a causa e tornou como uma meta pessoal conseguir a inclusão do surfe no programa olímpico. Há dois anos, quando se reelegeu para seu oitavo mandato como dirigente máximo da entidade, o argentino já começou a trabalhar nos bastidores para conquistar seu objetivo.
Ao seu lado, Aguerre contou com a importante ajuda de Barbara Kendall, que competiu no windsurfe em cinco edições da Olimpíada - a disputa faz parte do programa da vela nos Jogos (RS:X) - e conquistou o ouro em 1992, em Barcelona. Na época, Kendall foi eleita uma das vice-presidentes da entidade justamente para ajudar nesta empreitada.
Importância da WSL
Mesmo não estando envolvida diretamente neste processo, podemos afirmar que a WSL teve um papel fundamental nesta conquista. Afinal, um dos argumentos utilizados pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para incluir o surfe na Olimpíada era de que eles estavam atrás de modalidades que pudessem atrair um público maior e mais jovem, que, futuramente, também fosse capaz de trazer novos patrocinadores ao evento. E isso é mérito total da WSL.
Apesar de um crescimento espetacular em terras brasileiras, muito por causa da nova (e campeã) geração brasileira, a WSL também registra um crescimento global cada vez maior. Só para se ter uma ideia, o primeiro semestre da temporada passada foi o período de maior audiência da história do surfe, crescendo dígitos duplos e triplos em relação ao ano de 2014.
Ajudinha de Kelly Slater
É claro que não poderíamos deixar de citar a ajudinha que Kelly Slater proporcionou aos organizadores ao divulgar sua piscina de ondas, desenvolvida ao longo de dez anos e que logo caiu nas graças do mundo do surfe.
A onda, considerada perfeita até demais, foi aprovada por todos os surfistas profissionais que a testaram, sendo capaz de proporcionar bons tubos e rasgadas clássicas da modalidade. Com ela, os organizadores perceberam que talvez não seja necessário ser tão dependente da natureza para fazer que a competição aconteça nos Jogos Olímpicos.
E o Japão?
Onde o Japão entra nessa história? Não pense que o país caiu de paraquedas nesse momento. Apesar de estar sem uma prova na elite do surfe mundial (WCT), o país se “preparou” para isso, e contou com outros fatores que ajudaram na aceitação da população.
O primeiro deles foi ter de volta uma etapa importante na divisão de acesso (WQS), realizada em Chiba, que vale seis mil pontos na classificação (segunda maior da competição). Depois, ainda na temporada passada, foi o fato de o japonês Hiroto Ohhara ter vencido a etapa do US Open of Surfing, uma das mais tradicionais competições da modalidade nos Estados Unidos. Por último, mas não menos importante, Kanoa Igarashi, surfista nipo-americano, conseguiu ingressar no WCT. Tudo isso foi cativando cada vez mais o público japonês.
Vale lembrar que o Japão também já fez parte do Circuito Mundial de Surfe (WCT). As cidades de Chiba, Tokushima, Miyazaki e a ilha de Niijima já sediaram a competição. A predileta dos surfistas é Chiba, conhecida pela onda de Malibu. Lá, inclusive, Kelly Slater e Andy Irons fizeram uma final eletrizante em 2005, que terminou com uma vitória histórica do havaiano sobre a lenda do esporte.