Remo

Remador salvou a vida do irmão. Ambos vêm à Rio-2016 por países diferentes

Arquivo pessoal
Xavi e Pau Vela são irmãos, nasceram na Catalunha e vão competir no remo pelo Brasil e pela Espanha imagem: Arquivo pessoal

Adriano Wilkson

Do UOL, no Rio de Janeiro

Há dois anos, Xavi Vela Maggi dirigia seu carro quando viu um homem todo ensanguentado caído no acostamento. Atropelado por um caminhão, vítima de um forte golpe na cabeça, o homem estava à beira da morte. Xavi desceu de seu carro e o reconheceu.

Era Pau, seu irmão mais velho.

Xavi o carregou nos braços e o levou ao hospital. Na última segunda-feira, estavam os dois na Lagoa Rodrigo de Freitas remando seus barcos o mais rápido que podiam. Treinavam para a primeira Olimpíada de suas carreiras.

Pau vai competir pela Espanha, país onde nasceu. Xavi, que é da mesma cidade do irmão, virou Xavier e vai defender o Brasil.

“Há algum tempo, pouca gente acreditava nessa minha ideia louca”, disse Xavi sobre mudar de bandeira, de nome e de língua pelo sonho olímpico. “Mas eu queria participar dos Jogos ‘sim ou sim’ e fui em frente". O remador fala um português arrastado, cheio de sotaque e expressões da língua espanhola. Como nasceu em Tortosa, interior da Catalunha, sua língua materna é o catalão.

"Quando eu falo português, às vezes me parece muito com espanhol", ele confessa.

"Tenho muito orgulho do meu irmão", diz Pau (30 anos), mais alto e corpulento que Xavi (26), no espanhol rústico típico dos catalães. "A verdade é que eu poderia ter morrido naquele acidente e se não fosse ele a ter passado por coincidência naquele momento...".

Pai brasileiro deu aos irmãos dupla nacionalidade

Ambos têm nacionalidade brasileira e espanhola por causa do avô, que nos anos 50 abriu uma fábrica de plástico em São Paulo e levou a família para fugir do desemprego na Espanha. Na capital paulista nasceu seu filho, que aos dois anos de idade foi levado à Argentina e depois de volta à Espanha.

Divulgação/Conf. Remo
Xavi Vela e William Giaretton vão representar o Brasil na categoria skiff duplo imagem: Divulgação/Conf. Remo

Em Tortosa, nasceriam Pau e Xavi, a terceira geração da família. Eles cresceram ouvindo do pai que ele se sentia mais brasileiro do que espanhol. O pai falava da comida brasileira e das pessoas que os tinham acolhido como se eles fossem família e não apenas vizinhos.

Pau foi o primeiro a se classificar ao Rio, após lutar para recuperar o próprio corpo atropelado pelo caminhão. Xavi não conseguiria vaga no time espanhol e foi aí que surgiu a "ideia louca" de virar um atleta brasileiro.

“Eu e o meu pai o incentivamos muito a fazer a troca e animamos ele em todos os momentos difíceis que ele enfrentou”, conta Pau. O pai viajou ao Chile para torcer por Xavi no pré-olímpico da modalidade. Quando o filho ganhou a vaga, o pai o abraçou, os dois mal acreditando que o projeto tinha dado certo.

Pai volta ao país natal depois de décadas

É a primeira vez que o pai de Xavi e Pau pisa no Brasil depois de tê-lo deixado aos dois anos de idade. Veio a família inteira. Como os irmãos competem em categorias diferentes, os Vela Maggi não terão que dividir a torcida.

Eles não têm grandes chances de medalha. Para o brasileiro, que compete em dupla com William Giaretton, chegar entre os 12 melhores já seria um ótimo resultado. “Sonhar é grátis, mas temos que ser realistas”, afirma ele. O nível do remo no país ainda é bastante inferior ao das grandes potências.

O prato preferido de Xavi é a paella. Ele não conhece caipirinha e não gosta muito de futebol, não é apaixonado por nenhuma referência brasileira e sorri pouco. “Somos homens de poucas palavras”, admite ele ao lado de William, o catarinense de riso fácil que vai à sua frente no barco.

“Mas o Brasil é meu país e vou fazer de tudo para representar bem essas cores”, diz ele vestido com o uniforme verde com detalhes em verde-limão dos remadores brasileiros.

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