Olimpíadas 2016

Espanhóis defendem Baía de Guanabara: "Ninguém vai sair com três olhos"

Alexandre Loureiro/inovafoto
Baía de Guanabara tem recebido críticas de competidores imagem: Alexandre Loureiro/inovafoto

Do UOL, em São Paulo

A Baía de Guanabara, local que receberá as provas olímpicas de vela, segue dividindo opiniões entre os atletas que competirão no local. Na última semana, um relatório médico publicado pelo jornal norte-americano “The New York Times” apontava um índice alto de insalubridade na água.

Nesta segunda-feira (01), o jornal espanhol “Marca” publicou relatos de atletas do país que praticaram no local nos últimos dias e verificaram que a situação não é tão alarmante quanto vinha sendo divulgado. A bordo de uma lancha e ao lado de Jorge Martínez Doreste, treinador dos atletas Jordi Xammar e Joan Herp, repórteres do jornal acompanharam a situação do local.

“Nos últimos 10 ou 15 dias, nós encontramos muitos peixes e tartarugas mortas. Também encontramos plásticos e troncos. A água está muito suja. Conforme vamos entrando em alto mar, as sujeiras aparecem”, revelou Doreste.

Já Jordi Xammar, atleta de 22 anos que irá competir na categoria 470, declarou que encontrou uma situação completamente diferente do que esperava antes de chegar ao Rio de Janeiro.

“Minha opinião é que estão exagerando (com as críticas), igual ao que aconteceu com o zika vírus. Em maio, ficamos 20 dias aqui e não vimos sequer um mosquito. Com o vento, tomei muita água e estou perfeito. A água não está limpa, mas tampouco é como estão dizendo, que parece que, quando você entrar nela, sairá com três olhos, radioatividade e bactérias”, declarou Xammar.

Ainda de acordo com o atleta, alguns objetos já foram encontrados durante o período de treinos que realizaram no local. Entre os que mais surpreenderam foram dezenas de pares de chinelos, classificados como calçados típicos do país, e um boneco de um bebê, que o assustou bastante até que ele percebesse que era apenas um brinquedo. No entanto, existem outro objeto que preocupa Xammar.

“O plástico é o que mais me preocupa. Estamos trabalhando quatro anos buscando a fórmula para ganhar 10 centímetros de vantagem na disputa, mas se enganchar um plástico na embarcação, isso te freia e o tempo que você perderá até resolver o problema se traduz em vários metros perdidos. Mas é uma variável que irá afetar a todos”, salientou Xammar.

O treinador de Xammar, Jorge Doreste, adota um tom mais crítico ao avaliar as condições do local. Questionado pelos repórteres sobre a coloração da água, o espanhol afirmou que a tonalidade amarela é reflexo da “sujeira e contaminação que existe na água”.

“Em maio, tive um pequeno corte no pé e, como não o fechei e não tomei antibióticos, ele acabou infeccionando. Entrava água constantemente e isso pode ter sido uma fonte de infecção. Pela boca, não. Em compensação, meu tornozelo se encheu de sujeira. Também fiz um pequeno corte em um dedo da mão no barco, mas rapidamente fizemos um curativo para evitar problemas”, explicou Joan Herp, companheiro de provas de Xammar.

Para adaptar-se às condições da Baía de Guanabara, a equipe espanhola realizou treinamentos ao lado das tripulações do Brasil e da Croácia. A reportagem do jornal espanhol ainda conversou com os atletas croatas, que também minimizaram as críticas feitas ao local.

“Esta água é a mais suja em que já navegamos, mas estão exagerando a situação. Nunca tivemos problemas de saúde por ingerir um pouco de água enquanto navegamos”, revelou Sime Fontela, que é o atual campeão mundial da categoria.

Já o competidor Iago López teceu duras críticas ao local. De acordo com o atleta, todos os detritos das favelas da região acaba indo para a Baía de Guanabara, prejudicando a condição do local.

“Temos que ter cuidado, tentar não tomar a água e tomar banho ao retornar, mas também não dá pra ficar preocupado o dia todo. O que acontece é que, quando chove muito e baixa a maré, toda a água acaba aqui, inclusive a parte que vem das favelas. Nestes momentos, a água é completamente marrom”, explicou López, seguido por seu companheiro, Diego Botín.

“Está bastante suja, é o que você pode imaginar, mas multiplicado por cinco. Você pode encontrar de tudo, mas não tive problema por ingerir a água”, finalizou Botín.

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