Olimpíadas 2016

Como o Brasil treina cérebros de atletas do tiro por 1ª medalha na Rio-2016

Dennis Grombkowski/Getty
Felipe Wu é a principal esperança do Brasil de conquistar uma medalha no tiro esportivo imagem: Dennis Grombkowski/Getty

Rodrigo Mattos

Do UOL no Rio de Janeiro

A equipe de tiro esportivo do Brasil aposta na alteração e no treinamento dos cérebros de seus atletas para conquistar a primeira medalha do país na Olimpíada do Rio-2016. O objetivo do método - conhecido como neurofeedback - é melhorar a atenção e portanto o desempenho dos esportistas. Pela programação olímpica, a modalidade terá os primeiros pódios e o atirador Felipe Wu é candidato a ocupar um dos degraus deles.

No tiro esportivo, a capacidade de concentração é uma das qualidades mais importantes. Para atingir os melhores resultados, os atiradores têm que manter seus cérebros em uma zona que nem seja muito relaxada, nem tenha ansiedade demais. Tanto que remédios para aumentar a atenção são considerados doping. 

Por isso, desde o início de 2016, o psicólogo Silvio Aguiar, ex-atirador olímpico que se especializou nas reações cerebrais, tem feito um treinamento com os atletas brasileiros para condicionar os seus cérebros. Para isso, são utilizados aparelhos para medir a frequência cerebral dos atletas (presos à testa) em diversas situações, seja parado, de olhos fechados, abertos. Conforme a reação, ele identifica comportamentos cerebrais que representam distrações.

"A segunda parte é moldar a atividade cerebral. O objetivo é tirar ondas muito rápidas que não sejam boas para ele relaxar. A gente coloca no programa como quer o cérebro do atleta funcionando de acordo com cada um", contou Aguiar. "Quem tem provas longas, precisa ficar concentrado por mais tempo. Quem tem provas curtas e de muitos tiros, é diferente".

Como fazer para moldar o cérebro dos atletas?

Mas, a partir do momento em que sabe como o cérebro de cada um tem que funcionar, como o psicólogo induz a cabeça do atleta a atingir o ideal? Aí entra uma técnica de condicionamento. O esportista vai ficar na frente de um vídeo qualquer que lhe seja prazeroso, uma corrida de carros, um filme. Enquanto seu cérebro funcionar da forma que mandar o computador, o vídeo continua. Caso ele se distraia, para. 

“O cérebro busca o prazer e se afasta do desprazer. Assim, conseguimos uma modelagem cerebral. Queremos um cérebro mais flexível. Queremos reduzir o ruído mental”, contou Aguiar. A modelagem é feita em um nível não consciente, sem que o atleta perceba diretamente.

E o que provoca o ruído mental? Lembrar de experiências passadas ou criar expectativas sobre o futuro na competição, por exemplo, são ruídos que tiram a concentração do atleta do que ele tem de executar naquele momento na prova. Ou seja, um cérebro de atirador ideal irá apenas se concentrar no presente.

Sem pensar no passado ou no futuro

Divulgação
Felipe Wu (à esq.) é o líder do ranking mundial imagem: Divulgação

Felipe Wu realiza os treinamentos uma vez por semana, e diz ter sentido efeitos na sua capacidade de concentração. Atualmente, ele é líder do ranking mundial de pistola com ar de 10 metros, prova na qual é candidato ao pódio. Mas uma demonstração da importância da atenção é que nem chegou à final na etapa da Copa do Mundo no Rio, evento-teste para a Olimpíada, após se distrair.

“Você aprende a controlar. É meio complexo, mas importante porque o tiro é com a mente. Me sinto focado só no que estou fazendo, sem pensar no passado ou no futuro”, contou. 

Outros membros da equipe tiveram efeitos similares, como é o caso de Rosane Budag que já treina com Silvio Aguiar há mais tempo. “Sou muito ansiosa. Agora consigo baixar meu batimento cardíaco. O Silvio consegue me ativar e ao mesmo tempo me manter na faixa de concentração necessária”, explicou a atleta. “Na vida, também consigo me controlar. Não entro em briga na rua”, brincou.

Esse treinamento ou modelagem do cérebro pode ser realizado em outros esportes, segundo o psicólogo do tiro esportivo. O que vale para o tiro valeria, por exemplo, para um lance livre no basquete. A Confederação Brasileira de tiro esportivo informou que já houve interesses de outras modalidades de usar a metodologia em seus esportes. Mas, para o Rio-2016, só os atiradores testarão seus “novos cérebros”.

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