Olimpíadas 2016

Cobrada até ao comprar cerveja em mercado. Rio-16 muda rotina de lutadora

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Julia Vasconcellos sofreu para conseguir diminuir o peso antes de seletiva imagem: Reprodução / Facebook

Guilherme Costa

Do UOL, no Rio de Janeiro

Julia Vasconcelos, 23 anos, não precisou de muito tempo para entender a pressão que cerca a disputa dos Jogos Olímpicos. A lutadora de taekwondo conquistou em março o direito de ser uma das representantes brasileiras na edição deste ano, que será realizada no Rio de Janeiro. Foi o suficiente para aumentar o assédio – e a cobrança – sobre ela nas ruas de São José dos Campos, cidade do interior de São Paulo em que a atleta vive e treina. A "fiscalização" dos torcedores chegou até ao supermercado.

"No processo todo até a seletiva eu fiquei de dieta. Logo depois, fui a um churrasco com amigos. Na ida eu passei em um mercado e comprei uma cerveja. Me pararam e me questionaram sobre isso. Eu também sou filha de Deus, pô", contou Julia em entrevista exclusiva ao UOL Esporte. "Aqui [o assédio] aumentou muito. A galera me aborda na rua, no shopping ou quando vou fazer compras", completou.

O processo até a seletiva foi extremamente exigente para Julia. A lutadora disputou os Jogos Pan-Americanos de Toronto, no ano passado, na categoria até 67kg. Na Rio-2016, porém, o Brasil não indicou esse peso. Por ser anfitrião, o país tinha direito a escolher as classes em que seria representado. No feminino, a CBTKD (Confederação Brasileira de Taekwondo) decidiu levar atletas de até 49kg (Iris Tang Sing ficou com a vaga) e de até 57kg.

 

 

Me perdoa? Estou de coração partido! Me espera até os Jogos Olímpicos? Hahahahah pronto @marcella_amar registrado

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Julia, cujo peso oscilava entre 63kg e 64kg, teve de fazer dieta. Em agosto, pouco mais de um mês depois dos Jogos Pan-Americanos, já havia atingido os 57kg necessários para entrar na seletiva. “Cheguei à minha nutricionista e perguntei se ela topava o desafio. Aí foi só seguir a dieta”, relatou a lutadora, que reduziu drasticamente a ingestão de carboidratos como pães e massas: “Foi só na base de brócolis”.

Para manter o peso, Julia passou o Réveillon sozinha em casa e manteve agenda de treinos até no período de festas. Depois, vencido o desafio da dieta, teve de lidar com a inexperiência na nova classe. “Perto das outras meninas, que praticamente nasceram nessa categoria, isso pesa um pouco”, admitiu.

Classificação conturbada para Rio-16

 

O processo brasileiro de classificação para o taekwondo da Rio-2016 foi extremamente conturbado. Além de a indicação de categorias ter gerado polêmica, a CBTKD criou uma seletiva dividida por etapas, instituiu um regulamento confuso e mudou ao menos duas vezes a data da definição dos escolhidos.

“A primeira seletiva foi em janeiro, com sete atletas. Eu tinha de vencer pelo menos cinco das outras seis para me classificar. A segunda, que seria em fevereiro, mudou para março. Seria no dia 6, mas foi alterada de novo para o dia 18. A gente ficou chateado com essa bagunça, mas o jeito foi manter o foco e seguir treinando”, disse Julia.

Após ter conseguido a vaga, a lutadora retomou os treinos em São José dos Campos e criou um hobby para desopilar: procurar receitas na internet e cozinhar. “Mas eu já parei com isso. Agora estou de dieta de novo”.

Lutadora é louca por tatuagens e criou marca de roupas

 

O sonho de chegar aos Jogos Olímpicos fez a lutadora postergar a ideia de cursar faculdade de administração de empresas. Entretanto, isso não suprimiu a verve empreendedora de Julia. Ela criou uma marca de roupas com estampas relacionadas ao taekwondo. Inspirada em Fabíola Molina, ex-nadadora que também fundou uma marca própria em São José dos Campos, a lutadora contratou um designer, negociou com gráficas e produziu camisetas e moletons.

"Agora eu não tenho tido tempo para isso, mas é uma marca chamada 'Teu dia D já chegou'. O pessoal comprou tudo e pedia até para mandar para outras partes do país. A repercussão foi muito boa", relatou a atleta.

As roupas também fazem alusão ao estilo de Julia. A lutadora é fanática por tatuagens – tem 19 e já faz planos para as próximas: “Vou fazer a logo das Olimpíadas. Não sei ainda porque está acabando o espaço, mas eu vou fazer, sim”.

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