A vida de um atleta que quer ganhar uma medalha em  Olimpíada não é nada fácil. Mais difícil ainda é se ele pretende ganhar um ouro no vôlei de praia e é treinado por Letícia Pessoa, a técnica conhecida como a mais linha-dura do esporte.

Letícia é uma das referências do Brasil no vôlei de praia. Já treinou algumas das mais vitoriosas duplas do país. Entre elas, Adriana Behar e Shelda, time duas vezes medalha de prata, na Olimpíada de 2000, em Sydney, e em 2004, em Atenas.

As pratas, porém, não foram suficientes para Letícia. Desta vez, treinando a dupla masculina Alison e Emanuel, ela quer ser campeã olímpica. Por isso, exige o máximo dos atletas nos treinamentos e competições. Exige tanto que chegou a ganhar um apelido de seus pupilos: Felícia.

O apelido vem do personagem do desenho animado Tiny Toons. Nele, Felícia é uma garota que adora animais. Gosta tanto que, quando encontra algum, o abraça com tanta força que chega a machucá-lo. É mais ou menos isso que Letícia faz com Emanuel e Alison.

“Ela gosta tanto da gente que chega a maltratar”, diz Alison, em tom de brincadeira, sobre a origem do apelido da treinadora. “A gente deu esse apelido para ela e pegou. Ela não liga.”

Alison se considera cria de Letícia. Foi ela quem o descobriu no circuito de vôlei e, anos depois, o levou para jogar junto com Emanuel, campeão olímpico em Atenas ao lado de Ricardo.

Juntos, Alison e Emanuel formam atualmente a dupla líder do ranking mundial de vôlei de praia. Favoritos devido ao retrospecto dos últimos campeonatos, eles se dizem confiantes para ganharem a medalha de ouro na Olimpíada de Londres, neste ano.

Mesmo assim, não deixam de treinar forte nos últimos dias antes dos jogos. “Estamos focados”, diz Emanuel. “A Letícia exige muito, aponta cada erro e nós procuramos melhorar.”

A dedicação de Alison e Emanuel é uma dos pontos fortes da dupla, segundo a treinadora. Sempre dispostos a escutar e evoluir, a técnica não hesita em fazer cobranças.

“Técnico não está ali para passar a mão na cabeça. Está ali para ser o chato mesmo, para tirar o máximo de cada atleta”, afirma ela. “Eu cobro porque sei que eles podem render. Quanto eu mais gosto de alguém, mais eu cobro.”

Há três anos trabalhando com a dupla, Letícia evita falar em favoritismo. Diz que a dupla está bem equilibrada: Emanuel tem a experiência e Alison, a força física. Apesar disso, para ganhar uma Olimpíada, há muitos fatores envolvidos. Por isso, o “pé no chão” é fundamental. 

“Eu mesmo, às vezes, fico insegura. Procuro ouvir meus amigos. Bernardinho é um deles”, conta Letícia. “Mas sabemos que podemos ganhar o ouro. Nosso objetivo é esse.”