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Saiba por que nada deve mudar na CBF com Coronel Nunes na vice-presidência

Divulgação / Site da FPF

Lúcio de Castro

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

O que era para ser um golpe de mestre pode virar um enorme pesadelo. Quando imaginaram que transformar Antonio Carlos Nunes de Lima, o Coronel Nunes, 79 anos, em vice-presidente era a solução perfeita para não ferir o estatuto e ao mesmo tempo manter o poder, o comando da CBF não pensou em um detalhe fundamental: a biografia do presidente da Federação Paraense de Futebol (FPF) tem elementos comuns as histórias dos três antecessores enredados com a lei. Alçado ao comando e transformado em vidraça, pode se juntar a Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo del Nero, forçados a deixar o poder. Uma sucessão de acusações e histórias nebulosas cercam os anos do coronel da Polícia Militar no comando do futebol paranense. Uma agência de viagens favorita da entidade é apenas uma das semelhanças. Há também um relatório financeiro anual da instituição que dirige envolto em sombras e dúvidas com a assinatura de um relator suspenso pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por suas "auditorias ineptas". Para completar, tem ainda outro traço dos antecessores: nenhuma ideia conhecida sobre futebol.

Imagine a pequena agência de viagens Rocha Romano concorrendo com a supremacia do poderoso Grupo Águia. Certamente não será para tanto, e a ascensão do Coronel Nunes não deve ameaçar o longo reinado e hegemonia da agência de viagens de Wagner Abrahão, parceiro preferencial da CBF desde os tempos de Ricardo Teixeira e responsável por todas as viagens que envolvem a entidade. Mas Nunes também tem uma agência para chamar de amiga. As relações estreitas da FPF com a Rocha Romano, aberta em 2004, de propriedade de Paulo César da Rocha Romano, diretor do departamento de futebol profissional da FPF, foram citadas na "CPI do Futebol Paraense", instalada em 2013 na Assembleia Legislativa daquele estado. De acordo com a acusação que serviu como base para instalação da CPI, o esquema era coordenado pelo presidente da FPF. Uma comissão externa, ou seja, de fora da assembleia, formada pelos senadores Mário Couto (PSDB-PA), como presidente, Ivo Cassol (PP-RO) como relator Ataídes Oliveira (PSDB-TO) chegou a ouvir depoimento do dono da agência e diretor da FPF no dia 18 de abril de 2013 sobre o tema.  Apesar de instalada, do teor das acusações e da repercussão local que teve, a CPI não chegou a resultados significativos, ocupada por vários deputados relacionados com a FPF. 
 
Há um ponto que eventualmente pode vir a ser um fator complicador para o Coronel Nunes no comando da CBF. Ao contrário dos antecessores, que sempre prezaram evitar dinheiro público nos negócios, fugindo assim de controle maior dos órgãos de fiscalização do estado, como Polícia Federal e Ministério Público, (embora exista a jurisprudência de que, ainda que privada, uma entidade como a CBF, por ser de interesse público, estaria sim sujeita a tais regras), o provável novo mandatário teve relações estreitas com o estado e foi beneficiário, através da FPF, de farta distribuição de dinheiro público.  
 
O próprio negócio das viagens denunciado pela CPI foi amplamente regado por verba estatal, de acordo com a comissão de inquérito parlamentar. Tiveram um impulso significativo com a entrada em cena do governador Simão Jatene (PSDB), novamente no poder na atualidade. No primeiro mandato, de 2003 a 2007, o governador criou o programa que visava "interiorizar o futebol no Pará". Com verba saindo da Secretaria Executiva de Esporte e Lazer (SEEL) para as passagens e hospedagens das equipes. A secretaria era comandada por José Angelo Souza de Miranda, ligado historicamente com a FPF e atualmente vice-presidente da entidade. Na ocasião, por exemplo, sete jogos do São Raimundo foram levados para Santarém. 
 
Embora em resultados concretos do duradouro programa de interiorização do futebol do estado não sejam perceptíveis nas divisões do campeonato nacional, a verba seguiu generosa para viagens com o intuito de cumprir tal intento. Em 2011, a Secretaria de Esporte e Lazer determinou aporte de R$ 1.105.810,00 (um milhão, cento e cinco mil e oitocentos e dez reais para levar o futebol aos diversos rincões do Pará. Consumidos em passagens e hospedagens. No ano anterior, R$ 720.000,00 (setecentos e vinte mil reais) foram destinados. 
 
O balanço financeiro da FPF, tanto nos últimos anos como o atual, tem pontos cegos. O mais evidente é talvez o principal ponto do relatório: o auditor financeiro que assina tem currículo controverso. No momento, o contador Tadeu Manoel Rodrigues de Araújo, registrado pelo Conselho Regional de Contabilidade (CRC) do Pará, está suspenso e impedido de assinar relatórios pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda que fiscaliza tal tipo de atividade. A suspensão é por cinco anos, tendo começado no dia 9 de outubro de 2010 e indo até 8 de outubro de 2017. De acordo com a CVM, consultada pela reportagem, a punição da entidade é válida para relatórios de companhias abertas, o que não inclui a FPF. 
 
A CVM já acusou o auditor da FPF em diferentes ocasiões.  Por "auditoria inepta", ("Possíveis irregularidades praticadas pelo Sr. Tadeu Manoel Rodrigues Araújo, Auditor Independente - Pessoa Física, ao realizar trabalhos de auditoria em diversas empresas beneficiárias de incentivos fiscais", processo RJ2001/7661) e ainda "Não realização de trabalhos de auditoria dentro dos padrões requeridos pelas normas profissionais, processo RJ2003/11503). Suspenso, não cumpriu a pena e por fim tomou o gancho de 5 anos, já transitado em julgado e uma multa de quinhentos mil reais, a qual ainda cabe recurso. 
 
Invariavelmente, ano após ano, o auditor suspenso pela CVM encerra o relatório da federação paraense repetindo que "em nossa opinião, as demonstrações financeiras acima referidas apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira da Associação FPF – Federação Paulista de Futebol em 31 dedezembro de ____, o desempenho de suas operações e os seus fluxos de caixa para o exercício findo naquela data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil", mudando apenas o ano corrente.
 
A reportagem tentou contato com o Coronel Nunes através da FPF, sem resposta. Tentou também via CBF, que da mesma forma não respondeu. 
 
Procurou Paulo César da Rocha Romano, vice-presidente da FPF e dono da agência de viagens  Rocha Romano na federação e na empresa, sem sucesso. 
 
Enviou questões para o contador Tadeu Manoel Rodrigues de Araújo e não obteve resposta.

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