Natação

Havia bom motivo para Brasil reter nadadores, diz ex-embaixador americano

Hanrrikson de Andrade/UOL
Gunnar Bentz deixa a delegacia recebendos gritos de "mentiroso" imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

O ex-embaixador americano Dennis Jett avaliou que o Brasil teve motivos suficientes para impedir que os nadadores americanos acusados de fazer uma denúncia falsa à polícia do Rio deixassem o país.

"Fazer uma denúncia falsa à polícia é um crime no Brasil, nos Estados Unidos e em vários países", afirmou o diplomata de carreira, que já foi embaixador no Peru, em Moçambique e hoje é professor de relações internacionais da Universidade do Estado da Pensilvânia, em entrevista à BBC Brasil.

"O Brasil gastou centenas de milhões de dólares na Olimpíada e ter alguém dizendo que foi assaltado à mão armada por policiais é um dano para a reputação do país e a imagem dos Jogos", disse Jett, acrescentando que a suspeita de denúncia falsa seria "razão suficiente" para que as autoridades quisessem esclarecer o ocorrido.

Na noite de quarta-feira, a Polícia Federal retirou os nadadores Gunnar Bentz e Jack Conger de um avião que se preparava para deixar o Rio rumo aos EUA para questioná-los sobre a denúncia feita por dois colegas - os também nadadores Ryan Lochte e Jamies Feigen - de que o grupo havia sido roubado na madrugada do domingo por assaltantes que se passavam por policiais.

Após notar discrepâncias nos relatos dos nadadores e ouvir testemunhas, a polícia concluiu que eles inventaram a história do assalto para encobrir uma confusão em que se meteram num posto de gasolina após deixar de uma festa.

Bentz e Conger prestaram depoimento na quinta-feira e viajaram aos Estados Unidos à noite.

Segundo Jett, que atuou na chancelaria americana por 28 anos e serviu também na Argentina, o caso ganhou muita repercussão por envolver atletas olímpicos, a denúncia de um crime grave e por ferir o orgulho dos brasileiros.

Críticas à polícia

Em entrevista a jornais e TVs americanos, advogados que defendem os nadadores tinham criticado a atuação da polícia brasileira no episódio.

Um advogado afirmou à rede ABC que a investigação havia ganhado contornos "políticos" e que, em outros casos de falsa comunicação de crime, dificilmente policiais impediriam testemunhas de viajar.

Segundo essa interpretação, os nadadores retidos não poderiam ser considerados suspeitos, mas apenas testemunhas, já que foram os dois outros nadadores (Lochte e Feigen) que denunciaram o assalto. Lochte já voltou aos EUA, e Feigen está sendo procurado pela polícia.

No entanto, para o professor de direito da Universidade de Virgínia Robert F. Turner, não é incomum que a Justiça nos EUA impeça testemunhas de viajar.

Em entrevista concedida antes de o episódio do posto de gasolina ser esclarecido, Turner disse quem se ficasse comprovado que eles mentiram, "eles fizeram algo trágico e nos envergonharam enquanto representavam nosso país".

Ele disse que o caso poderia ser resolvido com um pedido de desculpas dos atletas às autoridades brasileiras e aos moradores do Rio.

Para Turner, se a investigação concluir que Lochte inventou a história, ele provavelmente não sofrerá qualquer punição legal, já que um tratado entre Estados Unidos e Brasil só prevê extradições de condenados por crimes graves.

Segundo o ex-embaixador Dennis Jett, no máximo Lochte ficaria impedido de voltar ao Brasil ou correria o risco de ser processado se ingressasse no país.

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