Doping de Sharapova acende sinal de alerta em médicos no Brasil

O caso de doping de Maria Sharapova e o número já grande - e que não para de crescer - de atletas flagrados com Meldonium acenderam um sinal de alerta no Brasil. Ainda que a droga não tenha o comércio legalizado no país pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), existe o temor que esportistas possam ter acesso a substância.
E este receio não é infundado. Diversos sites na internet comercializam o remédio Mildronate - que tem como princípio ativo o Meldonium - e entregam em qualquer parte do planeta. Além disso, como a venda é legalizada em diversos países do Leste Europeu, como Rússia, Letônia, Ucrânia, o acesso se torna ainda mais fácil.
Para evitar que atletas brasileiros sejam flagrados com a substância que passou a ser proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada), a Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem (ABCD) publicou em seu site um alerta. Até agora, nenhum caso envolvendo brasileiros e o Meldonium foi divulgado.
Ao UOL Esporte, Marco Aurélio Klein, presidente da ABCD, afirmou que a preocupação ainda assim é grande.
“(O Meldonium) preocupa. Por isso pusemos o alerta e preparamos material informativo para chegar aos atletas, principalmente os que estarão nos Jogos (Olímpicos). Não é um produto regularmente à venda nas farmácias, mas é uma substância que pode ser detectada no Laboratório Brasileiro de Controle de Dopagem. Sabemos que uma caixa custa somente cerca de 3 dólares (R$ 11), então é preciso alerta máximo”, disse.
A preocupação não existe apenas por parte da ABCD. Médicos e responsáveis pela orientação antidoping de confederações também expressaram este temor à reportagem.
Três especialistas ouvidos pelo UOL reconheceram que não tinham conhecimento sobre o Meldonium até o caso envolvendo Sharapova e que estão procurando se informar para ajudar os atletas.
"A cada ano novas substâncias são adicionadas na lista e estamos procurando nos informar. No caso do Meldonium, o fato de ele não ser comercializado no Brasil, não diminui em nada o cuidado necessário. A informação e o acesso são globalizados, tanto para o bem quanto para o mal. O que fazemos é a cada ano disponibilizar aos atletas todas as informações que temos e fazemos palestras", afirmou Sandra Soldan, diretora adjunta de doping da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA).
Rafael Trindade, que é coordenador médico da comissão antidoping da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e trabalha no Comitê Rio-2016, afirmou que sempre está à disposição dos atletas para tirar dúvidas, mas que até o momento ninguém o questionou sobre o Meldonium.
"Tenho um canal direto com todos os envolvidos no atletismo para tirar dúvidas e até agora ninguém me perguntou sobre esta substância. Acho que, quando surge um caso como este da Sharapova, de grande proporção, é uma boa oportunidade para se falar do tema e como se prevenir. Sabemos que os atletas viajam muito e como o produto está disponível no mercado, sempre haverá a preocupação", disse.
Médico da seleção feminina de vôlei, Júlio Nardelli, contou que as jogadoras estão sempre em contato para saberem os riscos do uso de medicamentos e que a orientação faz parte do seu cotidiano até para evitar casos como o de Jaqueline (pega no doping com um suplemento alimentar contaminado) e de Natália (flagrada pelo uso de um remédio para asma).
"Aqui no Brasil o Meldonium é pouco conhecido, então é preciso se informar bastante. Mas em minha opinião, a Wada deveria publicar um boletim explicando melhor quais são os ganhos reais com o uso da substância", afirmou.
De acordo com o Grindeks, laboratório que fabrica o Meldonium, a droga é indicada para tratar principalmente angina, infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca crônica, isquemia e distúrbios cardiovasculares funcionais.
Para a Wada, o Meldonium pode melhorar a sua precisão e desempenho dos atletas, reduzir os efeitos mentais e físicos do desgaste durante uma competição e ajudar em uma recuperação mais rápida entre as partidas ou provas.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB) informou que publica todo ano a lista com as substâncias proibidas pela Wada em seu site e informa às confederações sobre a publicação da nova lista.
"O COB mantém uma vigilância contínua sobre todos os casos novos e antigos relacionados às substâncias e métodos que constam na lista da Wada. Esse processo é educativo e contínuo. Da mesma forma, contamos com ABCD em sua competência de Agência no que concerne aos seus pareceres, informativos e controle em campo", afirmou Roberto Nahon, médico do COB.