Esta cidade de 17 mil pessoas virou celeiro olímpico: 10 ouros em 20 anos
São 16 medalhas olímpicas, sendo dez de ouro, nas últimas seis edições dos Jogos. Mais de 30 pódios em Campeonatos Mundiais. Recordes. E tudo isso fruto de atletas humildes que nasceram numa cidade de aproximadamente 17 mil habitantes e encontraram no atletismo a chance de uma vida melhor. Acrescente-se a isso um caça-talentos competente e uma boa altitude e pronto: essa é a pequena Bekoji, na Etiópia.
Localizada na região central do país africano, Bekoji é conhecida como o celeiro de atletas de elite de média e longa distância. Uma comunidade com intensa atividade agrícola e pecuária. Segundo relato do The Guardian, há algumas casas confortáveis de três ou quatro quartos e tijolos, mas a maioria é feita de barro.
A temperatura média em torno dos 19ºC e os 2.800 metros acima do nível do mar proporcionam um cenário perfeito para o treino de atletas, que depois encontram condições mais favoráveis de corrida ao longo do calendário mundial.
Foi nessa cidadezinha que nasceram e cresceram nomes como Kenenisa Bekele e Tirunesh Dibaba, tricampeões olímpicos, Derartu Tulu, dona de dois ouros nos Jogos, e Fatuma Roba e Tiki Gelana, maratonistas que também venceram as Olimpíadas - a última delas, em Londres-2012. Mas todos eles e outros medalhistas têm mais em comum: o mesmo descobridor de talentos.
Sentayehu Eshetu está há mais de 40 anos vivendo em Bekoji. Chegou como professor de escola primária, mas logo passou a treinar garotos e garotas que queriam correr para melhorar de vida. Pelas suas mãos passaram inúmeros campeões nos últimos anos. Ele resume seu papel de forma bem simples. “Não tem mágica. Eles trabalham duro, obedecem e comem muita cevada”, contou, ao The Guardian.
De acordo com Eshetu, os pais das crianças o procuram para que ele possa treiná-las. Os adultos também veem no esporte uma chance de oferecer para seus filhos algo mais que o cultivo de grãos e o trato de animais. A “Casa dos Atletas Etíopes”, como ficou conhecida a cidade, já tem até alguns hotéis que abrigam os curiosos que vão até lá explorar esse celeiro de atletas olímpicos.
Nos últimos anos, um programa internacional tem ajudado Eshetu e seus colaboradores a oferecer uma estrutura um pouco melhor para os jovens corredores. Aqueles que se destacam recebem proposta para se juntar a um dos grupos de corrida da capital Adis Abeba. É o último passo antes do sucesso para quem consegue se consolidar.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com as irmãs Dibaba: Tirunesh, Ejegayehu e Genzebe. Juntas, têm 17 medalhas entre Olimpíadas e Mundiais. Elas são primas de Derartu Tutu, a primeira africana a ganhar um ouro olímpico, nos 10.000m de Barcelona-1992. Outras famílias conseguiram o mesmo, como a dos irmãos Bekele. E tudo começou no mesmo lugar: a pequena Bekoji.