Rafaela Silva lembra ofensas racistas após eliminação em 2012: 'Doeu muito'
A judoca Rafaela Silva lembrou, em entrevista divulgada neste domingo pela Rede Globo, de comentários dos quais foi alvo após a eliminação prematura nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Segundo ela, na ocasião, recebeu ofensas de conteúdo racista.
“Eu cheguei no meu quarto, peguei meu celular querendo um amparo, e só tinha mensagem dizendo que lugar de macaco era na jaula, não era na Olimpíada, que eu era uma vergonha para minha família. Doeu muito”, afirmou Rafaela.
Em 2011, Rafaela Silva havia conquistado a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos (Guadalajara) e no Mundial (Paris), ambas na categoria até 57 kg. Na Olimpíada, porém, foi eliminada ainda na segunda rodada pela húngara Hedvig Karakas.
“Eu olhava de rabo de olho (na entrada do tatame) e via que ela estava me respeitando”, contou. Na luta, porém, foi desclassificada por tentar um desestabilizar a rival agarrando-a pelas pernas – o golpe foi invalidado em uma mudança de regras realizada entre as Olimpíadas de 2008 e 2012.
“Na hora que o árbitro tirou meu ponto e me desclassificou…”, relembrou Rafaela, sem conseguir concluir a frase, chorando. “Eu estava saindo com a derrota. Eu não estava acreditando. Não conseguia sair do tatame, só pensando nos quatro anos que eu batalhei, e os quatro anos foram embora em segundos. É a pior sensação do mundo”, acrescentou.
Título mundial em 2013
A volta por cima de Rafaela Silva veio em 2013, no Mundial disputado no Rio de Janeiro. Naquele ano, a carioca conquistou a medalha de ouro no Campeonato Pan-Americano, em San José (Costa Rica), e garantiu vaga para disputar o Mundial no Rio. Em casa, além das adversárias, teria que vencer também a desconfiança remanescente da campanha olímpica.
“Fui campeã pan-americana, foi voltando minha confiança”, contou a judoca. “No Mundial, fiz poucas matérias (com a imprensa), porque o pessoal estava desacreditado. Quando saí do hotel para o ginásio, vi uma matéria que dizia que a esperança de medalha no Brasil no dia que eu ia lutar (28 de agosto) era Ketleyn Quadros (também da categoria até 57 kg) e o Bruno Mendonca (até 73 kg). Não tinha meu nome, nada. Eu coloquei na cabeça que só sairia com a medalha de ouro”, completou.
No Mundial, Rafaela estreou na segunda rodada vencendo a norte-americana Hana Carmichael. Depois, passou por Loredana Ohai (Romênia) nas oitavas de final, Nora Gjakova (Kosovo) nas quartas, Automne Pavia (França) nas semifinais e Marti Malloy (Estados Unidos) na final. Curiosamente, a rival da decisão havia eliminado Ketleyn Quadros nas oitavas de final.
O resultado serviu para Rafaela se sentir redimida. “Vi o Maracanãzinho lotado, minha família… Eu não podia decepcionar todo mundo”, relembrou. “Em um ano, falaram que judô não era para mim, que eu era vergonha para minha família. No ano seguinte, eu fiz minha família comemorar no Maracanãzinho com meus amigos, que eu era campeã mundial”, completou.