Ginasta cubano deixa tudo para trás para fazer história. E com 2ª rebolada
Você tem ideia de qual atleta disputará mais finais individuais masculinas no Mundial de ginástica artística de Glasgow? Se falou o pentacampeão Kohei Uchimura, errou feio. Se pensou em algum chinês, ou outro japonês, ou um norte-americano, também passou longe. Ao lado do ucraniano Oleg Verniaiev, que é até agora o grande destaque entre os homens na Escócia, quem disputará quatro decisões a partir desta quinta-feira será um cubano. Isso, Manrique Larduet.
A ilha enviou pela primeira vez em 12 anos atletas para disputarem uma competição em nível mundial de ginástica. O país boicotava os torneios desde 2003, quando três de seus atletas desertaram no meio do Mundial de Anaheim, nos Estados Unidos. A reabertura política de Cuba trouxe também a retomada esportiva internacional do país na ginástica, que começou nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em julho.
E no Canadá, Larduet já mostrava que poderia fazer estragos em Glasgow. Saiu como o grande campeão moral da competição ao conquistar quatro medalhas e ainda ter ao seu lado todo o ginásio que vaiou o ouro do norte-americano Sam Mikulak no individual geral e a consequente prata do cubano.
Larduet tem 19 anos e pratica ginástica artística desde os 5, quando uma vizinha de sua avó Milagros o viu dando piruetas na rua e o levou para uma academia do esporte. Não foi fácil, porém, transformar-se no atleta que é hoje. O talento, ele tinha. Mas Larduet precisou deixar a família para trás, em Santiago de Cuba, e partiu para Havana, onde treina hoje no centro nacional. Vê os parentes a cada quatro ou seis meses e não se foca em nada mais que não seja a ginástica. “Não tenho tempo”, diz ele.
Tímido diante de câmeras, máquinas fotográficas e gravadores, Larduet não fala inglês, apenas espanhol, e depende da ajuda de colegas latinos quando é interpelado por jornalistas americanos ou ingleses. Tem fala mansa, poucas vezes levanta a cabeça para dar suas respostas, mas intercala a timidez com momentos de altivez e descontração.
“Quem é o seu ginasta favorito?”, pergunta uma jornalista. Ele não responde com palavras. Apenas abre um sorriso e aponta o dedo indicador para si mesmo.
Larduet é o próprio ídolo e também pode ser um salvador para Cuba. A primeira façanha já alcançou com as quatro finais individuais em Glasgow: sétimo no geral, no solo e na barra fixa e quinto nas paralelas. E poderiam ser mais, se ele não tivesse cometido falhas graves no salto, um de seus principais aparelhos.
“Estou muito feliz. É o meu primeiro Campeonato Mundial, e já estou entre os 24 finalistas do individual geral. Treinei muito para estar aqui na melhor forma”, diz ao UOL Esporte. “Eu tenho muito orgulho de estar entre os grandes, mesmo sem tanta experiência esportiva, porque trabalhei tanto para estar aqui e ter um bom resultado”.
O primeiro objetivo do cubano já foi atingido. Mas ainda em Glasgow ele tem alvos maiores. Quer ser medalhista para se classificar diretamente para a Rio-2016 ou pelo menos garantir uma vaga no evento-teste do ano que vem, último qualificatório olímpico. E nos Jogos, sua meta será ainda mais ousada.
“Fico muito feliz. Hoje sou uma figura pública no meu país e sinto muito orgulho, porque quando eu era pequeno, queria ser o maior representante do meu país. E também quero ser o primeiro ginasta de Cuba a alcançar uma medalha ou um ouro olímpico”, avisa ele.
E Larduet já sabe como comemorar em Glasgow. Em Toronto, ao finalizar a prova de barra fixa, aterrissou no solo com uma reboladinha. Pergunto se vai ter outra no Mundial. “Sim sim”, ele responde. “Depois da paralela, que é um bom aparelho, em qual devo fazer uma boa execução e uma boa apresentação, penso que tenho que trazer uma alegria para mim e para Cuba”.