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Brasileiro tinha físico como diferencial na Europa. Na NBA, é bem diferente

Guilherme Costa e Leandro Carneiro

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

No basquete europeu, o físico era um dos diferenciais de Raul Togni Neto, 23, conhecido como Raulzinho. O armador de 1,86m e 81kg conseguia impor um estilo de jogo explosivo, baseado na força e na velocidade. Até por isso, foi grande o choque que ele teve em 2015, quando chegou ao Utah Jazz, time que disputa a NBA. Mais baixo e mais magro da franquia, o brasileiro percebeu que terá de ganhar massa e capacidade muscular se quiser ter sucesso na liga profissional dos Estados Unidos. E a seleção tem muito a crescer com isso.

Raulzinho é o jovem mais assíduo na equipe nacional comandada pelo argentino Rubén Magnano. Foi o caçula do grupo que disputou a Copa do Mundo de 2014 na Espanha e brilhou no triunfo por 85 a 65 sobre a Argentina em partida válida pelas oitavas de final (o armador anotou 21 pontos e estabilizou a defesa, e o Brasil venceu por 25 pontos no período em que ele esteve na quadra).

Em 2015, Magnano também incluiu Raulzinho entre os convocados para os Jogos Pan-Americanos de Toronto. No entanto, o armador foi chamado pelo Utah Jazz, abandonou os treinamentos em São Paulo e viajou a Salt Lake City para assinar contrato – ele havia sido draftado em 2013 e desde então aguardava uma oportunidade concreta na NBA.

“Não esperava que isso aconteceria agora. Tinha acabado a temporada na Espanha [8,9 pontos e quatro assistências por jogo no Murcia] e meus agentes falaram que não tinha nada de NBA. Não sei por quais motivos eles não quiseram [contratar] um armador e acabaram me trazendo”, contou Raulzinho em entrevista exclusiva ao UOL Esporte.

No Utah Jazz, a primeira descoberta do brasileiro foi a questão física: “Na Europa eu era um armador que se sobressaía fisicamente, mas agora eu sou mais um. Sempre tem outro mais forte. Com certeza eu vou ganhar força física e peso aqui. Eles trabalham mais isso. O jogo é mais físico e corrido, e agora eu tenho de me acostumar”.

A estreia de Raulzinho no Utah Jazz aconteceu na pré-temporada, em uma partida contra o Los Angeles Lakers. Em 20 minutos na quadra, o brasileiro distribuiu seis assistências e conseguiu quatro roubos de bola. A partida marcou o retorno às quadras do astro Kobe Bryant, que havia ficado mais de oito meses no departamento médico.

“Estrear na NBA era um sonho. Contra o Lakers e o Kobe, então, foi mais especial ainda. Fiz de tudo para que isso não me atrapalhasse e para poder focar no jogo, mas foi muito especial”, avaliou Raulzinho.

A pré-temporada tem consolidado o espaço de Raulzinho na rotação do Jazz. Ele tem revezado com Trey Burke e conseguido muitos minutos na quadra – Dante Exum, provável titular da armação, está machucado. Na vitória por 98 a 78 sobre o Denver Nuggets, no dia 22 de outubro, o brasileiro foi titular. A NBA 2015/2016 tem início marcado para esta terça-feira (27), e a franquia de Utah estreia no dia seguinte, em Detroit, contra os Pistons.

“Temos um time jovem, que vai evoluir e crescer. Não podemos falar que vamos brigar por título e não temos essa pressão. Nosso objetivo é melhorar e entrosar os atletas, que são muito novos”, disse o brasileiro.

Nesse processo de construção da equipe, Raulzinho acha que pode compensar o espaço perdido na seleção brasileira durante os Jogos Pan-Americanos. Sem ele, o time nacional saiu de Toronto com a medalha de ouro.

“Não tenho medo de perder espaço. De jeito nenhum. Pelo contrário: por estar aqui, pela experiência, pelo tanto que eu vou melhorar, nenhum jogador vai ter isso. Estava com muita vontade de ir a esse Pan, mas não posso dizer que fiquei triste. Foi uma coisa muito boa na minha vida”, contou Raulzinho.

O armador chegou a conversar com Magnano antes de deixar a seleção para viajar aos Estados Unidos. E o treinador argentino, segundo ele, não o criticou pela decisão: “Ele foi compreensivo e entendeu. Sabia que era uma oportunidade única e que se não fosse agora eu talvez não tivesse mais essa chance. Não era algo que estava sob meu controle. Eu não podia pedir ao Jazz para me apresentar mais tarde ou assinar mais tarde, e ele aceitou bem. Ficou até feliz”.

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