Jade assume papel de 'tia', e adolescentes são os novos pilares da seleção
Tudo começou com Daniele Hypolito em 2000. Depois vieram Daiane dos Santos, Lais Silva e Jade Barbosa. Agora, a seleção brasileira feminina de ginástica artística tem uma nova cara e vê duas novatas adolescentes assumirem o protagonismo: Flávia Saraiva e Lorrane Oliveira.
Com 16 e 17 anos, respectivamente, as adolescentes foram os grandes destaques do Brasil nas eliminatórias do Mundial de ginástica em Glasgow, na sexta-feira. Embora a fase classificatória continue neste sábado, as notas de ambas (55,798 e 56,365 pontos) praticamente as garantem na final individual geral, a ser realizada na próxima quinta.
Jade e Daniele ainda têm papel fundamental. Além de contribuírem para as notas da equipe, são responsáveis por controlar os ânimos e dar força à ‘garotada’, que conta ainda com Leticia Costa (mais experiente, de 20 anos), Thauany Araújo (16) e a reserva Lorena Rocha (16). Isso sem contar Milena Theodoro (16), Rebeca Andrade (16) e Julie Kim (17), que também integram a seleção e não estão em Glasgow por problemas de lesão.
“E eu não fiz quase competição nenhuma nos quatro aparelhos nos últimos três anos, justamente por causa dessas lesões que eu tive. Fiquei muito nervosa nessa situação de manter a concentração na competição toda com uma equipe em volta. Porque eu não estou mais naquela situação em que eu era a Flávia, né, que vinha a Dai, a Dani, a Lais ‘pô, cara, vamos’. Agora, eu e a Dani que temos que fazer isso. Então mesmo errando eu tenho que manter em pé ‘vamo, cara, vamo’”, comentou Jade, que era quem mais incentivava as colegas com gritos de apoio durante a competição de sexta.
“A gente tem meninas novas vindo com todo gás. A Rebeca nesse Mundial ia varrer tudo. Você vê a Flávia. Ela é uma menina talentosa, desse tamanhinho, que fechou uma competição desse nível. Nós temos meninas muito boas aqui, como teve há muitos e muitos anos. A gente melhorou como equipe e isso é muito importante para um país, não viver de talentos. A equipe está melhor como um todo, está mais consistente”, completou a carioca, que fez boas apresentações na trave e no salto, mas foi mal nas barras.
Daniele Hypolito, que é uma das ginastas mais velhas da competição com 30 anos, ainda tem uma atenção especial com atletas de outras seleções. Durante os treinos, o UOL Esporte acompanhou o cuidado da veterana com outras colegas, dando conselhos e corrigindo erros.
“Uma coisa é estar com o grupo todo. Você sabe que vai estar ali no aparelho e vai estar todo mundo gritando ‘vamo, força’. A gente tem isso na nossa equipe, é uma equipe muito unida. E às vezes é ruim estar sozinha assim na competição. Então eu acabo falando porque são anos de ginástica, você consegue ver o erro e a pessoa que está ali com ela acaba não vendo. A gente até pede desculpa depois para o técnico, porque por mais experiência que a gente tenha, o treinador está ali do lado”, explicou.
Enquanto Dani e Jade assumem o papel de ‘tias’, Lorrane e Flávia são os novos pilares do time. Para uma, a sensação é de alívio. Para a outra, tudo parece uma grande diversão.
“Eu estou muito feliz por ter passado por todos os aparelhos sem queda, finalmente ter acertado o solo que eu estava errando bastante e ser a melhor do Brasil no individual geral. Acho que minha hora chegou, e ainda bem que foi num Mundial”, comemorou Lorrane, nitidamente aliviada por ter passado com séries limpas durante as eliminatórias.
A carioca é uma das apostas dos treinadores do Brasil, sobretudo da coordenadora Georgette Vidor, mas vinha se apresentando mal em grandes competições, mesmo sendo uma das melhores durante os treinamentos.
“Eu realmente antes de todas as competições, até do Pan-Americano, treinava super bem, mas não controlava muito o meu nervosismo. Até porque ano passado eu fiquei parada e me desestabilizei, não estava em forma ainda de competição”, explicou. “Eu tenho os meus treinadores, Oleg e Irina, que nunca desistiram de mim, sempre confiam em mim, e acho que é isso que conta”.
Flávia, por sua vez, entra para as provas como se descesse para o playground. “Ai, foi muito legal [a entrada na arena], eu fiquei muito ansiosa. Pensei ‘meu Deus, eu já vou entrar’”, contou a pequenina com voz de criança. A ansiedade, porém, ficou escondida. Flavinha, como já é chamada, foi responsável por fechar a apresentação do Brasil no solo e na trave, justamente seus melhores aparelhos. E por coincidência, nos dois eventos, estava sozinha no tablado, porque as ginastas dos outros aparelhos já haviam se apresentado.
“Todo mundo já tinha acabado e só estava eu no ginásio, igual no solo. Mas eu nem presto muita atenção, porque eu fico muito concentrada. A gente nem consegue ver direito”, disse Flávia, que depois saiu saltitante pela zona mista de jornalistas. Tinha fôlego para mais duas horas de competição.