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Mundial de atletismo que começa sexta vale até para afirmação de Bolt

Paul Gilham/Getty Images
Usain Bolt não atravessa boa fase e pode chegar questionado aos jogos olímpicos imagem: Paul Gilham/Getty Images

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

A fase de Usain Bolt, o maior nome do atletismo mundial nos últimos anos, não é das melhores. Hoje, o recordista mundial dos 100m e 200m livre é apenas o sexto do ranking mundial na prova mais curta, superado (entre outros) por arquirrivais como Justin Gatlin e Asafa Powell. Mas será que a má fase já é um sinal de que o reinado do jamaicano vai acabar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no ano que vem?

Uma resposta para essa pergunta será dada no Mundial de Atletismo de Pequim, que começa na noite de sexta-feira, na China. Bolt, é claro, é a principal atração do torneio. Mas não é o único, tampouco está sozinho em sua busca por afirmação no mítico estádio Ninho do Pássaro: o evento chinês é a última chance para uma série astros da modalidade mostrarem como estão para o Rio 2016.
 
1 - Bolt pode dar a volta por cima?
 
Olhe a lista de melhores tempos dos 100m rasos em 2015 até agora. Não é o que um fã desavisado do esporte esperaria. O primeiro é o norte-americano Justin Gatlin, com 9s74 – ele ainda é dono dos outros três melhores tempos do mundo, com dois 9s75 e um 9s78. O segundo, Asafa Powell, com 9s81. Antes de Usain Bolt, com 9s87, ainda aparecem Trayvon Brommel (9s84), Keston Bledman (9s86) e Jimmy Vicaut (9s86) – Tyson Gay tem os mesmos 9s87 do recordista mundial.
 
A “lentidão” é fruto de problemas físicos de Bolt, que começaram ainda no ano passado, quando ele disputou apenas três competições. Neste ano, não foi muito diferente. Os 9s87 foram marcados na etapa de Londres da Liga de Diamante – antes, seu melhor tempo no ano eram os 10s12 do evento-show que fez no Rio de Janeiro, em pista provisória montada no Jockey Clube, no Rio de Janeiro. Em 2015, ele tem reclamado de problemas no quadril, que aumentam a pressão no joelho esquerdo e tiram velocidade. Foram essas lesões que o tiraram, por exemplo, de competições na França e na Suíça nos últimos meses.
 
2 - Como Fabiana Murer vai encarar sua volta a Pequim?
 
O ano de 2008 é um marco na vida de Fabiana Murer. Na disputa dos Jogos Olímpicos de Pequim, Murer se preparava para tentar um salto quando percebeu que uma de suas varas tinha sumido. A organização chinesa perdeu o equipamento da brasileira que, desestabilizada pelo fato, falhou em sua tentativa de ir ao pódio olímpico. “Nunca mais volto à China”, disse. Mas, como o esporte vive de ciclos, a brasileira ficou sete anos longe, mas está, mais uma vez, competindo em solo chinês…. Ela garante que a frase foi dita no calor da competição. Mas quando ela entrar no Ninho de Pássaro, certamente vai se lembrar da noite de 18 de agosto.
 
Além da memória, ela ainda tem de encarar um grupo de competidoras mais forte a cada ano. Fabiana chega em Pequim como a quarta do ranking, com 4,80m. A sua frente estão a campeã olímpica Jennifer Suhr (4,82m), a grega Nikoleta Kyriakopoulou (4,83m) e a cubana Yarisley Silva. A última, com um salto de 4,91m, que a torna a terceira melhor atleta da prova na história – só Yelena Isimbaieva (5,06m) e Suhr (4,92m) já saltaram mais alto.
 
3 - Tiago Brás é candidato a medalha em 2016?
 
Quando a temporada começou, o recorde pessoal de Tiago Brás era 5,83m. Hoje, ele é o quarto do mundo no ano, com 5,92m e chega como um dos candidatos a uma medalha no Mundial de Pequim do salto com vara. Mas será que isso o coloca como candidato a um pódio, também, nos Jogos Olímpicos de 2016? Para isso, o brasileiro precisará mostrar resultados em grandes torneios. A competição no Ninho do Pássaro serve para isso – já que ele falhou na primeira oportunidade: ele chegou ao Pan de Toronto como um dos candidatos ao ouro, mas saiu da prova sem resultado: derrubou a barra em todas as suas tentativas…. A concorrência, porém, deve ser grande. Os três primeiros do ranking mundial estão confirmados em Pequim: Renaud Lavillene (6,05m), Raphael Holzdeppe (5,94m) e Shawnacy Barber (5,93m).
 
4 - Os revezamentos brasileiros podem surpreender?
 
Quem viu os Jogos Pan-Americanos de Toronto comprovou que os velocistas brasileiros crescem nos revezamentos. O 4x100m masculino foi ao pódio mesmo depois de performances ruins nas provas individuais. Já o 4x100m feminino terminou em quarto lugar, com Rosângela Santos voando nos metros finais e quase beliscando uma medalha, mesmo depois que o time perdeu Ana Cláudia Lemos, por lesão.
 
Em Pequim, o desafio é mostrar que os times podem, sim, estar entre os oito melhores do mundo, mesmo correndo contra a elite mundial. Jamaica e EUA são favoritos ao ouro, mas existem muitos concorrentes ao pódio. No masculino, Antígua e Barbuda, Japão, Grã-Bretanha, Trinidad e Tobago, Canadá, França, Alemanha e Barbados tem tempos melhores que o time brasileiro. No feminino, o Brasil está atrás de Ucrânia, Holanda, Grã-Bretanha, Canadá e Trinidad e Tobago.
 
5 - O recorde mundial do salto triplo cai em Pequim?
 
No dia 7 de agosto, o salto de 18,29m do inglês Jonathan Edwards completou 20 anos. O recorde mundial do salto triplo é um dos mitos do atletismo atual. A marca é tão boa que, entre 1995 e 2013, ninguém superou os 18 metros – que o diga ameaçar o recorde…. Nos últimos dois anos, porém, apareceram três atletas em busca da marca (e superaram os 18m): o francês Teddy Tamgho, o norte-americano Christian Taylor e o cubano Pedro Pichardo. 
 
Os dois últimos estão em uma disputa particular. Até 2015, Edwards era o único da história a saltar 18m duas vezes em uma temporada. Pichardo e Taylor já o igualaram neste ano, antes mesmo de disputar a principal competição do período. Há quem aposte que um dos dois vai quebrar o recorde na China. Mesmo se não acontecer, um terceiro salto de 18m em 2015 já será um impulso e tanto para os Jogos de 2016.
 
6 - Quem é o cara do atletismo nos EUA?
 
Para completar, o Mundial de Pequim também marca a busca por uma cara no atletismo dos EUA. O time mais forte do esporte no planeta está sem um representante carismático nas provas de velocidade, que normalmente são seu carro-chefe. Justin Gatlin e Tyson Gay estão entre os mais rápidos do ano, mas ficam em segundo plano por causa dos casos de doping – ambos retornam de suspensões.
 
Com isso, o pentatleta Ashton Eaton, campeão olímpico e bi mundial, compete pelo estrelato com o destaque do time feminino, Allyson Felix, a maior atleta da história dos Campeonatos Mundiais da Iaaf, com oito medalhas de ouro no total – tricampeã mundial e atual ouro olímpico nos 200m, porém, ela deve fazer a transição, em Pequim, para os 400m.

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