Vila do Pan-2007 sofre com crateras e consome R$ 71 milhões em reformas
Faltam exatamente 440 dias para o início da Olimpíada de 2016, e a Prefeitura do Rio intensifica dia a dia a preparação da cidade para o evento. A mesma prefeitura, porém, ainda não conseguiu concluir de forma satisfatória todas as obras que executou há oito anos para os Jogos Pan-Americanos.
Neste mês, o município iniciou mais um projeto de conserto de uma construção realizada para o evento de 2007. O reparo, agora, será na Vila do Pan: conjunto de apartamentos que abrigou atletas durantes os jogos e, depois, virou um problemático condomínio residencial nas proximidades de onde está sendo construído o Parque Olímpico da Rio-2016.
Erguida por R$ 230 milhões e com amplo financiamento público --R$ 189 milhões da Caixa--, a Vila do Pan tem 17 prédios e 1.480 apartamentos. Chegou a abrigar 5.500 esportistas de 42 países em 2007. Desde de que foi liberada a moradores, porém, sofre com constantes problemas de instabilidade em seu solo. Isso causa buracos, rachaduras e afundamentos de terreno de até 2,5 metros.
Circular pelo bairro, de carro ou a pé, é um desafio. Vias estão interditadas para passagem de veículos por causa dos problemas. As calçadas são desniveladas e, portanto, perigosas para crianças ou idosos.
Ciente disso, a prefeitura vai empregar R$ 62 milhões em novos reforços e estacas para estabilização do solo. Esse, aliás, é o terceiro projeto de conserto da vila desde 2011. Somadas todas as intervenções, só o município terá aplicado R$ 71 milhões para reparos no local, o que ainda não é suficiente para resgatar a confiança dos moradores.
Vivendo entre buracos
“A vida aqui é problema, problema e problema”, afirmou o aposentado José Monteiro, 65 anos, morador da Vila do Pan desde 2008. “Já fizeram duas obras aqui, mas nenhuma ficou boa. Agora, estão começando uma outra. Vamos ver se desta vez é para valer. A verdade é o que o terreno aqui é muito ruim.”
Segundo Monteiro, o local escolhido para a construção da vila era um pântano. Precisaria ter recebido um tratamento especial antes de ter recebido prédios e ruas. Isso, ele conta, não foi feito. O resultado está exposto para quem quiser ver.
“A grade daquele prédio caiu, a rua de trás está toda esburacada e a garagem de um dos prédios está interditada”, disse Monteiro, apontando os problemas no condomínio. “Pelo menos, não há risco para os apartamentos.”
A vendedora Milene Pascoal Jelmayer, de 32 anos, mora na Vila do Pan há três anos e não está tão certa sobre a segurança dos imóveis. “Por enquanto, está tudo bem, mas a agente fica assustado. Sempre estou atenta”, afirmou.
Para ela, as condições de vida na Vila do Pan são “horríveis”. Por isso, ela espera que a nova obra iniciada pela prefeitura seja efetiva.
Paes reconhece problemas
O próprio prefeito Eduardo Paes reconheceu em abril os problemas na Vila do Pan. Ele visitou o condomínio e pediu desculpas a moradores pelos transtornos e pela desvalorização dos imóveis. “Certamente cabe ação porque todo mundo teve uma desvalorização. Até que esse estigma se cesse --e vai cessar com as obras que a gente vai fazer--, é uma desvalorização imobiliária muito grande no patrimônio das pessoas”, disse ele.
Na visita, Paes afirmou que o projeto da Vila do Pan foi mal executado. Sua construção ocorreu durante o mandato do então prefeito César Maia.
Vale lembrar que pelo menos duas outras construções do Pan já apresentaram falhas graves em sua construção. O Engenhão ficou fechado quase um ano por problemas em sua cobertura. Paes afirmou nesta semana que o município está construindo uma nova piscina de aquecimento para o Parque Aquático Maria Lenk, na Barra, porque a do Pan “desmontou” por falta de estacas.