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Armênio teve corte ?Cascão? do Ronaldo. Hoje quer ser brasileiro na Rio-16

Maurício Dehò

Do UOL, em São Paulo

Você poderia imaginar que aquele corte de cabelo estilo Cascão de Ronaldo, na Copa de 2002, só foi imitado por criancinhas brasileiras – de tão feio que era, convenhamos. Mas imagine só que um rapaz nascido na Armênia e morando no país europeu, também aderiu à moda. O mais curioso é que Eduard Soghomonyan, então com 12 anos, não podia sonhar com o que aconteceria mais de uma década depois: hoje, ele mora no Brasil e, mais do que ser um apaixonado por futebol e a cultura locais, luta com unhas e dentes para lutar com as cores do país nos Jogos do Rio-2016.

Quando era garoto e viveu dias de guerra e um pós-conflito muito duro na Armênia, Eduard era um garoto que usava o futebol para se desligar dessa realidade. Foi em outro esporte que ele acabou encontrando uma carreira: a luta olímpica, uma das modalidades mais populares e fortes de seu país. Alguns acasos o trouxeram ao Brasil, que, interessado em melhorar suas chances de medalha nas Olimpíadas, vem investindo para que ele possa competir de verde-amarelo.

“Eu nasci em 1990, época em que acabou a União Soviética e começou uma disputa grande de poder. Nasci no meio disso. Tinha época que não havia comida, eu corria para procurar em outras casas... Foi uma época bem difícil, sofri muito. Depois da guerra também, não havia trabalho, não havia roupas, era complicado viver”, conta o especialista na luta greco-romanda.

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Assim, era preciso ter distrações. O esporte demorou, mas, com o país se recuperando, tornou-se uma opção.

“Eu cresci na rua, jogava futebol todos os dias”, conta ele. Um bebezão de 5 kg, Eduard sempre foi mais corpulento que os companheiros. “Um dia, um amigo chegou e falou: ‘você está muito forte, vamos fazer luta’. Eu fui, e foi assim que começou. Ele parou, mas eu continuei, crescendo dia a dia, ganhando campeonatos...”

A competição na Armênia é forte, e uma lesão acabou atrasando a carreira do lutador, que bateu na trave em Mundiais e foi quinto em 2010. Na recuperação, um amigo convidou Eduard para conhecer o Brasil. E ele aceitou, numa viagem que redefiniria sua vida.

Um parênteses é necessário. Eduard sempre foi apaixonado pelo Brasil, como se viu na Copa de 2002. “Sempre assistíamos à Copa. Na rua, o pessoal sempre fazia peladas Brasil x França. O que mais posso falar? Eu até cortei o cabelo igual ao do Ronaldo (risos)! Até hoje me perguntam se já o conheci aqui no Brasil.”

Outra conexão surgiu nos Jogos Pan-Armênios. Chamado para trabalhar de segurança no evento, ele conheceu um brasileiro do jiu-jítsu. Foi ele quem fez aquele tal convite para conhecer São Paulo e Rio de Janeiro.

Divulgação/CBLA
Eduard Soghomonyan é armênio e tenta lutar pelo Brasil para ir às Olimpíadas imagem: Divulgação/CBLA

“Cheguei para treinar, conhecer o MMA, passear. E gostei muito. Pensei: ‘por que não tentar ganhar uma medalha pelo Brasil?' As pessoas acreditaram em mim, viram meus resultados e comecei a tentar lutar pelo país”, explica.

Eduard viajou para ficar um ou dois meses no Brasil, e pouco depois decidiu que não voltaria. Passou por São Paulo e Rio, treinou e acabou se instalando na capital paulista. Um amigo é quem lhe abriu as portas, ajudando a bancar sua estada e hospedando o armênio. Até hoje ele vive com apoios como esse, já que não pode receber Bolsa Atleta e as premiações não vem a todo momento. O lutador também dá aulas, forma como complementa a renda.

O que falta para ser brasileiro?

Com ajuda da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA), Eduard vem lutando para conseguir representar o Brasil. No momento, ele não pode competir em Mundiais e Olimpíadas, já que o “passaporte esportivo” com que compete não dá liberdade a participar de todas as competições.

Arquivo Pessoal
Foto com a namorada mostra o quão gigante é o peso pesado Eduard Soghomonyan imagem: Arquivo Pessoal

Eduard luta para conseguir naturalização, para que possa ter um passaporte brasileiro. O passaporte esportivo, bancado pela confederação (ao custo de cerca de R$ 17 mil) ainda é pouco para que possa cumprir o sonho, mas já permitiu que vencesse competições pelo Brasil, como um torneio em Cuba, um dos países tradicionais da luta olímpica.

“Agora, vou tentar entrar com um pedido como atleta. Vi que pessoas podem tentar a naturalização por conquistarem coisas pelo país e quererem representar o Brasil. Então vou correr para tentar lutar o Pan-Americano e as Olimpíadas”, detalhou.

Enquanto isso, os treinos seguem, e Eduard se mostra empolgado. “A luta olímpica está cada ano mais forte no Brasil, acredito que nossos atletas vão conseguir vagas e bons resultados”, concluiu o gigante de 120 kg e 1,90 m.

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