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10 países em um ano. Tem atleta cansado disso, mas fará por Rio-2016

Daniel Brito/UOL
Yane Marques, agachada no centro, visitou centro hípico em Recife, durante folga imagem: Daniel Brito/UOL

Daniel Brito

Do UOL, em Recife

A pernambucana Yane Marques deixou salvo no celular um calendário de 2015 todo marcado com diversas cores. Para cada uma delas, um evento programado: treinamento, viagens, competições, folga. Os dias de descanso são representados pelos espaços em branco no calendário. Mas esta é a cor que menos tem no cronograma desta medalhista de bronze do pentatlo moderno nos Jogos de Londres-2012.

Foi em um dia em branco do calendário que Yane recebeu o UOL Esporte em Recife. Ela visitava um centro hípico na zona sul da capital pernambucana após duas semanas de treinamento de Curitiba e, 36 horas mais tarde, embarcou para os Estados Unidos, para mais três semanas de exercícios e competição. Nesta terça-feira, 17, ela inicia a disputa da primeira etapa da Copa do Mundo, em Sarasota, na Flórida.

Este já o segundo país que Yane “visita” nestes primeiros 50 dias de 2015. Se tudo der certo, daqui até 31 de dezembro, ela vai ter coletado 10 carimbos em seu passaporte. E os destinos são os mais diversos: Egito, Itália, Belarus, Alemanha, Cazaquistão, Canadá, Inglaterra, Coreia do Sul, Irlanda, além dos Estados Unidos.

“Visitar, não. Treinar e competir, só isso que a gente faz quando está lá fora. Não dá tempo para conhecer nada”, explicou a pentatleta. “Pessoal acha que é a maior maravilha do mundo viajar. Mas chega uma hora que cansa demais, às vezes você só quer ficar em casa.”

O roteiro é praticamente uma obrigatoriedade para quem, como ela, pretende chegar aos Jogos do Rio, no próximo ano, com chances de repetir a façanha de Londres. Jamais o Brasil havia figurado entre os três primeiros nesta modalidade em uma edição dos Jogos. “Faz parte, tem que ser assim, se não for assim, não chego lá. Eu brinco dizendo que assinei um contrato e agora vou ter que cumprir. O contrato é: até 2016 eu não preciso viver, só treinar e competir. Por isso que até 2016 eu quero viver muito, muito isso tudo”, planejou.

Tantas viagens estão mudando até datas importantes no calendário da família Marques. Yane contou que o aniversário de 60 anos da mãe terá de ser adiado para que ela possa participar, entre uma competição e outra. “Estamos esquematizando para que eu esteja nesta festa. Minha mãe faz 60 anos em 24 de junho. Talvez a gente organize a festa no final de julho, após o Pan de Toronto”, disse, citando a competição em que já acumula um ouro (Rio-2007) e uma prata (Guadalajara-2011), que se encerra em 26 de julho.

Yane se ressente até hoje por ter faltado a um dos eventos mais importantes da família Marques. Em 2012, a dois meses para os Jogos de Londres, seus avós celebraram bodas de diamante pelos 60 anos de união. Ela não estava.

“Só duas pessoas da família não foram: eu, que estava treinando para Londres, e minha prima, que entrou em trabalho de parto no mesmo dia. Pelo menos, gravei um vídeo e mandei para eles”, lembrou. “Acho que foi a última chance que tive na vida de participar de um evento desses [bodas de diamante], vai ser difícil achar algum casal completando 60 anos de casado hoje em dia”, brincou.

A rotina de treinos de Yane é puxada. Ela só tem folga aos domingos. Por três vezes na semana, dedica-se à natação, a esgrima toma de três a cinco dias da semana. A parte de equitação toma dois dias, o tiro é uma vez separado e outras três acompanhado da corrida. E de segunda a sábado ela tem por obrigação desenvolver a corrida. “É a pior parte para mim”, apontou.

A pernambucana diz sofrer muito na corrida, que é a modalidade que encerra o programa de cinco modalidades do pentatlo. Ou seja, o atleta já está esgotado e ainda precisa vencer 3,2 quilômetros para completar a prova. “Imagina aquele trote de final de tarde, quando você já está cansado, e quer parar? Então é ali que eu preciso dar o máximo para chegar bem. É doloroso demais”, contou.

Para sorte de Yane, essa rotina só deve ir até o próximo ano. Quando ela pretende se dedicar a dar aulas de esgrima em Recife, perto da família e dos amigos. “Não imagino que vou conseguir aguentar outros quatro anos nessa rotina”, previu a pentatleta. 

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