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Sediar uma Olimpíada deixou de ser um sonho para muita gente. Entenda

Alan Marques/ Folhapress
Dilma recebe presidente do COI, Thomas Bach, defensor de mudanças na Olimpíada imagem: Alan Marques/ Folhapress

Vinicius Konchinski

Do UOL, no Rio de Janeiro

O futuro da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos está em xeque. Suspeitas de corrupção, exigências bilionárias e dúvidas sobre legado têm feito governos repensarem se vale mesmo a pena sediar uma edição dos maiores eventos esportivos do planeta. Alguns lugares do mundo, aliás, já decidiram que não vale. E essa resistência contra a Copa e a Olimpíada acabou criando uma crise: a crise dos megaeventos esportivos.

O fenômeno ganhou força nos últimos anos, depois de três cidades desistirem de disputar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 e de uma série de manifestações populares contra Copa tomarem as ruas do Brasil durante a Copa das Confederações, em junho de 2013

Meses antes dos protestos, em março, os suíços rejeitaram em um referendo a candidatura de Saint Moritz e Davos à sede dos Jogos de Inverno de 2022. Já em novembro, a população de Munique, na Alemanha, decidiu também em votação que a cidade não deveria se candidatar para receber o mesmo evento.

Já neste ano, foi a vez de Oslo também retirar sua candidatura para sede dos Jogos de 2022. E todas essas desistências, aliadas às suspeitas envolvendo a escolha do Qatar como sede da Copa do Mundo e aos questionamentos sobre os legados dos eventos esportivos, fizeram o COI (Comitê Olímpico Internacional) e a Fifa a se movimentar.

“O que ocorreu Jogos Olímpicos de Inverno foi emblemático”, afirmou Pedro Trengrouse, professor visitante da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e consultor da ONU (Organização das Nações Unidas) para a Copa do Mundo. “As desistências acenderam um alerta nas organizações esportivas para que a crise não chegue nos eventos de primeira linha como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de Verão.”

O COI, por exemplo, intensificou um processo de reforma dos Jogos Olímpicos iniciado pelo seu novo presidente, o alemão Thomas Bach. A chamada Agenda 2020 visa a repensar os eventos olímpicos, flexibilizar o programa de modalidades e até alterar o processo de candidatura de cidades à sede da Olimpíada.

Essa reforma foi aprovada no final de outubro pelo Comitê Executivo do COI. Em dezembro, a Assembleia da entidade vai avaliar o tema. Uma das propostas já aprovadas pelo comitê executivo é a que muda o processo de candidatura de cidades à sede da Olimpíada de Inverno e Verão, possibilitando assim a redução de custos da realização dos eventos.

Os últimos Jogos de Inverno, realizados em Sochi, na Rússia, custaram cerca de R$ 125 bilhões (US$ 50 bilhões). Já a Olimpíada do Rio, que começa daqui a dois anos, está orçada atualmente em cerca de R$ 37 bilhões.

Já na Fifa, organizadora da Copa, a redução de custos dos eventos e o apoio popular também entraram em pauta. Logo após o fim da Copa do Mundo do Brasil, o presidente da entidade máxima do futebol, Joseph Blatter, afirmou que considerava reduzir o número de sedes do Mundial da Rússia para baratear o torneio. A ideia foi rejeitada pelos russos.

Meses antes, depois da Copa das Confederações, o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, disse que vai trabalhar para que a entidade passe a exigir uma aprovação popular dos países que desejam ser sede do Mundial. Isso reduziria a chance de protestos contra o torneio, como os ocorridos no Brasil.

“A imagem da Fifa está arranhada por todos os protestos e suspeitas de corrupção”, disse o professor universitário e membro do Comitê Popular da Copa no Rio, Orlando Alves dos Santos Júnior. “O discurso de mudança faz parte de uma tentativa de melhorar essa situação. Eu ressalto só que não acredito que muita coisa vá mudar quando o assunto é Copa.”

Dos Santos considera, sim, que é preciso repensar a realização dos megaeventos esportivos. Não acredita, porém, que existe um risco de eles pararem de serem promovidos. Trengrouse, da ONU e de Harvard, também não vê um risco imediato. Mas alerta: “Acho que se não houver cuidados, a evolução tecnológica e a mudança de hábitos sociais podem comprometer a viabilidade econômica dos grandes eventos esportivos da forma que são hoje”, afirmou.

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