Em quatro histórias, veja como ser mãe afeta a elite do esporte brasileiro
O sonho de ser mãe está sempre lá, na cabeça de toda a mulher. As atletas não são diferentes. O problema é que esse assunto é delicadíssimo para quem chega ao alto nível. Quer entender a complexidade disso? Pergunte a uma campeã em meio de carreira, que nunca teve filhos, qual a sua opinião sobre a maternidade. Provavelmente, as respostas não serão tão objetivas. Nada de sim ou não. Você vai receber resposta como “É preciso analisar o melhor momento”, “Talvez no próximo ciclo olímpico”.
O UOL Esporte reuniu quatro histórias de brasileiras campeãs que estão, neste momento, lidando com essa questão. Uma programou o nascimento da filha para o início do ciclo olímpico. Outra engravidou sem pensar muito. A terceira tentou, mas não conseguiu realizar o sonho. A quarta ainda não sabe muito bem o que pensar de tudo isso...
Gravidez planejada na vela
Fernanda Oliveira tem 33 anos e uma filha de dez meses. Ele é um dos principais nomes da vela brasileira, com quatro Olimpíadas na bagagem e a medalha de bronze dos Jogos de Pequim-2008, a primeira da vela feminina nacional. A decisão de engravidar veio após o Jogos de Londres-2012. Pouco mais de um ano depois, Roberta nasceu.
“Com o término dos Jogos de Londres, e o novo ciclo para os Jogos no Brasil iniciando, achei que era o melhor momento para engravidar, mesmo sabendo que nossa dupla estava no ápice. Em 2013, vencemos seis das sete competições que participamos e ficamos no top 10 do ranking Mundial. Para não perder esse bom momento, velejei o máximo que consegui”, conta a atleta.
No total, ela e a parceira, Ana Barbachan, ficaram apenas nove meses afastadas das competições. Isso foi possível porque Fernanda velejou até os cinco meses. “No começo, senti os enjoos, mas pararam com três meses. E também treinei até os oito meses. Por isso, a volta foi bem rápida”.
Apenas dois meses após dar à luz, Fernanda voltou a treinar. O primeiro campeonato veio um mês depois. “Ela viajou comigo com três meses. Desde que voltei às competições, ela já foi cinco vezes para a Europa e duas vezes para treinos no Rio. Não cogito a possibilidade de viajar sem a pequena”.
Os resultados de Fernanda e Ana não foram prejudicados pelo período longe do barco. Em cinco regatas disputadas em 2014, só ficaram fora dos dez primeiros uma vez, no Mundial de Santander, na Espanha. Além disso, estão em sexto lugar no ranking mundial.
Volta em alta após um ano fora do vôlei
Jaqueline é uma jogadora de vôlei acostumada a ficar parada. Ela já enfrentou lesões sérias nos joelhos e na coluna e uma suspensão por doping. A mais recente pausa foi pela maternidade. Nos últimos meses, estava sem clube, cuidando do filho que teve com o também jogador de vôlei Murilo. Arthur também nasceu em dezembro.
“Não foi programado. Aconteceu. É claro que eu queria muito”, fala a jogadora. A gravidez pode não ter sido planejada, mas a volta às competições foi. Sabendo o que é necessário fazer para, quando pudesse voltar a jogar, voltar bem, Jaqueline não ficou parada. “Operei meu joelho três vezes. Eu sei que ele não funcionaria se eu ficasse parada. Tinha de fazer meu reforço, musculação, hidroginástica. Tudo que eu podia fazer moderadamente eu fiz”.
Hoje, ela está com a seleção brasileira que disputa o Mundial da Itália. O Brasil é favorito para a conquista do ouro, que seria inédita. Mesmo sem programação, Jaqueline ficou grávida no período perfeito: depois do ouro olímpico em Londres e antes do Mundial, que dá início ao novo ciclo olímpico.
Gestações perdidas e volta em alta ao vôlei de praia
Larissa, medalhista olímpica do vôlei de praia, não teve a mesma sorte. E a história é bem mais triste. Em dezembro de 2012, ela anunciou sua aposentadoria. Até julho deste ano, Larissa, casada com a também jogadora Lili, esqueceu-se completamente do vôlei. Seu grande objetivo era ser mãe. Mas não teve sucesso em duas tentativas. Na primeira, a gestação de gêmeos chegou até a décima semana. Na segunda, perdeu o filho após oito semanas. Em ambos casos, fez inseminação artificial.
“Vivi intensamente esse período, esqueci o vôlei, foi muito bom. Fiz a escolha de me casar e engravidar. Perdi duas gestações. Talvez, Deus não quisesse que eu tivesse filho agora. Perder a primeira gestação foi horrível, um momento muito difícil, um baque grande. Estava com dez semanas de gravidez e havia grande chance de serem gêmeos. Já tinha pensando em colocar os nomes de Luiz e Maria, os mesmos dos meus pais. Na segunda, perdi com oito semanas, mas estava mais preparada, sabia que não era algo tão simples. Mas ainda não desisti do sonho”, revela.
Ela voltou a jogar há quatro meses, aos 32 anos, com uma nova parceira. No lugar de Juliana, ela agora divide a quadra com Talita. Ganhou três etapas do Circuito Mundial (Klagenfurt, Stare Jablonki e São Paulo) e duas etapas do Circuito Brasileiro. Ostenta, atualmente, 32 partidas de invencibilidade.
Indecisão no salto com vara
Fabiana Murer, campeã mundial do salto com vara, é a única desse grupo de sem filhos. Pelo menos até 2016. Maternidade sempre foi uma questão para ela, mas ficou ainda mais forte nos últimos meses. Maior nome de sua prova, a russa Yelena Isimbaieva se afastou do esporte para ter um filho, que nasceu em julho. Sua volta deve acontecer apenas em 2016, pensando nos Jogos do Rio.
“Eu não sei bem o que pensar sobre isso. É algo que faz parte do que eu penso, mas não para agora. Só vou pensar depois de 2016”, diz a atleta, que admite: “Eu até penso em ser mãe. Quando minha irmã chega com meu sobrinho, por exemplo. Mas é preciso ver como é todo o processo. Eu conversei bastante com a Monika Pirek (também atleta do salto com vara) sobre isso. Ela teve um filho e não deve voltar. Então, você precisa pensar muito bem no momento para tomar essa decisão”.